A Corrupção
Mais uma
vez, pode verificar-se o quanto o povo é
capaz de identificar quais são os grandes problemas nacionais, assim como colocá-los
dentro da real dimensão de sua gravidade.
Não
surpreende, portanto, que a ultimíssima pesquisa do Datafolha venha a
identificar a corrupção como o maior problema do país.
Desde algum
tempo, se difunde a impressão de que a sensação entre certo e errado perdeu sua antiga nitidez, e se torna para muitos um
condicionamento circunstancial que depende não de conceitos nítidos e imutáveis,
mas de eventual tendência de valer-se de oportunidades em que avulte a
sensação/impressão de que é grande a possibilidade de levar vantagem, pela
falta ou fraqueza dos eventuais empecilhos concretos, éticos e morais.
Esta situação
social é produto decerto de muitos fatores. Já no século passado, a chamada lei de Gerson - sempre que possível,
levar vantagem em tudo - é uma decorrência do famigerado jeitinho brasileiro, que acompanha
nossa sociedade desde o século
XIX pelo menos. Isto se vê na expressão para
inglês ver, que é uma descrição de nosso povo na época do Império, para caracterizar a atitude
das autoridades ao lidar com visitas de súditos da Coroa britânica, a
fim de que tivessem impressão favorável
da terra brasileira.
Por que analisar essa atitude tendente a montar
pavilhões Poniatowski para que o visitante de Sua Majestade Britânica (ou
autoridade estrangeira que nos visitasse ex officio) viesse a nos julgar
melhor?
Será
complexo de inferioridade o chamado jeitinho brasileiro?
Essa
fraqueza em termos éticos, essa atitude que escolhe o certo não porque ele seja
preferível em termos absolutos, mas pela simples razão de estabelecer a barra
ética mais alto (ou no nível que se presume seja o do visitante), decorre de relação de conveniência momentânea, em
que se monta um pavilhão para inglês ver, ou se adotam medidas extraordinárias,
não porque se acha que devam ser sempre estabelecidas, mas pela simples razão
de tapear o estrangeiro e montar um panorama Poniatowski pelo tempo (em geral
curto) em que é necessário.
Assim ,
temos o reforço do policiamento - que chega a intensivo - durante os certamens
internacionais que sediamos, a adoção de medidas preventivas que afastam os indesejáveis ou os fora da lei dos locais
frequentados por visitantes e turistas.
Esta
reação é típica do ad hoc brasileiro. Não é que ele não seja para valer. Nós
brasileiros bem sabemos o seu prazo de validade, que costuma ser curtíssimo
(enquanto o grande espetáculo estiver em andamento e nos poucos dias em que os
turistas/visitantes devam ir embora).
Mutatis
mutandis, ele parte sempre da necessidade de infundir a boa (enganosa)
impressão. A autoridade age sempre dentro dos estreitos limites de um
brevíssimo prazo de validade.
Medidas
mais permanentes, tomadas a partir de um bom exemplo - qual a visita
multitudinária do estrangeiro - serão sempre evitadas, talvez porque a
autoridade não pense que o local mereça um tratamento - como diria alguém
torcido pelo circuito Elizabeth Arden - de Primeiro Mundo em caráter
permanente. Tudo para o local - que aliás paga os impostos - será contingente,
isto é, dependerá de circunstâncias que são tristemente alheias à sua vontade.
Nesse contexto, tenho um exemplo
que me ficou, incômodo, na memória. Lembram-se da famosa tomada do Alemão, ocorrida
há alguns anos atrás, e que foi operação a exigir o apoio das Forças Armadas
(inclusive com blindados próprios)? No oba-oba
das autoridades, inclusive do Governador a alçar bandeiras comemorativas, ao final
saíu daquela imensa favela um tropel de uns trezentos bandidos, que fugiram
pela estrada de terra, que liga aquelas terras antes fora do controle das
autoridades, com a cidade do Rio de Janeiro. A ocasião foi filmada para que
ficasse na memória coletiva. Houve até comemoração. No entanto, na cabeça de
muitos passou a ideia de por que não prender aquela gente que apenas escapava
de situação adversa, mas que decerto não mudaria de hábitos no futuro. Nada foi
feito, além do filme para divulgação dessa vitória de Pirro...
Os registros do Instituto
assinalam que apenas Ulysses Guimarães, em todo o histórico do Datafolha,
assinalou registro maior de rejeição: 52% de rejeição, em 1989, quando foi
candidato pelo PMDB.
Vê-se quanto pode ser injusta
uma rejeição. Ulysses decerto pagava o preço da baixa popularidade de José Sarney, o então presidente.
Quanto ao Congresso, 81% dos consultados é de parecer que o mandato de Eduardo Cunha deveria ser cassado.
É igualmente alto o índice de
desaprovação do Congresso que está em
53% (era 42% em junho).
Para 65% dos
eleitores, o Congresso deveria abrir processo de impeachment contra Dilma.
Posição da Presidenta no
Datafolha
A melhora de Dilma Rousseff nas pesquisas continua na faixa terminal, por assim dizer.
Atualmente, os que acham seu
governo ruim ou péssimo são 67% (eram 71% em agosto). Os que julgam regular são hoje 22% (eram 20%
em agosto).
Por fim, o acham Ótimo/Bom
agora 10%, quando eram em agosto 8%
Ainda quanto à Dilma a maioria é favorável a
que renuncie (62%).
É interessante, de resto, a
posição popular quanto à abertura do processo
de afastamento (Sim 65% e Não 30%) . Ela deveria
renunciar? (62% Sim, e 34%, Não)
No entanto, o povo consultado,
56% não acha que ela será afastada,
e 36% pensa que ela será afastada.
( Fontes: Folha de S.
Paulo; O Globo )
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