As eleições de junho na Turquia não
tinham sido conclusivas. Havia a esperança de que os partidos principais - o CHP (partido republicano do povo) e o AKP (partido de justiça e
desenvolvimento) - constituíssem gabinete de coalizão.
Verificada a
impossibilidade de acordo, o AKP,
cujo chefe é o Presidente Recep Tayyip Erdogan, e o CHP, civil-conservador, e
explorando o temor da sociedade turca com a ressurgência do clima dos anos
noventa, com gabinetes sem força, o
Primeiro Ministro Ahmet Davutoglu
convocou novas eleições em um prazo breve.
Para
infelicidade da democracia turca, e valendo-se da situação de insegurança, além
de criar ambiente de confrontação política (para o AKP, os opositores ou são terroristas ou são traidores) tanto o
Presidente Erdogan, quanto o seu Primeiro Ministro Ahmet Davutoglu lograram vitória
esmagadora, com 49,3% dos sufrágios, e uma pétrea maioria de 316
parlamentares.
A sua
estratégia poderá ter resultados nefastos para a democracia turca, se o Presidente Erdogan partir para a
confrontação e persistir no semear o
histerismo e a intolerância.
Dentro desse
ambiente, o Partido Democrático do Povo (HDP), dominado pelos curdos, logrou
superar a barreira legal dos 10%
para manter-se no Parlamento, mas baixou dos 13% que obtivera em junho último.
Dada a confrontação com o AKP,
é de augurar-se que sejam respeitados os direitos civis e políticos da minoria
curda.
Já o CHP,
o principal partido da oposição, civil e laica, tampouco logrou o seu escopo de
voltar ao poder.
Pela violência dos confrontos e a divisão na
prática do país em dois, com uma metade pró-Erdogan e o partido AKP,
de tendência islâmica, contra o CHP, da
oposição laica, é difícil ser otimista quanto às possibilidades democráticas do
partido ora dominante na Turquia.
Já no período
anterior a junho - e que determinara as eleições inconclusivas de meio de ano -
Erdogan endurecera no respectivo autoritarismo, na tendência a cercear a
liberdade de pensamento, criando clima deletério de confrontação.
Teria o
interesse de criar um regime não-parlamentarista, mas presidencialista, o que,
dadas as suas inclinações autoritárias, poderia ter consequências bastante
negativas para a frágil democracia turca.
Dado o clima
instaurado, pouco ou em nada conducente ao diálogo, a orientação de Recep
Erdogan deverá ser acompanhada de muito perto, pois teme-se que vá descambar
para tendência ainda mais confrontatória com a juventude e os curdos (a aviação
militar turca tem bombardeou recentemente núcleos curdos nas vizinhanças da
Turquia).
( Fonte:
The New York Times )
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