Infelizmente,
essa pergunta nada tem de retórica. Nos
últimos tempos, o Brasil parece um
cemitério de oportunidades perdidas.
Peço a boa
vontade do leitor. A eleição de Lula, em
2002, dera a impressão a muitos de que o país afinal se encontrara, e que a
escolha do torneiro-mecânico e dirigente sindical que se transformara em líder
partidário introduzia uma nova era na política nacional.
Passados
pouco mais de dez anos, perdura o motivo de regozijo e a generalizada impressão
de que a governabilidade se alargou, e as velhas elites encontram afinal um
novo representante, que trazia um sopro de democracia não mais confinado à
turma do topo ?
Nem o mais
entusiasmado admirador de Lula ousaria responder afirmativamente a tal
pergunta.
Dentre todas
as desilusões que trouxe o avatar de Lula, operário, por fim na presidência da
república, é que este senhor, além das obrigações que incumbem àqueles que
chegam aonde ele chegou, não tinha diante da massa popular que o elegeu o
direito de agir de forma tão decepcionante e tão contrária às esperanças que
motivara. Aquele que ascendera ao Palácio do Planalto como o corifeu da
revolução democrática não tardou muito em transformar-se num arremedo dos
coronelões a que supostamente viera não só suceder, mas aposentar dentro do
novo Brasil.
Na verdade,
apesar de não ter pendor pela leitura,
como declara, se não leu, alguém o terá inteirado das oportunidades que o poder
pelo voto lhe escancarava. Penso, a propósito, na sua continuação através da
chamada mulher do Lula.
Na terra
dos caciques, e vindo do Nordeste, não surpreende que pensasse em governar
através de preposto, como fazem tantos coronéis. No entanto, nesse espaço
político, as coisas lhe sairam mal, porque a sua chefa de gabinete tinha idéias
muito próprias que se provaram desastrosas para a economia brasileira.
Mas
voltemos ao começo. Se Dilma se provou incapaz no plano político, para tal há
punições determinadas. Se os erros foram de gestão, os castigos têm de
necessariamente sê-lo da mesma ordem. Para isso existe o impeachment, e a petição de autoria do Dr. Hélio Bicudo está parada na Câmara por condicionamentos fora da
política. A esperança de muitos é que essa 'montagem' esteja por desmanchar-se,
para que as famosas pedaladas fiscais venham a receber o julgamento e a punição
que fazem por merecer.
Dilma, ao
que tudo indica, deverá receber o 'castigo' que já fez por merecer, por esse
desgoverno, que tem trazido, a par da inflação de dois dígitos, tamanho
desemprego, e tanto retrocesso na esfera econômica.
Por outro
lado, o caso de Luiz Inácio Lula da Silva é bem diverso. A sua eleição, em
2002, foi saudada com grande regozijo e não menor esperança. A grande maioria
de seus eleitores pensava que punha no Palácio do Planalto um verdadeiro líder
na travessia política do Brasil. Alguém que traria mais justiça e equilíbrio
social, alguém que viera da pobreza e que a transcendera, ao superar-lhe as
barreiras sociais. A simbologia sócio-política de sua progressão, de operário a
presidente, parecia aos seus eleitores uma caução de justiça e equidade na
presidência da república.
Por isso
que o desconforto e a desilusão tendem a pesar forte, diante de o que hoje se
sabe, e pior, diante de o que se imagina possa revestir o que poderia ser uma
grande conquista, tanto social, quanto política.
Nesse contexto,
é interessante citar um longo e informativo trecho de reportagem da revista
VEJA. "Nestor Cerveró negocia um acordo de delação premiada há quatro
meses. O Ministério Público resiste a fechá-lo por entender que o
ex-diretor tem pouco a acrescentar às
informações já colhidas pelos investigadores. Assustado com a prisão, o
candidato a delator tem refeito depoimentos, acrescentado dados e ampliado os
limites de sua memória, inicialmente bem seletiva, a fim de convencer as
autoridades a topar a colaboração. Caso
isso ocorra, ele precisa provar o que disse, ou não terá direito à redução de
pena.
"O Ministério Público tem sido rigoroso com Cerveró por
dois motivos. Um deles decorre do entendimento de que alguns operadores e
coadjuvantes do roubo bilionário à Petrobrás têm de ser condenados a penas
exemplares. O outro está relacionado ao fato de o quebra-cabeça do petrolão estar praticamente montado. Já
se sabe que o governo do PT criou o maior esquema de corrupção da história do
país para financiar suas campanhas eleitorais e comprar o apoio de partidos e
parlamentares. Já se sabe que essa engrenagem enriqueceu funcionários da
estatal, lobistas e empresários à custa do contribuinte. Já se sabe que as maiores empreiteiras do
país fizeram favores pessoais a políticos poderosos, como o próprio Lula, que
teve um sítio e um apartamento reformados pela OAS e faturou milhões de reais
dando palestras às mesmas empreiteiras
que desviaram dinheiro da estatal e financiaram clandestinamente sua
campanha eleitoral."
Duas
colunas apresentam, na vertical, o quadro
sinótico da organização criminosa que é investigada pela Operação Lava-Jato. É interessante
examiná-lo: abaixo da misteriosa (?) figura do Chefão, representada por uma sombra, estão quatro figuras no primeiro escalão: João Vaccari (preso), José Dirceu (preso), José
Carlos Bumlai (o Amigo de Lula - investigado), Antonio
Palocci (investigado). Abaixo, em planos sucessivos, Edson
Lobão (investigado) e José Sergio Gabrielli (investigado);
a seguir, a trinca dos corruptos: Renato Duque (preso), Nestor Cerveró
(preso) e Paulo Roberto Costa (preso). Abaixo o quarteto dos corruptores, todos presos: Marcelo Odebrecht, Léo Pinheiro (OAS), Ricardo Pessoa (UTC) e Otavio Azevedo (ex-presidente da
Andrade Gutierrez). Por último, os partidos receptores: PT, PMDB e Partido Progressista (PP)
(a continuar)
( Fonte: VEJA )
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