A revolta da hierarquia, que condicionou o violento
discurso de Mitt Romney contra Donald Trump, parece ter dado outros
frutos, que terão sido logrados seja
por achado fortuito (serendipity),
ou não.
O resultado prático de tal modificação
ainda não está preciso nas consequências que possa vir a ter. Nesse momento,
afigura-se bastante difícil determinar não só o que esteja mudando no entorno
republicano, senão qual seria o alcance dessa variação. Parece necessário que o
processo continue, para ver se há mudanças radicais no picadeiro, se serão
breve redimensionadas, ou se a aparente necessidade da mudança reflita apenas a
condição de que as coisas mudem para que tudo permaneça essencialmente como era
antes. O célebre pensamento de Giuseppe Tomaso di Lampedusa (1896-1957),
expresso no romance O Leopardo,
reflete a sempiterna busca pela direita da imutabilidade do processo, que
cumpriria resguardar.
Enquanto Donald Trump continua como o front-runner, surgiu no campo
republicano alguém que semelha dispor de condições para afrontá-lo em combate
singular.
A primeira ilação, ainda que
tentativa, é que se se reduz o campo adversarial, há indicações, posto que por
ora inconclusivas, da possibilidade de que um campo menor de candidatos possa reduzir
a eficácia do fator D. Trump.
Ted Cruz vem representando um
desafio à parte para o atual protagonista com vistas a eventual obtenção da nomination do Partido Republicano.
Apesar de sua relativa juventude, Cruz impressiona pela respectiva força dentro
do Tea Party, movimento inventado pelos irmãos Koch, e que se assinala pelo seu
reacionarismo zangado.
O crescimento de Cruz como
candidato republicano foi especialmente favorecido pela queda nos sufrágios
para o Senador Marco Rubio. Essa inesperada transfusão favorecendo Ted Cruz
pode haver ditado a sorte do Senador pela Flórida.
Nem tudo é róseo para Ted Cruz.
Nos estados ditos azuis, que são os que se inclinam para o Partido Democrata,
grita aos céus que o Senador pelo Texas tem enormes limitações.
Marco Rubio tem no seu estado - a
Flórida - o que seria baluarte de uma perspectiva de candidatura com algumas
possibilidades. A despeito de seu perfil que permitiria colher mais votos em
mais freguezias, parece que o eleitor republicano privilegia mais a capacidade
de ter mais força em um domínio específico, do que aquele de colher um pouco de
cada posição. Talvez seja esse suposto ecletismo que desagrade ao eleitor
conservador.
Contudo, se Donald Trump lograr o
feito de arrebatar os noventa e nove delegados da Flórida - o maior prêmio da
estação das primárias - muitas candidaturas no campo republicano terão recebido
golpe de que não conseguirão recuperar-se. E o mais ameaçado nesse campo é o
proprio Marco Rubio.
Quais foram os outros
resultados dessas primárias? Vitórias
difíceis de Trump na Lousiana e no Kentucky, com Ted Cruz mostrando bons
resultados. Na esteira da vitória de Cruz no Maine, contrariando os
prognósticos em favor de Trump, o texano ainda venceu com facilidade em Kansas.
Dessarte, os destinos de Ted Cruz e Marco Rubio parecem ligados, na medida em que o crescimento de um
(Cruz) se reflete no encolhimento do outro (Rubio)
Por fim, o debate marcou o
que pode ser um turning-point na
evolução da sorte dos pretendentes republicanos: há menor interesse em Rubio,
maior em Cruz, e súbito desponta um azarão, o governador Kasich, que à luz dos
recentes desenvolvimentos no largo quadro do GOP, teria ganho inesperada
relevância.
( Fontes: Giuseppe Tomaso di
Lampedusa; The New York Times )
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