quarta-feira, 20 de maio de 2015

Cidade Maravilhosa ?

                           

        Até que ponto a marchinha Cidade Maravilhosa, composta em 1934 para o carnaval de 1935, corresponde à realidade do dia-a-dia do carioca ?

        Composta por André Filho, cantada por Aurora Miranda, e com arranjo de Silva Sobreira, gravada em disco de 78 rpm, alçada mais tarde à condição da hino da Guanabara, desde muito era a música que todos cantavam na simplicidade da letra, e pela cadência triunfalista de seus acordes.

        É difícil encontrar por essas bandas quem não terá entoado o estribilho do grande sucesso, tantas vezes cantado pela irmã de Carmen Miranda, que logo sentira a potencialidade da marcha de André Filho:

        Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil,

        Cidade maravilhosa, coração do meu Brasil.

        Se por acaso, ouvirmos a velha gravação, tingida pelo romantismo de antanho, ela ainda guarda frases de que será fácil entoar a cadência:

         Jardim florido de amor e saudade,

         Terra que a todos seduz,

         Que Deus te cubra de felicidade,

         Ninho de Sonho e de Luz.

        No entanto, até que ponto esta marcha de trinta e cinco pode continuar a evocar-nos a cidade em que vivemos, assim como entoá-la ao cabo dos bailes carnavalescos, como era usança?

         Feita no tempo em que a mui leal e heroica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro era o principal centro do Brasil, o seu louvor da Capital Federal, com o epíteto – Cidade Maravilhosa – que até hoje, perdida a categoria de Capital Federal, levada para a poeirenta Brasília em 1960, o Rio de Janeiro, quiçá pela sua beleza natural, continuou a ser chamado de Cidade Maravilhosa.

          Até que ponto tal epíteto, esse cognome, não é aderência do passado, velho laurel de que a bela cidade reluta em abandonar?

          É o que me perguntei hoje, ao ler no site de O Globo da morte do cardiólogo ciclista, Jaime Gold, de 55 anos, que, esfaqueado perto da curva do Calombo, na noite de ontem, foi encontrado desacordado na ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas.

            Levado de ambulância para o hospital Miguel Couto, e operado de urgência, ele não resistiu aos ferimentos.

            É o caso de perguntar, em que mundo e em que cidade nos encontramos?

            Pode-se ainda falar de “cidade maravilhosa” no Rio e sem dúvida em outras capitais do Brasil de hoje? Com todas as estórias sobre a cordialidade de nossa gente, nem os jornais, nem a internet, nos falam de pessoas que possamos imaginar continuem a andar pelas praças, ruas e avenidas citadinas na atmosfera alegre e sem cuidados da marchinha de André Filho.

             Depois de um dia de estudo e trabalho, para o médico pareceu fosse hora de pedalar a sua bicicleta no cenário da Lagoa Rodrigo de Freitas. Ali um prefeito providenciou  ciclovia para que se pudesse circular sem perigo no recortado  e belo percurso do entorno da Lagoa.

             Mas agora os grandes espaços – seja no aterro do Flamengo, seja na Lagoa, seja em todas as ciclovias que a municipalidade criou para a gente carioca – viraram ermos, terreno propício para ataque a civis indefesos, na maioria pelos chamados di menores.

             São jovens crescidos, em geral armados de facões e estiletes, que vagam com o cair do crepúsculo e da noite, por esses grandes espaços, que acreditam promissores, para a rapina de que vivem.

              Como todos os predadores, são espécie covarde, que não se arrisca em lugares que não sejam ermos, ou que pelo atropelo – e é esse o formato no centro citadino – torna possível furar (como dizem) os infelizes, seja por faltar-lhes qualquer defesa, seja por confundir-se no bulício e atropelo das quase multidões.

               Para eles, a temporada de caça está sempre aberta. Nos largos espaços e nos pitorescos recantos da Cidade Maravilhosa, não há polícia à vista, nem patrulhamento que honre esse nome.

               Se algo de funesto acontece, como na morte do professor ciclista na Lagoa – pois ele não resistiu às facadas desses jovens sem responsabilidade penal – aí então se ouvirão na mídia, e lerão na imprensa, que  a PM lamenta o ocorrido, e que está tomando as devidas providências.

                Não sei que providências são essas, mas me recordo sempre da frase de vizinho que a propósito de segurança, disse com o conhecimento de causa do carioca:

                “No Rio de Janeiro, quem cuida da segurança é Deus.” 

 

( Fontes:  Rede Globo; Site de O Globo )                          

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