segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Três milhões de pessoas?

                               
         
          O presidente-eleito Donald Trump afirmou em entrevista ao programa  60 minutos, da CBS, que após assumir a Casa Branca pretende deportar de imediato até três milhões de imigrantes com antecedentes criminais - ou ainda prendê-los.
          O 'método' a ser empregado pelo governo Trump é o seguinte: "o que a gente vai fazer é pegar essa gente que é criminosa, e tem antecedentes criminais, membros de gangues, traficantes, que são muitas destas pessoas, provavelmente dois milhões, podendo até ser três milhões, vamos tirá-los do país ou vamos prendê-los".
          Por sua vez, o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Paul Ryan - julgado fundamental na agenda de Trump no Congresso, tentou amenizar a promessa de ação imediata do presidente-eleito.
          É de notar-se que essa reiteração pelo Presidente-eleito da ameaça da campanha foi ao ar de forma na prática concomitante com os protestos de rua - pelo quinto dia consecutivo - que voltaram a ser realizados - um dos quais convocado pelos próprios imigrantes - contra a eleição do bilionário republicano para a Presidência dos Estados Unidos.
           Contudo, há uma lixiviação considerável das  promessas de Trump durante a campanha. Então, o republicano declarara que iria deportar "os cerca de onze milhões de imigrantes" - consoante estimativa das autoridades, que hoje vivem em solo americano de forma ilegal,  hispânicos na sua maior parte.
           Como se poderia qualificar o processo utilizado pelo candidato e depois pelo Presidente-eleito, quanto à determinação do número de pessoas a serem expulsas do país? Onze milhões (campanha); até três milhões (deportação imediata daqueles com antecedentes criminais, com total provável de dois milhões).
            Há uma inegável dança de números. Se depois da vitória,´esses números emagrecem, existe evidente constrangimento com os efeitos da promessa do candidato, ora eleito.
               O Speaker Paul Ryan, que preside a Câmara de Representantes, tentou amenizar a alegada promessa de ação imediata do Presidente-eleito: "Não estamos planejando uma força-tarefa para deportação. Trump não está planejando isso."
                Há várias questões aqui que carecem de ser esclarecidas. Dada a brutalidade dos números envolvidos, essa ação não será indolor, nem tópica. Ela envolverá muito sofrimento, causado não só pela sensação de injustiça que a drástica medida provocará - e não se poderá fingir que não haverá consequências traumáticas, que irão até a autodecisões extremas.
                Se o novo Governo americano pretende agir com tal brutalidade - deportar seja dois milhões, seja três milhões de pessoas humanas - vários e inelutáveis problemas sócio-políticos se colocam desde já.
                Admitido - para facilitar a discussão - que o Governo Trump pretenda tratar de forma cirúrgica e com a rapidez possível o processo de expulsão,  é importante ter em mente as variáveis de uma ação que vai atingir todo o território dos Estados Unidos da América, dado o seu escopo de extirpar os supostos indesejáveis para fins de deportação.
                 Quero crer que as autoridades governamentais da nova Administração Trump terão presente todas as questões envolvidas pela movimentação forçada de um número tão grande de pessoas.
                 Se o Speaker da Câmara de Representantes nos diz que tanto o Presidente Trump, quanto o novo Governo "não estamos planejando uma força-tarefa para deportação",  semelha de todo interesse conhecer qual será o processo a ser implementado.  Pois não creio que Mr Paul Ryan esteja cogitando de procedimentos cruéis e inusuais, como seria eventual caça a feiticeiras e mesmo feiticeiros, para eventualmente determinar quais fariam supostamente jus a tão pesada penalidade.
                  Por outro lado, é preciso não esquecer que medidas drásticas podem ter consequências igualmente negativas e não me reporto só à posição das comunidades-alvo. Ao retirar pela força esta comunidade de estrangeiros se estará atingindo igualmente às comunidades americanas, pois grande parte desses alienígenas exercem trabalhos na economia americana, seja nos pequenos, médios e grandes núcleos demográficos. A América muito cresceu por força do aporte das comunidades estrangeiras. Ver as listas demográficas desse Povo é uma viagem através de muitos sobrenomes, que, por força da própria permanência e do respectivo trabalho, se tornaram designações que se nos afiguram qual transcrição do sonho americano e da crescente presença do estrangeiro - seja ele um fugitivo político, um deslocado econômico, ou até mesmo vítima de perseguições a estrangeiros - que de forma conspícua agrega o seu quociente de trabalho e de cooperação à grande Nação americana.
                       O crescimento sócio-econômico e a riqueza demográfica dos Estados Unidos da América resultam dessas grandes ondas de migração que não pouco contribuíram para a riqueza econômica e industrial, a cultura e a abertura de novas áreas do conhecimento desse belo projeto conjunto do espírito humano, que é a transposição para a realidade de todos os dias do grande sonho de todos os americanos que o tornaram possível, de modo a transformar os Estados Unidos da América na Terra da Liberdade. Não a viram em vão os imigrantes, tangidos pela pobreza ou intolerância religiosa ou social, os amantes do governo do Povo, pelo Povo e para o Povo, vale dizer a liberdade política e ideológica, a famosa Estátua da Liberdade, que foi doada ao Povo Americano por grande e generosa Nação.
                          Tenha-se presente, por fim, que se o aporte do Estrangeiro, venha ele de onde vier, deva respeitar as leis e os costumes da grande Nação Americana, Ela tampouco pode esquecer a contribuição dada por tantas comunidades para o desenvolvimento e, porque não dizê-lo, para o progresso continuado dos Estados Unidos. Não há movimento mais difícil e penoso do que separar-se do próprio torrão natal. Se anima aos imigrantes o desejo de uma vida melhor, eles em sua enorme maioria o fazem com a mesma disposição que animara a tantos outros que adentraram os Estados Unidos da América tangidos por pobreza,  perseguição política e mesmo racial, na certeza de que aqui encontrariam o espaço em que pudessem se liberar do álgido abraço da miséria ou daquele sufocante da intolerância nos vários nomes de que se revestem  opressão e  repressão.


( Fontes: Declaração dos Direitos Humanos, Constituição dos Estados Unidos da América ) 

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