sexta-feira, 1 de maio de 2015

Promotora acusa policiais de Baltimore


                                    

          A promotora afro-americana Marilyn J. Mosby – eleita para o cargo há cerca  de quatro meses – surpreendeu Baltimore ao indiciar nesta sexta-feira, 1º de maio, seis agentes policiais, por prisão ilegal e pela morte de Freddie Gray.

          Mosby, a promotora estadual para Baltimore, lavrou a acusação pouco tempo após receber o parecer médico-legal que determinara haver Gray morrido por homicídio.

          Note-se, que na sua investigação, divulgada um dia antes, a polícia procurou afastar qualquer responsabilidade dos policiais pela morte da vítima.

          A medida tomada pela senhora Mosby foi recebida com uma ovação no Monumento às vítimas da guerra. Enquanto os afro-americanos manifestavam satisfação, acrescida pela rapidez do procedimento da promotora, o cordão policial, com uniforme especial para enfrentar demonstrações violentas, contemplava impassível o júbilo da comunidade negra.

          Conforme o despacho da Sra. Mosby, Gray sofreu lesão fatal na coluna vertebral a 12 de abril, ao ser transportado pela van policial. Nada ocorrera quando fora detido. Segundo a promotora, a lesão se deveu à omissão dos policiais de pôr cinto de segurança em Gray.  “O sr. Gray sofreu grave lesão no pescoço, em consequência de ter sido algemado, com os pés imobilizados por grilhões, enquanto  seu corpo não o foi, sendo deixado solto no assoalho da caminhonete da polícia de Baltimore.

          “A par disso, apesar de repetidas paradas para verificar da situação de Mr. Gray, o motorista da caminhonete, policial Caesar R. Goodson Jr. e outros policiais nunca afivelaram o cinto de segurança da vítima, que por isso ficou várias vezes com o rosto contra o chão da van,  com as mãos presas nas costas”.

           A promotora inculpou o policial Goodson por assassínio em segundo grau, que é o indiciamento mais grave dentre os seis policiais.  Goodson foi também acusado formalmente de homicídio involuntário, agressão e má-conduta nas respectivas funções.

           Ainda segundo a promotora, a condição de saúde de Gray se deteriorou, ao ignorarem os policiais os seus apelos por cuidados médicos, como  também não atentaram para os óbvios sinais de que o seu estado se tornara crítico.  Em certo momento, quando os policiais tentaram ver como ele estava, o Sr. Gray não respondeu à intervenção policial. Mesmo assim, os seis policiais nada fizeram.  Ele morreu por essas  lesões sofridas em uma semana.

            A conduta policial foi censurada pela promotora  quase a partir do instante em que a polícia abordara o Sr. Gray.  Não havia motivo provável para prendê-lo, e por isso a detenção foi considerada ilegal.  Os policiais o acusaram de portar um canivete com mais de uma lâmina, mas a sra. Mosby afirmou: “A faca não era de lâmina cambiável, e é legal pela lei do estado de Maryland.”

            Os outros cinco oficiais que participaram da trágica operação policial também foram indiciados pela promotora. Nesse particular, pesam contra os policiais  Edward M. Nero e Garrett E. Miller as acusações de ataque, má-conduta na operação, e prisão injustificada.

            O sindicato policial defende a conduta dos seis policiais, e requereu da Sra. Mosby que abandone o caso e o repasse a um promotor especial. Tal pretensão foi por ela prontamente repelida.  Nesse contexto, Gene Ryan, o presidente do sindicato policial, ponderou que ela tinha conflitos de interesse, inclusive pelo fato de que foi apoiada politicamente pelo advogado da família Gray, William H. Murphy Jr. Na mesma linha, o chefe do sindicato assinalou que o marido da promotora é vereador da cidade de Baltimore, e que o futuro político dele será atingido diretamente, para o bem ou para o mal, pelo resultado da investigação da Sra. Mosby.

             A comunidade negra de Baltimore recebeu com júbilo a atitude da promotora. Muitos esperam que a sua ação contribua para acalmar as manifestações de protesto dos afro-americanos.

             O Prefeito Rawlings-Blake declarou que a maior parte dos policiais da cidade de Baltimore tem boa índole, mas acrescentou: “Para aqueles que preferem agir com violência, brutalidade e racismo, quero ser bem claro: não há lugar no Departamento Policial de Baltimore para eles.”

              Quando a van policial chegou ao Distrito Ocidental , e os policiais tentaram removê-lo, Gray não mais respirava. Convocado um paramédico, se determinou que Gray tivera parada cardíaca.  Ele foi então conduzido às pressas para o hospital.   

             O presidente Barack Obama preferiu não manifestar-se sobre as acusações. Disse que lhe interessa que o sistema de Justiça funcione a contento. “O que o povo de Baltimore quer mais do que outra coisa é a verdade. Isso é o que também espera o Povo americano”.

 

( Fonte:  The New York Times  )

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