sábado, 21 de novembro de 2015

Repensando o Brasil

                                           

             Puxe pela memória, caro leitor, e tente repensar um Brasil tão pouco alentador quanto o do presente.

             Você por acaso consegue identificar-se com alguma das figuras proeminentes nesse momento?

              Veja bem, caro amigo desconhecido, não estou falando de líderes, mas de gente como a gente, de pessoas com quem você  possa de algum modo identificar-se.

              Limitarei o meu passeio por esses Brasis, tentando facilitar-lhe a tarefa ou, quem sabe, faina.

              Como não será difícil determinar para o leitor amigo de meu blog, já estou por aqui faz algum tempo.

              Recordo-me de momentos mais alegres e mais promissores do que a atualidade. De todos, me permito singularizar o momento de JK.  E por quê ? Por razões simples e que hoje me parecem complexas.

              JK era feito de nosso barro. Lutou  e estudou,  mas chegou lá.  Prometeu 50 anos em cinco, e não é que cumpriu? Mostrou que a esperança não carecia ser ou ilusória ou passageira. Deu alegria ao brasileiro. Mostrou que todos tinham potencial: seja Bernardo Saião, seja o anônimo candango. Construiu estradas rasgando o Brasil, de norte a sul, e de leste a oeste. Já não mais caranguejos a arranhar a costa. Adentrando os sertões, não para arrebanhar índios ou desvendar eldorados, mas para ali assentar-se e reacordar brasileiros que dormiam há séculos sem sabê-lo.

             JK além de visionário, curador de corpos e até de almas, era também mineiro e brasileiro. Apesar da sórdida campanha que sofreu, feita por gente pequena e mesquinha, trazia consigo a alma generosa do desbravador não só dos sertões de Euclides da Cunha, mas também da pureza e da mentalidade de que nos escreve Lévi-Strauss.  

             As melhores memórias que se guarda são aquelas que o tempo não leva. Em hora sombria para o Brasil, longe na aprazível Lutetia, tive a honra e o prazer de ignorar a ordem mesquinha dos senhores daquela hora de se manter afastados e não dar qualquer guarida aos cassados da dita Revolução. Conduzi, por Paris, o ex-presidente e grande homem Juscelino Kubitschek. Como me esquecerei do passeio ao Jardim da Aclimatação, no meio do Bois de Boulogne. Era quase engraçado ver o modesto Simca (cor roxa) dirigido por JK , a seguir o meu carro esportivo de jovem. Íamos até o Jardim da Aclimatação, onde ele e um pequeno grupo pretendiam deliciar-se com os morangos do bosque da estação.

               Juscelino então estava na planície - e que planície! - pois já escreve a própria página - e quê página - na História pátria. A gente pequena que o atenazava iria desaparecer.  Mas como essas horas cinzentas custam a passar!

               Comparado com a gente à nossa volta, e à turma de Brasília, JK é um dos poucos líderes que me parece realmente brasileiro.

               Então o acusavam de ladrão. Vejam o que restou de tais insultos, do fel que alguns respingavam ... Nada. Mas JK pagou caro por esse exorbitante pedaço de carne que lhe exigiram.

               Hoje, olho em torno, e vejo anões à minha volta. Vociferantes alguns, espertalhões outros, mas nada que deixe marcas como aquelas que o homem de Diamantina deixou.

               Serei saudosista? Talvez.  Mas há no momento que atravessamos, em que um artigo do código penal vira definição, em que a mediocridade tem enfim a sua oportunidade plena para produzir os previsíveis resultados, em que a incompetência e a leviandade parecem ter mais força do que as garras dos caranguejos de Frei Vicente do Salvador, um chamado que grita para gente que não ouve.

              

( Fontes: Frei Vicente do Salvador; Brasil: Corrupção & Burocracia (série de onze artigos), Euclides da Cunha, Lévi-Strauss, Shakespeare)             

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