segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Trump é Cruel ?

                                    

        Por falar em crueldade, essa volúvel presença na História, a chamada sorte madrasta que a ela está tão intrínseca, incompreensivel e revoltantemente ligada, não é que essa helênica característica a entrevemos com pesar e mesmo desconforto demasiado ligada a uma mulher brilhante, contra quem os fados parecem conspirar.
        A tal ponto, ela se desencadeia, que podemos abrir-lhe as portas e recorrer a essa franqueza que só nos é concedida em instantes extremos.
         Personagens do destino, personagens que por qualidades e perseverança, se  destacam do próprio cenário, cabe-lhes, por capricho da Fortuna, que a sorte madrasta venha visitá-los com a força do inesperado e o diverso diapasão de que outros são não tão estranhamente poupados.
        Porque a candidata Hillary, ainda que nascida alhures, vem do Arkansas, pequena província no sul dos Estados Unidos, a que a turma que gravita em torno da Costa Leste muita vez torce o nariz.
       Por outro lado, só é compreensível que ela, com tantas contribuições para a República - e não será a menor delas uma reforma da Saúde que de longe supera a lei que aí está (e mesmo assim suscita o ódio da direita republicana) - venha a sofrer tal campanha animosa que merece das fileiras da agremiação que não se peja de chamar-se Grand Old Party ?
       Hillary cometeu erros na passada eleição? Sim! Mas antes de condená-la, passem-nos, por nímio favor, o cartapácio dos equívocos cometidos pelo seu Adversário!
        Talvez a mãe de todos os seus erros esteja na circunstância de que ousou servir-se de um servidor particular na computação. Por mais que os seus implacáveis perseguidores - empoleirados no abrigo sereno que lhes proporcionara o gerrymander desencadeado após o shellacking que o  inexperiente Obama fizera cair-lhe por cima e até hoje tão fervorosamente silenciado tanto pela mídia, quanto por todos que dele se beneficiam.  Encarniçaram-se, na sua eterna enquanto dure falsa maioria na Câmara de Representantes, e literalmente contra ela se lançaram, primo, para inculpá-la da morte de um pobre embaixador, abatido na linha do dever, na longínqua Líbia, e, secondo, diante do malogro da primeira investida, porque não uma segunda, com o achado do sucessor de J.Edgar Hoover, sim, Mr James Chamey, diretor do Federal Bureau of Investigations. Como nas touradas, ele não aparece matando o touro (desculpe Hillary) do famigerado servidor privado, mas como esse bom republicano se empenhou em procurar reduzir, ou talvez, infirmar, a dita capacidade de Hillary Clinton de ser uma boa administradora.
        Pela sua persistência - que se assinala por desconhecer as determinações de seus superiores - e nisso Mr Chamey entra com largas e pesadas passadas no rastro portentoso do grande criador do F.B.I., a figura de J.Edgar Hoover - que por décadas pairou no cenário de Washington e adjacências (sobretudo adjacências), quando infernizou a vida de muitos secretos desafetos (em geral os infelizes só muito tarde se aperceberiam dessa distinção dele recebida). Não sei se o imortal Charlie Chaplin entrou nessa categoria por ser inglês, suposto comunista ou - o que é pior para as mediocridades coroadas - um gênio, no caso do cinema.  Talvez o único erro de Chaplin tenha sido aceitar o prêmio de Oscar-consolação, que é o de conjunto de obras (justamente àqueles que tudo fizeram por merecer a invejosa admiração da Academia).
         Mas estava escrito. Hillary, por ser fiel ao marido, Bill Clinton, por ter abraçado o Arkansas, e pela sua trajetória política, será que mereceria ser derrotada por essa nêmesis da Democracia, e que tanto mal - ele e seus cupinchas republicanos - promete fazer à amada Pátria americana ?
         Na política,  não há justiça, mas talvez, ao escolher Mr Donald Trump, o Povo americano tenha realmente pisado na bola (metáfora de erro crasso no soccer),  e não vai demorar muito para que disso, tanto os redneck, os moradores no cinturão da ferrugem, and you name it (em termos de listas de alegados infelizes da sorte) para explicar esse auto-golpe (na verdade, um murro contra si mesmo, aplicado pelo gigante americano ou o Capitão America - a escolha é livre).
            Agora, se querem encontrar o responsável pela vitória de Trump, não será o intelectual Mitch McConnell que de novo voltará à liderança no Senado, nem o gerrymander da Câmara de Representantes, esse segredo de polichinelo (que a corajosa mídia se empenha em não mencionar), nem Mr James Comey (parabéns, Obama, por escolher um republicano para o FBI!) - ele é na verdade o Povo Americano!
             E como a crueldade sói ser atributo dos medíocres e dos fracos da mente, preparem-se - e como dizia meu velho chefe Silveira - apertem o cinto, que aí vem muita turbulência!


(Fontes: mundo atual, eleições na América do Norte). 

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