Como se sabe, Joaquim Levy é
indiretamente uma indicação do ex-presidente Lula. Fora ele que sugerira Trabuco, do Bradesco, à
Presidenta. Não se tendo viabilizado esse nome, Dilma aceitou a alternativa de
Joaquim Levy.
Também é
notório, que a principal 'inimiga' do Ministro Levy é a própria Dilma. Como
trouxe para o seio de seu governo alguém que se pauta por orientação econômica
que é, na prática, o contrário da atuação pró-ativa e desenvolvimentista de
Dilma no seu primeiro mandato, compreende-se que passado o primeiro momento
tenha sentido dificuldade em adaptar-se a postura que corresponde ao inverso de
Dilma-I.
Não faltam
os exemplos. Logo no início da presença de Joaquim Levy no Dilma-II, houve o
incidente sobre os critérios de atualização do salário mínimo com o Ministro
Nelson Barbosa.
Este
último, pensando que a Presidenta iria adaptar o seu enfoque à visão do novo
Ministro da Fazenda, não pestanejou em adaptar a atualização do novo mínimo
dentro de critérios mais restritivos. Foi o que bastou para ser convocado por
Dilma e receber um puxão de orelhas por ignorar a norma de atualização plena do
mínimo, inclusive com o critério de incremento baseado no índice de
desenvolvimento.
Como se
verifica, esta foi a primeira mostra de parte da Presidenta de que certas
adaptações continuavam para ela inadmissíveis. A pública chamada mostrou a
Barbosa que quem continuava a ditar o compasso era Dilma e não Levy.
Assim,
Nelson Barbosa, escarmentado pela humilhação pública, entendeu que a força de
Levy não era assim tão grande, e mais do que isso, deveria pautar-se por linha
mais conforme às características de Dilma no primeiro mandato. Assim, o
Ministro do Planejamento iria dissociar-se de Levy, como no episódio da
apresentação de proposta de orçamento
com déficit.
Nessa
oportunidade, Dilma humilhou Joaquim Levy, forçando o envio ao Congresso de
proposta orçamentária com déficit. Levy avisou que tal provocaria o
rebaixamento da nota do Brasil por agência de classificação de risco.
Teria
sido a melhor ocasião para que o Ministro da Fazenda se exonerasse, mas ele
preferiu não fazê-lo.
Sentido
o Ministro enfraquecido, os adversários no PT passaram a reclamar a sua saída,
assim como o próprio Lula. Como o ex-presidente esteja combatendo o que
decorreu de uma indicação sua, fica um tanto árduo encontrar coerência na nova
posição de Lula.
Alvitra-se,
em tal sentido, que Lula deseje povoar o ministério de indicações suas, como
Jaques Wagner, na Casa Civil, e Ricardo Berzoini, na coordenação política do
governo. Por isso, como lembra R. Noblat, investe contra José Eduardo Cardozo
na Justiça, com quem não se dá bem. Quanto ao Ministro da Justiça, a má-vontade
também se deve à autonomia que foi dada à Polícia Federal, para investigá-lo, e
também a seus filhos. Esquece-se, no entanto, que essa autonomia, foi ele mesmo
quem a concedeu, por sugestão do então Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.
Agora,
na reunião do G-20 em Antália, na Turquia,
Dilma voltou a entender-se bem com o seu Ministro da Fazenda. Resultado
dessa mudança, foi a declaração da Presidente:
"Acho extremamente nocivas as especulações para o país, o que me
obriga a vir sistematicamente a público para reforçar que Joaquim Levy fica
onde está."
Com
isso, Dilma contradisse nova declaração de Lula de que o ministro "tinha
prazo de validade" no cargo.
Aliás se tem assinalado que não há
lógica na reivindicação de Lula de colocar Henrique Meirelles - que defende uma
posição muito semelhante à do Ministro de Fazenda - no lugar de Levy. A única diferença talvez é que Meirelles
deveria a Lula a sua eventual nova posição.
Essa
perene incerteza quanto à permanência de Joaquim Levy não é boa nem para a
Fazenda, nem para a política econômico-financeira do Governo. E ela em última
análise se deve à contradição entre a posição da autêntica Dilma, e a defendida
por Levy.
Daí
essa precariedade institucional, que declarações podem adiar, mas não apagar.
( Fontes: O
Globo, Artigo de R. Noblat )
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