Pouco depois
de cancelar programa do Pentágono para preparar os rebeldes sírios na luta
contra o ISIS, há várias indicações de
que o sucedâneo da Administração Obama a fim de reforçar os combatentes da
aliança democrática não está funcionando a contento.
Em geral, os
reforços obtidos são muito jovens e com pouco treinamento. Por isso, não estariam muito longe de constituírem,
em muitas de suas unidades, a réplica de verdadeiro exército Brancaleone.[1]
Dada a
fraqueza de tais recrutas, seja em armamento e indumentária adequada, seja
sobretudo em treinamento no terreno, os aludidos 'reforços' na verdade constituem força risível, sem condições de
enfrentar a forte e experimentada infantaria do Exército Islâmico.
Atendidas as
duras verdades no cenário sírio, as condições no terreno tem conduzido ao recurso
sempre mais amiudado de valer-se de soldados curdos.
Por um lado,
constituem o aporte ideal, seja pelas próprias condições, tanto em termos de
armamento, quanto de capacidade no terreno, e por isso repontam como os
adversários mais aguerridos, eficazes e temíveis para as unidades do E.I.
Ao contrário
dos iraquianos, que apresentaram desempenho abaixo da crítica nos embates com o
ISIS - não é decerto por mera coincidência que o exército do 'Califa' al-Baghdadi se tenha apossado
de largos espaços territoriais, notadamente no Iraque setentrional - a milícia
curda, os peshmerga têm sido adversários à altura. Com efeito, os curdos -
que foram nacionalidade esquecida na distribuição de territórios ao cabo da 1ª
Guerra Mundial, ao desfazer-se o Império otomano - têm precária base
territorial no extremo norte do Iraque.
Por outro
lado, constituem importante minoria também na Turquia, onde são etnia muita vez
perseguida pelo poder central, como agora parece ser o caso sob o regime
autoritário de Recep Erdogan.
A Turquia,
que é uma aliada dos Estados Unidos (autorizando os aviões militares americanos
a decolarem de seu território para o bombardeio das bases do E.I.), ao
associar-se à campanha contra o Isis se teria valido de tal pretexto para
alvejar núcleos curdos próximos de suas lindes.
Não
possuindo, por conseguinte, um território nacional que faça justiça à coesão
dessa população, forçada malgrado o respectivo peso demográfico a
estabelecer-se de modo precário em terras de outrem - uma consequência de terem
perdido a oportunidade de lhes ser destinado um território próprio - como às
principais etnias do Oriente Médio - os
curdos desenvolveram um ethos
nacional respeitável, o que lhes tem permitido manter a consciência da
respectiva nacionalidade de forma bastante afirmativa, de modo a lograr
preservá-la, mesmo nas condições precárias em que estão ora estabelecidos.
Será esta
disposição para a luta, a par de sua experiência no mister, que confere às
milícias peshmerga a capacidade de
arrostarem desafios muito superiores àqueles representados pelas forças locais.
Como se tem
verificado amiúde, a adversidade pode proporcionar aos peshmerga a capacidade de ascender a níveis superiores. Apesar de
se constituir simples milícia, o soldado
curdo, pelo seu treinamento tende a ser adversário
temível. Há de entender-se, por conseguinte, o efeito desestabilizante que pode
vir a representar-lhes disporem de
armamento mais sofisticado e poderoso. Se já a garra natural, a flexibilidade e
a resistência do soldado individual constituem simbioses guerreiras de grande
eficácia operacional, há de imaginar-se o efeito que será produzido se vier a ser equipados com
armamento mais sofisticado e de maior letalidade.
Ao invés das
nacionalidades para que semelha de pouca serventia o armamento sofisticado e de
alta tecnologia - porque como se fora um pródigo logo dele o adversário
encontrará meios e modos de despojá-lo -
de igual maneira se impõe que a super-potência
privilegie o soldado curdo máxime por sua potencialidade bélica.
Imagine-se o militar curdo devidamente
treinado e armado. Constituirá decerto um aporte determinante e decisivo no cenário do Oriente Médio, contribuindo de
forma efetiva para reverter a atual situação em que os batalhões do E.I. têm
muita vez a primazia nas artes marciais, e por conseguinte a preponderância no
terreno.
Pelas suas
presentes qualidades e pela enorme
potencialidade de que dispõe, o combatente curdo constitui para o Ocidente um
trunfo cuja valia só os tolos ou os mal-intencionados não dariam a cabível e devida
importância.
( Fonte:
The New York Times )
[1] Da comédia italiana,
estrelada por Vittorio Gassman, l' Armata Brancaleone (o exército Brancaleone).
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