terça-feira, 8 de março de 2016

O Fim da Impunidade?


              

         Parece estória de Xangri-lá ou da mítica terra da Cuccagna[1], mas a famosa omertà[2]  está indo para o beleléu. Para tanto, a regra do silêncio na mala vita aqui não prevalece , porque as vantagens do outro lado são maiores.

         A Lava Jato agradece. Com efeito, a chave do mistério está nos acordos de delação premiada. Os culpados têm a pena diminuída,caso cooperarem com a Justiça.

         Como o juiz Sérgio Moro não brinca em serviço,  a pressão aumenta para que os acusados, se desejarem valer-se da nova Lei, logrem obter a redução da inevitável e inexorável punição.

          No sistema, cartão vermelho para as trapaças. Se colhidos os suspeitos no intento de escaparem das duras penas da Lei, através de confissões incompletas ou mesmo enganosas, a respectiva falsidade colherá uma punição mais grave.

          Não sei se tal novo instrumento, hoje à disposição das autoridades judiciárias, provém do exemplo da luta da magistratura italiana contra o poder da Mafia, que a omertà[3] simboliza. Na verdade, isso tem pouca relevância.

          A legislação, tanto civil, quanto penal, não tem marca registrada, nem reserva de domínio. Assim, como a importada doutrina do domínio do fato foi tão útil para o magnífico trabalho do Ministro Joaquim Barbosa , enquanto Relator da Ação Penal 470,ao criminalizar o Mensalão (a primeira marca registrada delituosa do PT), agora nos chega o instituto da delação premiada - e não é à toa que os notáveis petistas, com Dilma à frente, tenham tentado estigmatizar esse recurso judicial, como se fora coisa de alcaguete...

           A Lei no capítulo mostra o quanto vale a flexibilidade relativa. Por que o criminoso - que abraça preciosos segredos - deve servir penas duríssimas, se a sua colaboração com a autoridade jurídico-policial pode aproveitar-lhe para a redução da pena respectiva ?  Como em toda regra, a falsidadade ideológica será punida com toda a severidade. A delação premiada só prevalecerá se houver boa fé, tanto do criminoso, quanto da autoridade responsável. E não me venham os cínicos de plantão com o sorriso escarninho de que isso é coisa de trouxa. Na verdade, o que sustenta a delação premiada e lhe dá força legal, é a convicção do criminoso de que, no caso, fora da lei, não haverá salvação. A boa fé tem de ser recíproca. Se há má-fé de parte do infrator, ele fará papel de tolo, pois a pena virá mais pesada se não cumprir com o acordo.

           É o que está ocorrendo na elucidação nos crimes da Lava-Jato. Bem fizeram os procuradores não se detendo apenas nos tubarões. O exemplo de João Santana, o marqueteiro do PT, é bastante ilustrativo:  a secretária Maria Lúcia Tavares, funcionária da Odebrecht, e responsável pela contabilidade de supostas propinas pagas por executivos da empresa, passou a colaborar  com os investigadores da Lava Jato. E essa colaboração é feita no contexto de acordo de delação premiada...

            Como indica a Folha, as informações da secretária Tavares podem ajudar a esclarecer repasses  feitos ao publicitário João Santana (atuante nas campanhas de Lula (2006) e Dilma (2010 e 2014).

          Há pesadas suspeitas de que a Odebrecht colaborou com o Caixa 2 em campanhas do PT, no esquema de propinas da Petróleo Brasileiro S.A.
 

          Planilhas encontradas com Maria Lúcia registram 41 repasses à "Feira" (que seria código para referência ao marqueteiro, segundo o MPF) entre outubro de 2014 e maio de 2015, no total de R$ 21,5 milhões.
         

           A Secretária Maria Lúcia aparece em e-mails sobre 'acarajés', código que é atribuído a repasses de propinas.
 

           Sem embargo, a força-tarefa se depara com dificuldades para acessar mensagens eletrônicas relacionadas ao empreiteiro preso Marcelo Odebrecht.
         

            Malgrado ordem judicial para entregar cópia  de tais mensagens, a empresa (Odebrecht) veio com a resposta  que sumira a conta de e-mail do executivo preso em Curitiba,  e não teria podido ser recuperada alegadamente por falta de back-up.

 
             Como postura processual,  a  Odebrecht continua a negar acusações de investigadores e delatores sobre envolvimento no Petrolão. Do valor dessas negativas julgará o leitor.

 

                                                                             ( a continuar )




[1] Terra fabulosa, em que todos vivem alegremente e sem preocupações (ital.) (Dic. Zingarelli)
[2] regra do silêncio (Sicília) na mala vita.
[3] O compromisso do silêncio pelos criminosos (na Sicília)

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