terça-feira, 12 de maio de 2015

E Frau Merkel foi a Moscou...

                      

       Segundo assinala o New York Times, dos 68 líderes convidados, só 27 atenderam ao convite de gospodin Vladimir V. Putin. Referira ontem que Xi Jinping, o presidente da RPC, tinha sido a presença mais relevante. Também compareceram à parada militar Pranab Mukherjee, da Índia, e os presidentes de Egito, África do Sul, Cuba e Venezuela.

       Sem embargo, a Chanceler da Alemanha, Angela Merkel, consoante disse,  sentiu-se   moralmente obrigada a vir, eis que a URSS perdeu no conflito mais de 26 milhões de pessoas. Nesse sentido, a chefe do governo da RFA declarou ser importante que se preste tributo à Nação russa e aos soldados caídos.

       Como seria de esperar, Putin tentou instrumentalizar a visita da Merkel, junto com a de outros líderes mundiais, para sublinhar que a crise com a Ucrânia não deixara a Rússia isolada.

       No que concerne à Grã-Bretanha, França e Estados Unidos (cujos líderes não compareceram) ele agradeceu a contribuição para a vitória. Nesse contexto, há interesse em notar que o país que deu o maior aporte para a URSS, com o lend-lease, nesse grande desafio,  foram os EUA, a que o presidente russo cuidou de mencionar por último...

       Vladimir Putin concedeu, outrossim, audiência de duas horas à Chanceler Merkel. Não obstante, enfatizou  que seis mil empresas alemãs operam na Rússia, e que gostaria de ver “os obstáculos removidos do comércio” (reportava-se aos sanções impostas pelo Ocidente a Moscou pelo ataque à Ucrânia).

        Nesse contexto, Frau |Merkel observou: “Temos procurado mais e mais cooperação nos últimos anos. A criminosa e ilegal anexação da Crimeia e a guerra na Ucrânia oriental acarretaram sérios obstáculos para essa cooperação.”

         Os dois líderes reiteraram o seu apoio ao novo cessar-fogo de Minsk, não obstante a sua falha implementação.

         Sem embargo da intervenção russa – tanto aberta, quanto dissimulada – altas autoridades russas tentam espalhar a ideia de que a questão ucraniana não passa de um litígio doméstico. Segundo esta peculiar visão do Kremlin, tanto a Rússia quanto a União Europeia deveriam encaminhá-la para uma solução, enquanto elas próprias deveriam concentrar-se em questões mais amplas e mais importantes.

          Essa cínica interpretação da agressão russa à Ucrânia, seja pela anexação da Crimeia (através de soldadinhos com uniforme descaracterizado e um referendo ilegal, mal redigido e aprovado às carreiras), seja pelo armamento dado aos ‘rebeldes’, seja pelas incursões pontuais de ‘voluntários russos’ quando a sorte da refrega pendesse para a Ucrânia, é obviamente uma estória que não corresponde à realidade.

          Desperta atenção que os argumentos de Putin & Cia. refletem com suas despudoradas mentiras antigas ações da Alemanha nazista, e em menor grau (porque com menor poder) da Itália fascista para descrever as suas intervenções em países vizinhos mais fracos,

         Por outro lado, Putin ( e a sua diplomacia ) contam com divergências entre os membros da União Europeia. Nesse sentido, esperam que na cimeira europeia do próximo junho, os membros da UE se vejam obrigados a interromper as presentes sanções financeiras, de defesa e de energia contra a Federação Russa.

        Aumentou a confiança de Putin porque o cenário econômico não está tão ruim como há alguns meses atrás. Houve certo aumento na cotação do barril de petróleo –  a principal mercadoria de exportação da Rússia . O rublo russo se estabilizou em 50 para o dólar estadunidense, o que é bastante mais alto do que a cotação pré-crise de 34 rublos por dólar, mas bastante mais baixa do que a volatilidade cambial anterior.

        A contração do PIB é calculada pelo Banco Mundial em 3,8% a.a., enquanto a inflação se acha em 17%.

        Putin não é tão otimista que pense no cancelamento das sanções. A sua esperança está na discordância dentro da U.E., o que conduziria ao enfraquecimento das sanções.

        Também aqui o remédio do Senhor do Kremlin se pauta pelo exemplo dos ditadores do período de entre-guerras: atendidos os respectivos interlocutores, a combinação de ameaças e de declarações pacifistas poderiam lograr os seus objetivos.

         Pelas declarações do homem comum russo, se tem ideia do êxito da campanha de desinformação da mídia russa, sob a orientação de Papai Putin. Estima-se o afluxo à parada em cerca de quinhentas mil pessoas. Inquiridos, muitos estão perplexos pela ausência de Barack Obama e dos demais líderes ocidentais.

         Quanto ao apoio internacional recebido pelo Presidente russo pela sua ação, não deveria ser sequer explicitado, eis que o próprio nível e qualidade da manifestação já lhe desmerece qualquer aporte. Com efeito, o mais vocal foi o do nonagenário Robert Mugabe, do Zimbabue – que não se pejou de declarar que ambos (Rússia e Zimbabue) permanecem juntos porque os dois lutam contra as sanções...

 

( Fonte:  The New York Times )

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