sábado, 2 de maio de 2015

Por que acusas, Lula ?

                                       

          A ambição desmedida faz esquecer não só as promessas, mas as obras feitas. Ei-lo de retorno – se, por acaso, antes pensara recolher-se – a apontar, na foto da Folha, nas seis colunas da primeira página, o cartaz ‘Abaixo Plano Levy’.

          Será tanta a tua ânsia de voltar, que terás acaso esquecido de que o que aí está é também obra tua, pois Dilma Rousseff a tiraste da algibeira para suceder-te. Se tal empresa só é possível no Brasil, pelo despreparo de boa parte do eleitorado,  teu comportamento agora desperta espécie, como se no afã de regressar, ages como se nada fora? E, sem embargo, não te faltaram ponderações, como abalizado comentarista não deixou de sublinhar.

          Pensavas talvez que ela se contentaria com um único mandato – e a sua desastrosa travessia confirma que tal seria melhor, inclusive para a própria – mas assim não estava escrito e a ambição fê-la dar um passo além.

          Já dizem os franceses que quanto mais uma coisa mude, mais ela fica igual. E ao ver-te verberar em praça pública – e as velhas lembranças das grandes multidões em praça pública, que foram rampa de lançamento para o futuro na política, te sacudiam a memória – hão de pensar no primeiro avatar de Lula o sindicalista.

          Nas reivindicações sindicais – derrotar as MPs 664/665 e com elas o Plano Levy – esqueces acaso o ‘Lula Paz e Amor’?  Em 2002, com postura de estadista, venceste afinal uma eleição majoritária, e chegaste ao Palácio do Planalto, meta inatingível por três eleições ?

           Pensas ser possível desta feita de novo empolgar o poder, apoiado no teu carisma, mas esquecido do líder conciliador, que se votava a continuar a obra de FHC, posto que o PT se aferrara à oposição sem quartel, contra o Plano Real, inclusive intentando o impeachment?

           E o que imaginas conseguir com essa derrubada do Plano Levy?  Ele é um técnico respeitado, ainda que jovem, e foi convocado por tua criatura para salvar a economia do Brasil, após a desastrosa gestão do Dilma I.

           Como o teu Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, te acertou as contas – apesar do excesso nos gastos correntes, motivados por teu aparelhamento do poder estatal – e depois, infelizmente se foi, levado pelo caso do caseiro – por que ages como se nada tenhas a ver com as imprudências e equívocos na economia do teu primeiro poste?

           Pensas de novo empolgar o poder, aferrado à cediça fórmula de trabalhar com a esquerda, para pavimentar-te o caminho?  Derrubar o Plano Levy não é demagogia barata, por que a quem interessa manter o que aí está, com a inflação de volta?

           Como deves ter aprendido a lição, se a tua discípula nos fez reencontrar o velho dragão, não será pela farra financeira, e os aumentos ilusórios, que vamos lograr reimplantar a estabilidade. Se o erro foi teu em recomendá-la como tua sucessora, por que te empenhas em pôr abaixo o trabalho do jovem Levy?

           Há muitas nuvens no teu horizonte. Em 2002 conseguiste alcançar a ambicionada meta. Mas hoje discutimos muita coisa que ainda te diz respeito, e que se refere ao Petrolão, em que ainda é preciso desvendar um segredo que para muitos já não o é.

           Nunca se terá visto coisa similar, muitos se animarão a dizer. No entanto, a história é velha senhora que nos impinge estórias incríveis, ou condena, pela ignorância, a repetir intentos que podem acabar ou em tragédia, ou ópera-bufa. Já nos disse outro senhor, palmilhando a mesma trilha, que ignorar o passado é condenar-se a repeti-lo.

           Por isso, quem se aferra a subir na tribuna, que tal um momento de análise ? O que está aí, quer queiras , quer não, não só os cartunistas, mas também o povo vai vendo como obra em que tens muita responsabilidade.

           Tu a impingiste à Nação, como a grande gestora. No primeiro mandato, ela aprendeu certas coisas, mas desfez muitas outras. E não só pôs a perder aquela conquista da nacionalidade – que o PT não teve a grandeza de assumir como também sua – mas aprontou um sem número.

            No teu primeiro mandato, um ministro se foi como se fora chefe de governo. No teu segundo, vendeste a mulher do Lula como se fosse primeiro ministro.

             Em política, o assim é se te parece, é máxima sinuosa, com prazo de validade bastante curto.

             Há políticos que pensam ser o poder eterno. O seu erro está não na máxima, mas em querer dela apropriar-se.

 

( Fontes: Folha de S. Paulo, Coluna R. Noblat, O Globo )

Nenhum comentário: