Puxe pela memória, caro
leitor, e tente repensar um Brasil tão pouco alentador quanto o do presente.
Você por
acaso consegue identificar-se com alguma das figuras proeminentes nesse
momento?
Veja
bem, caro amigo desconhecido, não estou falando de líderes, mas de gente como a
gente, de pessoas com quem você possa de
algum modo identificar-se.
Limitarei o meu passeio por esses Brasis, tentando facilitar-lhe a
tarefa ou, quem sabe, faina.
Como não
será difícil determinar para o leitor amigo de meu blog, já estou por aqui faz
algum tempo.
Recordo-me de momentos mais alegres e mais promissores do que a
atualidade. De todos, me permito singularizar o momento de JK. E por quê ? Por razões simples e que hoje me
parecem complexas.
JK era
feito de nosso barro. Lutou e
estudou, mas chegou lá. Prometeu 50 anos em cinco, e não é que
cumpriu? Mostrou que a esperança não carecia ser ou ilusória ou passageira. Deu
alegria ao brasileiro. Mostrou que todos tinham potencial: seja Bernardo Saião,
seja o anônimo candango. Construiu estradas rasgando o Brasil, de norte a sul,
e de leste a oeste. Já não mais caranguejos a arranhar a costa. Adentrando os
sertões, não para arrebanhar índios ou desvendar eldorados, mas para ali
assentar-se e reacordar brasileiros que dormiam há séculos sem sabê-lo.
JK além
de visionário, curador de corpos e até de almas, era também mineiro e brasileiro.
Apesar da sórdida campanha que sofreu, feita por gente pequena e mesquinha,
trazia consigo a alma generosa do desbravador não só dos sertões de Euclides da
Cunha, mas também da pureza e da mentalidade de que nos escreve Lévi-Strauss.
As melhores memórias que se guarda são
aquelas que o tempo não leva. Em hora sombria para o Brasil, longe na aprazível
Lutetia, tive a honra e o prazer de ignorar a ordem mesquinha dos senhores
daquela hora de se manter afastados e não dar qualquer guarida aos cassados da
dita Revolução. Conduzi, por Paris, o ex-presidente e grande homem Juscelino
Kubitschek. Como me esquecerei do passeio ao Jardim da Aclimatação, no meio do
Bois de Boulogne. Era quase engraçado ver o modesto Simca (cor roxa) dirigido
por JK , a seguir o meu carro esportivo de jovem. Íamos até o Jardim da
Aclimatação, onde ele e um pequeno grupo pretendiam deliciar-se com os morangos
do bosque da estação.
Juscelino então estava na
planície - e que planície! - pois já escreve a própria página - e quê página -
na História pátria. A gente pequena que o atenazava iria desaparecer. Mas como essas horas cinzentas custam a
passar!
Comparado com a gente à nossa
volta, e à turma de Brasília, JK é um dos poucos líderes que me parece
realmente brasileiro.
Então o acusavam de ladrão.
Vejam o que restou de tais insultos, do fel que alguns respingavam ... Nada.
Mas JK pagou caro por esse exorbitante pedaço de carne que lhe exigiram.
Hoje, olho em torno, e vejo
anões à minha volta. Vociferantes alguns, espertalhões outros, mas nada que
deixe marcas como aquelas que o homem de Diamantina deixou.
Serei saudosista? Talvez. Mas há no momento que atravessamos, em que um
artigo do código penal vira definição, em que a mediocridade tem enfim a sua
oportunidade plena para produzir os previsíveis resultados, em que a
incompetência e a leviandade parecem ter mais força do que as garras dos
caranguejos de Frei Vicente do Salvador, um chamado que grita para gente que
não ouve.
( Fontes: Frei Vicente do Salvador; Brasil: Corrupção & Burocracia
(série de onze artigos), Euclides da Cunha, Lévi-Strauss, Shakespeare)
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