Além da página interna da Folha (Poder A5), a repercussão da
conferência do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Ricardo Lewandowski,
pronunciada na passada sexta-feira, treze de novembro, se limitou àquele
jornalão paulista.
As posições
do Ministro Ricardo Lewandowski são conhecidas, e a sua oposição no julgamento
da Ação
Penal n° 470 pelo Supremo Tribunal Federal foi notória. Nessa
oportunidade, tanto como revisor do processo do Mensalão - o relator foi o
Ministro Joaquim Barbosa - quanto como
membro desse egrégio tribunal, sempre se empenhou no a princípio grupo
favorável à leniência no que tange aos réus dessa célebre ação judicial.
O poder
petista seria auxiliado nesse propósito pela então idade limite dos juízes,
como foi o caso de Cesar Peluso e de Ayres Britto que apoiavam a posição do
relator, o qual se aposentaria após a sua presidência, privando assim o
tribunal e a Nação de uma voz e voto que estavam em maior consonância com a
vontade do Povo brasileiro.
As indicações
de Dilma Rousseff ao Supremo não se comparam àquelas de Lula da Silva, mas, ao
atribuir mérito, cuidemos de sinalizar quem realmente o merece. O recentemente
falecido Márcio Thomaz Bastos foi Ministro da Justiça do Presidente
Lula, e este bem fez em seguir suas
indicações para o Supremo. Dentre elas, está o Ministro Barbosa, o primeiro
negro a integrá-lo, além de outras sugestões de rara oportunidade.
Tire-se o
chapéu para quem o merece. Lula agiu no interesse da instituição, seguindo as
propostas do seu grande Ministro da Justiça. Já a sua medíocre sucessora, nunca
terá procurado informar-se do valor intrínseco dos ministros que lhe tem cabido
propor ao Senado Federal, com os resultados disso decorrentes.
Mas voltemos
à fala em faculdade paulista (não especificada pelo jornalão) do Presidente do
Supremo.
Reza a velha usança de que os
magistrados, dada a peculiaridade de sua missão, devem de preferência falar
através dos autos do processo. Para quem tem a faculdade de ditar
sentenças, esse entranhado costume visa sobretudo resguardar o juiz, ao
poupá-lo de descer à arena pública. E não é decerto difícil de determinar a
razão prática de tal postura. Para quem tem o munus de, ou ditar sentença de forma monocrática, ou de expressar,
em tribunal colegiado, o respectivo ditame, há de intuir-se que a isenção do
magistrado deve ser preservada. Para tanto, não há melhor maneira de
informar-se nos autos do processo, e nesses termos, ditar a respectiva
sentença.
No caso,
afigura-se óbvio, dado o interesse político do Povo brasileiro, assim como de
seus representantes, que se trata de questão de interesse maior. Por
conseguinte, se couber intervenção do Supremo em matéria de interesse político
- e daí estarmos diante de um processo legislativo que tende a delimitá-las,
para o esclarecimento de eventuais questões interpretativas legais, mas não
para reservar-se a respeito a última palavra. Esta cabe ao Povo Brasileiro,
enquanto soberano, e a seu representante direto, que é o Poder Legislativo.
As posições
do Ministro Ricardo Lewandowski são conhecidas. Foram essas mesmas posições que
o tornam para alguns uma figura controversa, sendo conhecidos os seus embates
verbais com o seu colega Ministro Joaquim Barbosa, enquanto
este foi o relator da Ação Penal 470. O Ministro Barbosa tem inúmeros críticos,
embora lhes seja difícil arguir como negativo o seu brilhante procedimento como
relator da complexa matéria do dito Mensalão, e nesse sentido grandes elogios
lhe foram feitos, como aquele de Mestre
Joaquim Falcão.
É nesse
contexto que desperta muita surpresa a fala do Ministro-presidente do Supremo,
em uma faculdade de direito da Paulicéia.
Esta surpresa aumenta ainda mais, se nos
dermos conta de o quanto a fala do Ministro-Presidente Lewandowski abraça as
teses de um partido, no caso o Partido dos
Trabalhadores, aquele que pela própria ação e a de seus dirigentes é indiretamente responsável pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal, e a de um outro integrante do Poder Judiciário, o Juiz Sérgio Moro, que tanto se assinala para a Nação brasileira, e tanto tem contribuído, pela respectiva exação e destemor no cumprimento do dever, para o grande apreço que faz por merecer.
Trabalhadores, aquele que pela própria ação e a de seus dirigentes é indiretamente responsável pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal, e a de um outro integrante do Poder Judiciário, o Juiz Sérgio Moro, que tanto se assinala para a Nação brasileira, e tanto tem contribuído, pela respectiva exação e destemor no cumprimento do dever, para o grande apreço que faz por merecer.
Sua
Excelência o presidente do Supremo vem a público e fala de "risco de
golpe". Refere-se, outrossim, a outro argumento similar levantado
igualmente pelo Partido dos Trabalhadores: "Temos de ter paciência de
aguentar mais três anos sem nenhum golpe institucional. Esses três anos
poderiam cobrar o preço de uma volta ao passado tenebroso de trinta anos".
O Ministro
Ricardo Lewandowski parece não dar-se conta de quem assina a petição ora
engavetada pelo Deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). É um fundador do PT, o Dr. Hélio Bicudo, que saiu desse
partido ao ensejo do escândalo do Mensalão, que foi o primeiro, mas não seria
nem o único, nem o mais importante do PT.
Seria
estranhável a intervenção do Ministro Lewandowski se não tivéssemos presente o
seu empenho na defesa das posições do PT, como ora se verifica por abraçar em
conferência pública posturas defendidas na arena política pelo partido de Lula
da Silva e de Dilma Rousseff.
Ao invés de falar em público sobre
matéria política ora sob o crivo do Supremo, Sua Excelência o Presidente Ricardo Lewandowski deveria reservar sobre
a matéria a própria opinião aos autos do processo.
Esta é a velha usança. E ela não é
velha por acaso.
( Fonte: Folha de S.
Paulo )
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