sábado, 5 de março de 2016

O Efeito Lula


                                                           
        Referida no blog de ontem, e colhida no site de  O Globo,  o espetacular novo desenvolvimento no contexto da Lava-Jato foi a convocação coercitiva do ex-Presidente Lula da Silva.

       Mais uma vez, avultam a energia e tino do juiz Sérgio Moro, que exarou a ordem judicial de colher o depoimento ex-vi do ex-Presidente Lula. A Ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, não acolheu a tentativa dos advogados do ex-presidente de anular o procedimento.

       Faz tempo que Lula aguardava a visita do Juiz Sérgio Moro. Como teve a demora da cautela, o ex-Presidente terá imaginado que o 'perigo' se afastara.

       Mas as questões da Lava Jato se acumulam. Estão aí o imóvel do Guarujá  e o sítio em Atibaia, com vários acréscimos, inclusive a antena para celulares, cordialmente colocada pela  OI , para que o 'dossier' de Lula, com os agrados das  empreiteiras e a entrada em cena dos laranjas, não continue a engrossar.

       Acordado por volta das seis da manhã, em seu apartamento em São Bernardo do Campo, o ex-presidente foi transportado para sala especial,   no aeroporto de Congonhas, aonde foi interrogado pelos procuradores do MP.      

       Sob investigação pelos Procuradores da República se  o ex-presidente teria sido beneficiado com desvios da Petrobrás, assim como em pagamentos por empresas investigadas de palestras e doações ao Instituto, as quais somam R$ 30 milhões (entre 2011 e 2014). Nesse sentido,  a operação cumpriu 33 mandados de busca e apreensão, inclusive em imóveis ligados a Lula da Silva, assim como na casa de Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha.

       Apertando o cerco também ao Instituto Lula - que teria repassado R$ 1 milhão à G4, empresa de um dos filhos do ex-Presidente. A esse propósito, o Procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, asseverou: "Ninguém está imune à investigação, seja aqui, em Curitiba, seja em Brasília". 

       Dentre os elementos colhidos, verificou-se que a empreiteira OAS pagou a mudança do ex-Presidente. Nesse sentido, e durante cinco anos saldou o aluguer de dez guardas-móveis usados para armazenar parte da mudança do ex-Presidente Lula quando ele deixou, por fim de mandato, o Planalto. Nesse sentido, a empreiteira desembolsou R$ 1,3milhão pelos conteineres. No contexto, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto indicou a dita empreiteira como pagante por ser "apoiadora do Instituto."

Conclusões.   

           O que O Globo noticia em página interna "aconteceu. Muita gente ainda duvidava, mas  a Lava-Jato bateu à porta de Lula.  O ex-presidente não foi preso, mas conduzido  por ordem judicial para prestar depoimento, no ponto mais extremo  dos quase dois anos de Lava-Jato, a maior operação de combate à corrupção já realizada no país."

             Ontem, foram reveladas passagens obscuras na existência  do carismático líder popular, que de torneiro-mecânico a líder sindical no interior paulistano, de fundador de partido (o primeiro criado por operários), e na trajetória já demasiado conhecida. O Instituto Lula, cuja presença tem crescido, repassou mais de R$ 1 milhão a empresas dos filhos do petista. Nesse contexto, a Lava-Jato suspeita que a tal entidade - que tem isenção de impostos - tenha sido usada para receber vantagens de empreiteiras investigadas por desvios de dinheiro da Petróleo Brasileiro S.A.

              No que concerne ao sítio de Atibaia e tríplex do Guarujá, não há mais dúvidas de parte dos Procuradores do Ministério Público Federal: ambos colheram a comovente ajuda para a família do ex-Presidente de parte de gigantes da construção civil, especialmente OAS e Odebrecht.

              Determinados os 'agrados' das empreiteiras, a investigação passa a cuidar de estabelecer uma relação entre pagamentos como os acima referidos, e o feirão de contratos de empreiteiras com a Petrobrás.

              Os Procuradores, na tradicional entrevista coletiva à imprensa dada depois de cada fase da Lava-Jato, fizeram questão de enfatizar que "qualquer um no Brasil está sujeito a ser investigado".  Timbraram, no entanto, em acrescentar que, no momento, "não há qualquer motivo para pedir a prisão de Lula", disse o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima.

                Releva notar, contudo, que o simples fato de mencionar o que não é mencionado, mesmo que sob forma negativa, há a clara admissão que  é uma hipótese presente e que está sobre a mesa.

                  Após deixar a sala da Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, Lula seguiu para a sede do PT, no centro de São Paulo. Lá o esperavam, com presumível ansiedade, cerca de duzentos militantes do PT e da CUT. Ao adentrar o salão, a fisionomia caída e abatida cede lugar ao comportamento inflamado do ex-operário e delegado sindical. Em discurso, faz uma defesa seletiva das investigações que sofre, e apela para que os movimentos sociais o defendam.

                   Brilha no olhar a verve do orador sindicalista e depois político, que, cercado pelos companheiros, sai de seu canto e parte para um ataque, decerto desde muito contido. Na reportagem de O Globo, Lula é descrito como encarnando o "animal político" a que se teria referido Aristóteles no intróito da sua obra "Política".

                    Há muita confusão a respeito do termo, mas o meu grande amigo e colega Pedro Neves da Rocha, se cá estivesse ainda entre nós, não falharia em relembrar que Aristóteles, o grande Estagirita, na verdade se teria referido a "ser político" e não a "animal político", eis que o grego antigo admite as duas traduções.

                     O que o grego clássico não admite é traduzir-se  alétheia  por um conjunto de palavras, quando o vocábulo helênico significa simplesmente verdade.

                      A par disso, o ex-Presidente Luiz Inacio Lula da Silva mostrou que, apesar dos trancos e barrancos da vida, e do choque na manhã de ontem, guarda muito vivo o talento de orador, e, em especial, de adaptar-se a uma situação dita difícil ou até mesmo desfavorável para através do verbo e da capacidade do grande tribuno que é, de assenhorear-se com  habilidade de  questão delicada e dela valer-se em própria defesa, captando os mananciais de simpatia que ele vem instrumentalizando há decadas.

                         O seu comportamento no velho cenário sindical reflete essa capacidade, que pode dormitar se porventura atravessar sáfaros caminhos. Mas redespertará breve, nos olhos matreiros, na expressão do orador  que parte em busca de simpatia e sobretudo empatia. Dessas mutações - em que pode estar a força do líder - há muito que ver, se a sua até curta intervenção no sindicato de São Paulo terá sido gravada para o olhar dos pósteros, seja ele interessado ou não.

                           Essa estória mal começa, por isso semelha cedo para que se trace os seus contornos nas brumas do futuro.

 

( Fontes: O Globo, Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo; "Crítica do Animal Político", de P.C. Neves da Rocha  - disponível na internet)

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