terça-feira, 17 de novembro de 2015

Levy - Ser ou não Ser ?


                                 

           Como se sabe, Joaquim Levy é indiretamente uma indicação do ex-presidente Lula.  Fora ele que sugerira Trabuco, do Bradesco, à Presidenta. Não se tendo viabilizado esse nome, Dilma aceitou a alternativa de Joaquim Levy.

           Também é notório, que a principal 'inimiga' do Ministro Levy é a própria Dilma. Como trouxe para o seio de seu governo alguém que se pauta por orientação econômica que é, na prática, o contrário da atuação pró-ativa e desenvolvimentista de Dilma no seu primeiro mandato, compreende-se que passado o primeiro momento tenha sentido dificuldade em adaptar-se a postura que corresponde ao inverso de Dilma-I.

            Não faltam os exemplos. Logo no início da presença de Joaquim Levy no Dilma-II, houve o incidente sobre os critérios de atualização do salário mínimo com o Ministro Nelson Barbosa.

            Este último, pensando que a Presidenta iria adaptar o seu enfoque à visão do novo Ministro da Fazenda, não pestanejou em adaptar a atualização do novo mínimo dentro de critérios mais restritivos. Foi o que bastou para ser convocado por Dilma e receber um puxão de orelhas por ignorar a norma de atualização plena do mínimo, inclusive com o critério de incremento baseado no índice de desenvolvimento.

            Como se verifica, esta foi a primeira mostra de parte da Presidenta de que certas adaptações continuavam para ela inadmissíveis. A pública chamada mostrou a Barbosa que quem continuava a ditar o compasso era Dilma e não Levy.

            Assim, Nelson Barbosa, escarmentado pela humilhação pública, entendeu que a força de Levy não era assim tão grande, e mais do que isso, deveria pautar-se por linha mais conforme às características de Dilma no primeiro mandato. Assim, o Ministro do Planejamento iria dissociar-se de Levy, como no episódio da apresentação de proposta de  orçamento com déficit.

             Nessa oportunidade, Dilma humilhou Joaquim Levy, forçando o envio ao Congresso de proposta orçamentária com déficit. Levy avisou que tal provocaria o rebaixamento da nota do Brasil por agência de classificação de risco.

             Teria sido a melhor ocasião para que o Ministro da Fazenda se exonerasse, mas ele preferiu não fazê-lo.

              Sentido o Ministro enfraquecido, os adversários no PT passaram a reclamar a sua saída, assim como o próprio Lula. Como o ex-presidente esteja combatendo o que decorreu de uma indicação sua, fica um tanto árduo encontrar coerência na nova posição de Lula.

              Alvitra-se, em tal sentido, que Lula deseje povoar o ministério de indicações suas, como Jaques Wagner, na Casa Civil, e Ricardo Berzoini, na coordenação política do governo. Por isso, como lembra R. Noblat, investe contra José Eduardo Cardozo na Justiça, com quem não se dá bem. Quanto ao Ministro da Justiça, a má-vontade também se deve à autonomia que foi dada à Polícia Federal, para investigá-lo, e também a seus filhos. Esquece-se, no entanto, que essa autonomia, foi ele mesmo quem a concedeu, por sugestão do então Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.

              Agora, na reunião do G-20 em Antália, na Turquia,  Dilma voltou a entender-se bem com o seu Ministro da Fazenda. Resultado dessa mudança, foi a declaração da Presidente:

               "Acho extremamente nocivas as especulações para o país, o que me obriga a vir sistematicamente a público para reforçar que Joaquim Levy fica onde está."

               Com isso, Dilma contradisse nova declaração de Lula de que o ministro "tinha prazo de validade" no cargo.

                Aliás se tem assinalado que não há lógica na reivindicação de Lula de colocar Henrique Meirelles - que defende uma posição muito semelhante à do Ministro de Fazenda - no lugar de Levy.  A única diferença talvez é que Meirelles deveria a Lula a sua eventual nova posição.

                Essa perene incerteza quanto à permanência de Joaquim Levy não é boa nem para a Fazenda, nem para a política econômico-financeira do Governo. E ela em última análise se deve à contradição entre a posição da autêntica Dilma, e a defendida por Levy.

                Daí essa precariedade institucional, que declarações podem adiar, mas não apagar.

 

( Fontes:  O  Globo,  Artigo de R. Noblat )

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