terça-feira, 10 de novembro de 2015

Uma Desgraça Brasileira

                               
 
        Como sempre é oportuno ler a coluna de Miriam Leitão. Já suspeitava de que há muito mais de o que a imprensa publica, em termos de atitudes efetivas e eficazes diante dessa calamidade.

         Para começar, a mídia fala sempre de Samarco, que, na verdade, como assinala a colunista econômica de O Globo, tem donos, que são a Vale e a BHP.

         A reação dos responsáveis me lembrou da frase ontológica do então Presidente Lula: Sarney não é um cidadão comum!

         Pois nestas seis palavras se concentra muita ciência de Brasil, e da escandalosa diferença de tratamento que é reservada aos pobres.

         Primeiro, a reação da Presidente. Para quem  diz  preocupar-se tanto com o destino dos menos afortunados, e nas aparições televisivas pré-eleitorais muito se auto-elogiou em haver transferido para a classe média tantos da classe C, além de proclamar-se empenhada no combate à miséria, não seria, por acaso, a tragédia de Mariana oportunidade de mostrar a gabada empatia pelos menos afortunados,  visitando a zona sinistrada?

          No entanto - e Míriam Leitão o consigna - "A presidente Dilma não foi ao local."

          Por outro lado, vejam a reação dos dois proprietários da Samarco. Enquanto o presidente da BHP, empresa australiana, falou com a imprensa desde o primeiro momento e embarcou para o Brasil, a Vale do Rio Doce, por intermédio de seu presidente, Murilo Ferreira, limitou-se a expedir uma nota.

          Se a área atingida fosse não de gente humilde, mas com habitantes de posse, a reação da Vale teria sido tão lacônica ?

          Como assinala Miriam Leitão, "as empresas foram displicentes na prevenção e não demonstraram ter um plano de ação preparado para o caso de desastre." E enfatiza:  "Prevenção e mitigação de danos é o mínimo que se pode exigir de empresa que lida com atividade de alto risco."

          Há uma impressão de encenação no ar, que deveria ser dissipada de pronto. Vejam só: "A Samarco foi ontem proibida por Minas Gerais de exercer atividade no estado." Parece severa a determinação? Mas, o que recai sobre as reais responsáveis, a Vale e a BHP, que são as donas da dita Samarco? Eis a resposta de Miriam Leitão: "Nada recai sobre as suas controladoras" (isto é, a Vale e a BHP). "Nenhuma cobrança é feita à Vale, que é a empresa brasileira, está aqui no país e tinha que saber o que acontece com a sua controlada."

             A reação da Vale, que aparenta querer escudar-se na Samarco - a qual é apenas uma sua criatura e da BHP - afigura-se como insatisfatória. Diante de o que se vê, desse mar de lama que invade a bacia do rio Doce, inviabiliza terras e colheitas, o que se depara é um jogo de empurra, com Minas e Energia e Meio Ambiente tendo reação similar a da própria chefia executiva do Governo Federal.

              Toda a omissão, toda essa ausência reflete da parte empresarial o velho menoscabo pelas camadas ditas inferiores, e, de parte governamental federal, a circunstância de que o governo Dilma II já acabou, ou se não acabou, estará fechado para tudo aquilo que não diga respeito a como lidar com a detenção da ameaça do impeachment.

               Se vivêssemos em regime parlamentarista, Dilma Rousseff já seria história há muito tempo.

               Mas como por desgraça vivemos sob o presidencialismo, o Brasil deveria acordar. Devemos encerrar a chanchada que se ocupou do Planalto. Temos um presidente da Câmara que retém a tramitação do impeachment para tentar agradar a ameaçada Dilma Rousseff.  Esta faz que agradece e manda a sua turma poupar o acusado Eduardo Cunha, enquanto este monta a sua estória para boi dormir. Entrementes, na prática o governo fecha para balanço, e nada se faz.

                Nos casos em tela, a presidenta não aparece, os ministros (de Minas e Energia, e do Meio Ambiente) não estão nem aí, e tudo segue como dantes do velho quartel de Abrantes. Enquanto a lama vai tomando conta de tudo - e notem que não é recurso retórico, mas sim verdade, eis que a Vale e a BHP olham mas não veem a destruição da vida de muita gente, e o mais que promete tal calamidade.

                 Que tal, se ao invés de montar esquemas escalafobéticos, tratássemos de resolver este impasse republicano.

                  Tratemos não dos interesses de Dilma Rousseff e Eduardo Cunha, mas sim, pensemos mais no Brasil.

                   Chega de governo fantasma!

 

( Fontes: coluna de Miriam Leitão, O Globo )   

Nenhum comentário: