Essa pergunta me veio ao deparar a fisionomia de Lula, estampada em quatro colunas, que
encimam a edição da Folha de hoje, 27
de novembro.
No instantâneo, ele levanta a mão
esquerda, e dá a impressão de que está saudando ou um grupo, ou uma pessoa.
E, sem embargo, a mensagem, se alguma
existe, está nos olhos, e no rictus
da expressão, que desvela funda tristeza.
Para quem esse aceno - em geral tão
comum em um político - está sendo mandado, a despeito da expressão contida, da
melancolia que das vistas se desprende, e dos dedos meio curvados, traindo uma
antiga lesão?
Os fotógrafos - no caso presente, Jorge Araujo - não são amigos, nem inimigos de
ninguém. O seu dever e mister está em ficarem à espreita, como se fossem
testemunhas do destino, na sempiterna busca de revelar ao mundo situação ou
quiçá uma condição.
A foto será sempre uma construção. Quem
a examina, seja com cuidado, seja em passar d'olhos distraído, guardara decerto
uma impressão. O fotógrafo é figura indefinível- não é nem do bem, nem do mal.
O atirador de elite pacienta na mortal
impavidez, à espera de um átimo favorável. Já o jornalista dos instantâneos tem
a ver com o átimo de verdade que o alvo da foto pode ou não desvelar.
A Deusa fortuna pode ou não acompanhar
a silente labuta de quem está à espreita. Em verdade, trata-se apenas de imagem
que, por um átimo, desvela o que as palavras ou até mesmo o discurso tentam
esconder ou dissimular.
Em que pensa Lula quando semelha saudar
alguém que se vai, ou porventura lhe acena?
Será movimento maquinal, que mais trai
na tristeza que encerra, do que em algum reconhecimento de velho personagem de
memórias passadas?
As fotos, que o profissional insinua,
como que à cata de espectros ou duendes na floresta, podem muita vez ser
maiores do que aparentam.
( Fonte: Folha de S. Paulo )
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