sábado, 28 de novembro de 2015

O Brasil é viável ?


                                              

         Leitor amigo, você está satisfeito, indiferente, insatisfeito ou indignado com os governos do Partido dos Trabalhadores?

         A pergunta pode parecer, ou um tanto despropositada, ou até provocadora, diante de o que nos falam a situação do Brasil e as pesquisas de opinião.

         Mas, permita-me dizê-lo, ela não o é.

         Foi um pouco pensando nisso que escrevi a série 'Brasil: Corrupção & Burocracia', uma viagem através da biografia de nossa terra. Essa trajetória terá decerto lacunas, mas as grandes marcas lá estarão.

         Somos a criação de pequena nação debruçada sobre o Atlântico, cuja única saída estava em lançar-se por mares antes desconhecidos. Portugal, no século anterior, com o Infante Dom Henrique fez o dever de casa. Sabendo-se diminuto e fraco  sua saída estava no mar oceano, e para tanto desenvolveu a caravela, a solução tecnológica de manejabilidade e rapidez, em tempos de navegação à vela.

         Portugal era pequeno e por isso teve de crescer no saber e no método. É bonito o modelo das feitorias a circundar as costas de África? Não.  Mas a terra lusa olhava também para os efeitos colaterais: o mapeamento das costas do imenso continente ao Sul, na busca de novos horizontes.

         Como disse antes, Portugal tinha o grande mérito de privilegiar o conhecimento. Quem não tinha as hordas dos poderes continentais da época, precisava agarrar-se ao saber e, em especial, ao saber novo.

         Já foi dito pelo grande Jaime Cortesão - que o Brasil abrigou durante a sanha da ditadura de Salazar - que os mapas constituíam os grandes segredos dos quatrocentos e dos quinhentos, e como tanto deviam ser cuidados.

         Nesse momento, quiçá o leitor pense que me afastei do assunto. E, em verdade, não. Se Dom João III arrancava os cabelos em como resolver o manejo de  Império que surgira não por capricho, mas através do planejamento, encetado em Sagres, e continuado pelos decênios afora, sem nada deixar ao acaso? Inquietava-se o soberano porque a base demográfica era pequena, e nos primeiros tempos o engenho era grande.

          Descobria-se um país e se o achassem demasiado avultado para geri-lo naquele momento dado, o que se fazia? Fiado na própria arte naval, o soberano o deixava por uns tempos dormente, até que surgisse a hora da 'descoberta' formal, que criaria novos empenhos, mas também resguardaria os já existentes. E esta, como se presume, foi exatamente a missão de d. Pedro Álvares Cabral, que começou bem por aqui, e mal acabou nas costas das Índias.

          Se o século XVI marca talvez o ápice do poder lusitano - fundado na ciência e na tecnologia da época - nos séculos posteriores, vicissitudes dinásticas, oriundas de louca aventura em África, tornariam a terra lusa por sessenta anos atrelada a Castela. Com os Bragança, a  submissão à pérfida Albion e um tratado lesivo em que Lisboa se vinculou quase colonialmente a Londres, cedendo o ouro da colônia pela venda do vinho do Porto, que traria a gota aos ingleses, enquanto o metal mais valioso se escapava para fundar a construção das colônias da Nova Inglaterra...

            Mesmo na era dos gastos suntuários e do desperdício da riqueza das Minas, no reino de D. João V a luz maior estaria no seu moço de escrivaninha, o santista Alexandre de Gusmão, que com a simpatia do soberano manteve à tona o próprio gênio contra a empoada estupidez da nobreza e dos sinistros familiares da Inquisição.

            O saber e o planejamento se deram as mãos, e Alexandre se preparou para a sua grande hora - em que dirige, à distância, as negociações do Tratado de Madri (que apenas traçou os contornos do Brasil hodierno), enquanto, também de longe, o admira o negociador e grande de Espanha, duque de Lancastre.

            O grande precursor da nossa diplomacia, através do tratado de Madri, desenhou em largos riscos, a forma de nossa terra. E nada foi por acaso. Portugal mandara à colônia os padres matemáticos, para que fizessem mapas que retratassem a grandeza atual e a in fieri da antiga Terra da Santa Cruz.  Era época igualmente das bandeiras paulistas e das entradas, inclusive a mais famosa, aquela que vinda de Belém irrompeu em São Francisco de Quito, de D. Pedro Teixeira, para os nervosos gritinhos dos espanhóis que lá dormiam o secular sono da inação.

            Que me perdoe o leitor se me repito aqui e ali, mas a motivação não é a da cantilena de ninar, mas a de trazer-nos à memória que já fomos grandes, e nada no Brasil impede que voltemos a caminhar pela estrada real, e não por essa trilha de grandes, miríficos planos e de pequenas vistas da realidade circundante.

            Vivemos hoje em época que quiçá servisse de inspiração para a tese de historiadora sobre a marcha da insensatez.

             Quando da primeira eleição de Lula - e vou referi-lo uma vez mais, porque é importante - eu e o professor Antônio Rezende tentamos convencer ao nosso Amigo Pedro Neves da Rocha (cuja biblioteca até hoje espera ser aberta ao público no conjunto do Palácio Rio Negro, com os seus vinte e seis mil volumes de saber e atualizado conhecimento histórico, político e filosófico) que devia votar no candidato do P.T.

             Pedro, na época, me pareceu rígido e doutrinário ao dizer-nos que não votaria em quem não tivesse o curso superior completo.  Hoje, ele deve estar sorrindo, diante da confusão formada não só pelo Partido dos Trabalhadores, e as suas alas igrejeira e intelectual, mas muito especialmente pelas construções desavisadas de seu fundador. E quem hoje haveria de contestá-lo ousar?

             É bem verdade que em política não será a nossa grande característica mostrar bom senso. A nossa independência tivemos a inteligência de lográ-la através da legitimidade - o que a faria bem menos sangrenta e divisiva.  No entanto a antiga denominação do aeroporto de Salvador - designação que deveria ser restabelecida porque marca a data da volta da Bahia, a primeira colônia, ao seio do Império brasileiro - nos recorda que muitas das realizações do primeiro Império cobraram sangue brasileiro (como o foi também no então longínquo Piauí, contra as tropas do Major Fidié).

              Vamos acordar o Brasil, ó gente da minha terra. De lá do Rio Grande veio também um grande brasileiro que quando se sacrificou por pátria e honra, rios de gente afluíram de toda parte, e tornaram o seu enterro genuína cerimônia de reencontro do Povo brasileiro. Antes os grandes se despediam sem tostão furado que não fosse seu, levando consigo os magros cobres com que entraram nas aras do poder republicano,  e não o falso ouro da corrupção, que desvirtua, achincalha, desmoraliza e sobretudo deseduca.

               Vejam o espetáculo da vez. Diante do triste descalabro das finanças, da volta de inflação que só a ignara estupidez poderia ter ressuscitado, de orçamentos que não mais batem, de maiorias que só obedecem à própria cobiça, é bom ter presente o ditame do Supremo que, em meio à gritaria dos corruptos e de seus clientes, teve a coragem de mandar prender, por vez primeira, um Senador que terá pensado que o que estava escrito no quadro era para valer.

                A história do Erro será sempre melancólica narrativa, em que os embuçados predominam.  

                 O reino do PT já durou demais. Os incompetentes prepostos do presente devem ser prontamente alijados. Também é mais do que hora de afastar quem  engaveta a petição que, sem dúvida, a maioria do Povo brasileiro subscreve, e que está presa por alguém que somente a situação arrevezada da política nacional - que Chico Caruso desenha em traços magistrais na primeira página de O Globo - torna possível que assim seja.

                  É hora de dar um basta aos aventureiros e trazer de volta varões como o Dr. Hélio Bicudo.  A sua petição precisa vencer as trevas  e abrir as cortinas de um Brasil renovado e melhor,  um Brasil em  que tenhamos orgulho de ser cidadãos.

 

( Fontes: Jaime Cortesão,  Enciclopédia Delta-Larousse, O Globo, Folha de S. Paulo, Barbara Tuchman )

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