Como sempre é oportuno ler a coluna de Miriam Leitão. Já suspeitava de que há
muito mais de o que a imprensa publica, em termos de atitudes efetivas e
eficazes diante dessa calamidade.
Para começar, a mídia fala sempre de
Samarco, que, na verdade, como assinala a colunista econômica de O Globo, tem
donos, que são a Vale e a BHP.
A reação dos responsáveis me lembrou da
frase ontológica do então Presidente Lula: Sarney não é um cidadão comum!
Pois nestas seis palavras se concentra
muita ciência de Brasil, e da escandalosa diferença de tratamento que é
reservada aos pobres.
Primeiro, a reação da Presidente. Para
quem diz preocupar-se tanto com o destino dos menos
afortunados, e nas aparições televisivas pré-eleitorais muito se auto-elogiou
em haver transferido para a classe média tantos da classe C, além de
proclamar-se empenhada no combate à miséria, não seria, por acaso, a tragédia de Mariana
oportunidade de mostrar a gabada empatia pelos menos afortunados, visitando a zona sinistrada?
No entanto - e Míriam Leitão o consigna -
"A presidente Dilma não foi ao local."
Por outro lado, vejam a reação dos
dois proprietários da Samarco. Enquanto o presidente da BHP, empresa
australiana, falou com a imprensa desde o primeiro momento e embarcou para o
Brasil, a Vale do Rio Doce, por intermédio de seu presidente, Murilo Ferreira,
limitou-se a expedir uma nota.
Se a área atingida fosse não de gente humilde,
mas com habitantes de posse, a reação da Vale teria sido tão lacônica ?
Como assinala Miriam Leitão, "as
empresas foram displicentes na prevenção e não demonstraram ter um plano de
ação preparado para o caso de desastre." E enfatiza: "Prevenção e mitigação de danos é o
mínimo que se pode exigir de empresa que lida com atividade de alto
risco."
Há uma impressão de encenação no ar,
que deveria ser dissipada de pronto. Vejam só: "A Samarco foi ontem
proibida por Minas Gerais de exercer atividade no estado." Parece severa a
determinação? Mas, o que recai sobre as reais responsáveis, a Vale e a BHP, que
são as donas da dita Samarco? Eis a resposta de Miriam Leitão: "Nada recai
sobre as suas controladoras" (isto é, a Vale e a BHP). "Nenhuma
cobrança é feita à Vale, que é a empresa brasileira, está aqui no país e tinha
que saber o que acontece com a sua controlada."
A reação da Vale, que aparenta
querer escudar-se na Samarco - a qual é apenas uma sua criatura e da BHP -
afigura-se como insatisfatória. Diante de o que se vê, desse mar de lama que
invade a bacia do rio Doce, inviabiliza terras e colheitas, o que se depara é um
jogo de empurra, com Minas e Energia e Meio Ambiente tendo reação similar a da
própria chefia executiva do Governo Federal.
Toda a omissão, toda essa
ausência reflete da parte empresarial o velho menoscabo pelas camadas ditas
inferiores, e, de parte governamental federal, a circunstância de que o governo
Dilma II já acabou, ou se não acabou, estará fechado para tudo aquilo que não
diga respeito a como lidar com a detenção da ameaça do impeachment.
Se vivêssemos em regime
parlamentarista, Dilma Rousseff já seria história há muito tempo.
Mas como por desgraça vivemos sob o
presidencialismo, o Brasil deveria acordar. Devemos encerrar a chanchada que se
ocupou do Planalto. Temos um presidente da Câmara que retém a tramitação do
impeachment para tentar agradar a ameaçada Dilma Rousseff. Esta faz que agradece e manda a sua turma
poupar o acusado Eduardo Cunha, enquanto este monta a sua estória para boi
dormir. Entrementes, na prática o governo fecha para balanço, e nada se faz.
Nos casos em tela, a presidenta
não aparece, os ministros (de Minas e Energia, e do Meio Ambiente) não estão
nem aí, e tudo segue como dantes do velho quartel de Abrantes. Enquanto a lama
vai tomando conta de tudo - e notem que não é recurso retórico, mas sim
verdade, eis que a Vale e a BHP olham mas não veem a destruição da vida de
muita gente, e o mais que promete tal calamidade.
Que tal, se ao invés de montar
esquemas escalafobéticos, tratássemos de resolver este impasse republicano.
Tratemos não dos interesses de
Dilma Rousseff e Eduardo Cunha, mas sim, pensemos mais no Brasil.
Chega de governo fantasma!
( Fontes: coluna de Miriam Leitão, O Globo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário