sábado, 30 de maio de 2015

Dilma, Lula e a Economia


                                        

           Os resultados do primeiro trimestre de 2015, com a divulgação dos dados do IBGE, já eram esperados. A retração da economia, para senti-la, não se carece de estatísticas. Ela é visível em toda parte, com as férias coletivas e a profusão de ofertas pela indústria automobilística, que, sem embargo, não conseguem esvaziar os pátios das fábricas. Também o consumo das famílias, tangido pelo incremento da inflação, se retrai. E a ciranda continua nos anúncios e nas liquidações que não motivam os compradores, e, em consequência, o desemprego aumenta, e não só nas chamadas ‘feitorias’ que são as sucursais das grandes marcas europeias e japonesas que, em outros tempos, serviam para encher o caixa das matrizes em crise.

           Diante do desafio da queda no consumo, serão de pouca valia as chamadas promoções, as datas trazidas às pressas da atividade comercial de além-mar, e a enxurrada de propaganda com que estabelecimentos às moscas se lançam na busca frenética de artigo de repente em exacerbada escassez: o freguês,  ele próprio com o fantasma do desemprego a rondar-lhe a porta, transfere as compras supérfluas para um futuro menos incerto.

           Seria a classe política a única a talvez se locupletar com esse clima de tempos ruins, tempi bui (tempos escuros), como diriam os primos italianos, que em tantos aspectos – nos bons e nos maus – se assemelham à nossa gente.

            Dessa feita, porém, não há nada no estrangeiro – a grande recessão nos Estados Unidos, v.g. – que sirva de desculpa à la carte para a classe política do PT que, contra vento e maré, continua no poder. Por quanto tempo, já é outra estória.

            Assim, não há jeito de transferir para os estranjas a má-surpresa da crise estourada com a falência do Banco Lehman  Brothers e todas as irresponsabilidades que cercaram a inchação do mercado das hipotecas, incentivada pela insana especulação de Wall Street.

              A nossa ressaca o mago Lula chamou de ‘marolinha’.  Não foi tão reles quanto o torneiro-mecânico tentou empulhar ao mercado de Pindorama, pois a causa de além-mar, com as devidas atenuações, existia.

             Hoje, a recessão na economia que se prefigura só tem uma causadora primária, e as suas iniciais são... Dilma Rousseff.  Se se quiser ir um pouco além, chafurdar um pouco mais nesse fétido lodo, há um grande responsável, além da aprendiz de feiticeira que o povo brasileiro elegeu em 2010.

             Esse senhor continua muito presente no grande palco do Brasil. A sua responsabilidade é grande, pesada mesmo, porque não trepidou em indicar alguém para o seu lugar, que ele sabia não ter condições de preenchê-lo.

             Não direi que Lula da Silva fosse um gigante na cadeira presidencial. Não foi por acaso que José Dirceu, no discurso de despedida, quando teve de sair à carreiras do Planalto, escorraçado pelo escândalo do Mensalão, reportou-se ao “meu governo”, como se dele fosse a responsabilidade executiva de tocar a alta administração.

             Lula mostrou ser um mestre na própria salvação in extremis.  A princípio, choramingou na mídia, e pediu desculpas. O tempo e o Rio do Letes – que, por aqui, tem efeitos miraculosos – cuidaram de que sobrevivesse, vencendo o rival tucano da vez.

             Vimos há pouco que a verdade para ele pode ser compartimentada, desde que soprada para o companheiro de lutas sindicais na Banda Oriental.

             Não há dúvida que além de mestre na sobrevivência, terá visão um pouco elástica dos canais de financiamento político.

             Mas a sua atividade não se confina a essa capacidade imitada de Penélope de tecer de noite o que desfará no dia seguinte.

              Contudo, e data vênia, sobre seus ombros recai a responsabilidade do quadriênio desastroso da pupila Dilma Rousseff. Pensando em si – e só em si, ele a apresentou ao Povo brasileiro como a candidata ideal.

              Começava, então, a famigerada série dos Postes, com que ele designa as pessoas que, como Coronelão supremo, indica para que o Povão eleja. Note-se, porém, que sobretudo no caso em tela, ele o fez pensando passar o governo para quem o restituiria, transcorridos quatro anos.  Errou, porque menosprezou  a força inercial da Presidência. E, assim, a discípula pôde, contra vento e maré, e a custas de mentiras mil,  reeleger-se, ainda que por escassos três por cento!

              Escarmentada, com as feições contraídas, no gesto o temor dos escândalos que não mais  pode confinar no cercado do silêncio,  a arrogante, menosprezante Dilma dos debates, que a tudo de ruim afastava, logrou manter-se na cadeira.

             Para salvar-se, convocou a Joaquim Levy, a quem ora presta o apoio que pode  para que ele a salve da rocha Tarpeia[1] do Impeachment, e de outros percalços, enquanto ruge a plebe ignara e se desembesta o mar proceloso das assembleias, em que cada dia trata de estender-lhe a mão.

           Mas em meio à Tempestade, enquanto a discípula se esfalfa em luta ingente, não é que o Grande Líder, com o pó de perilipinpim, tenta fazer com que o seu amado povo se olvide de que essa infernal herança de um mau quadriênio, nós a devemos ao seu egoísmo. Em quatro anos apenas, a grande chefe e gestora logrou com loucuras várias, como relançar a inflação, destrambelhar a economia e atacar o Plano Real e a sua chave de abóbada – a Lei de Responsabilidade Fiscal – criar as crises do presente, como esta vítima atual da inflação alta e da consequente baixa propensão ao consumo – em que são pavimentadas as vias expressas da Carestia e da Estagnação econômica.

              Ora, dizei-me.  Pode-se responsabilizar quem não estava preparada para tal desafio? Será que também na crise presente – e há outras que tentam fugir da foto – pode-se em sã mente dizer que ela, a fiel secretária do Máximo Líder, é na verdade a responsável por tudo de ruim que ora nos cai na cabeça?  




[1] Rocha Tarpeia – rochedo na colina do Capitólio, de onde, na Antiga Roma, eram lançados  os assassinos e os traidores.
 
 


( Fontes:  O Globo, Monteiro Lobato, Abel Gance )

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