domingo, 10 de maio de 2015

Colcha de Retalhos C 17

                                   

A Parada de Putin



        O Dia da Vitória é o feriado russo mais importante no aspecto secular. Ele comemora o longo padecimento da URSS sob o ataque nazista, além de acentuar o papel da Federação Russa, como força de paz e segurança.

        Refletindo o crescente enfoque belicista utilizado pela presidência de Vladimir Putin, a parada deste ano representou o maior desfile militar encenado pelo Kremlin desde o colapso da União Soviética, no início dos anos noventa do século passado.

        Não foi decerto por acaso que o governo Putin pôs em campo um grande número de soldados, sem dúvida para sublinhar a força de seu exército. Se constitui, sob certo aspecto, uma visão um tanto retrô de desfile militar, cuidou-se também dos progressos tecnológicos do poderio do urso russo. Passaram pela Praça Vermelha – que nos recorda o triunfalismo dos espetáculos passados, sob as vistas do Politburo reunido no monumento dedicado a V. Lenin – tanques de alta sofisticação. Em especial, o tanque Armata arrancou muitos aplausos. Também desvelado por primeira vez o pesadão e lento lançador de mísseis ICBM (intercontinentais) RS-24 Yars, apresentado ao povão junto outros novos e menores veículos militares.

         Na sua fala para as tropas e os veteranos reunidos,  Putin disse que a carnificina do último conflito mundial sublinha a importância da cooperação internacional, mas “em passadas décadas vimos tentativa de criar um mundo unipolar”.

         Essa frase – que é óbvia indireta contra os Estados Unidos – tem sido usada amiúde pelo atual regime russo.

         Pode-se, outrossim, ler na quase completa ausência de líderes europeus da cerimônia um reflexo da atmosfera glacial provocada pela a guerra não-declarada, mas bastante manifesta de Putin contra a Ucrânia (já lhe arrancou em abril de 2014 a península da Crimeia, o que fez despencar sobre esse território antes ucraniano, uma série de sanções para marcar este grave crime contra o direito e os tratados internacionais).

          Somente o grande vizinho a oriente, Xi Jinping, presidente da República Popular da China, dentre os grandes desse mundo, compareceu.

            É de notar-se que não será sem efeitos negativos internos para o Império russo que continuará o ataque à vizinha Ucrânia. Embora almeje emular a antiga União Soviética, um perfunctório exame nos atuais mapas políticos mostrará que o reino de Putin encolheu deveras em relação  à antiga segunda Superpotência.

            Com a queda no valor do barril de petróleo, que é a principal mercê de suas exportações, o esforço bélico continuará a exigir prestações da economia russa que hão de provocar inflação interna, além de eventual descontentamento, sobretudo se aumentarem os regressos das chamadas ‘bodybags’ de voluntários russos para o solo da mãe pátria.

            É interessante recordar que Boris Nemtsov, ex-primeiro ministro de Ieltsin, homem honesto e popular,  recentemente assassinado nas cercanias da Praça Vermelha, por um contract-killer (matador contratado) ainda não identificado, pretendia realizar na mesma semana comício de repúdio à guerra da Rússia contra a Ucrânia.  

        O próprio discurso de Putin, acusando indiretamente Washington de querer monopolizar o poderio militar mundial, parece já sofrer da doença infantil de Estado insatisfeito com a respectiva situação.

        Ele sofre de grandiloquência dos que buscam lugar ao sol, ou substituir-se aos destroços da União Soviética, abatida pelo princípio das nacionalidades, que tanto preocupara Vladimir Lenin a ponto que confiasse a Joseph Stalin a responsabilidade da pasta encarregada das diversas nacionalidades que compunham o Estado comunista. Só alguém com a paranoia, a maldade, a crueldade e a determinação do antigo seminarista seria capaz de desempenhar o encargo com êxito.

        Putin pode até pensar em reverter o que ocorreu em 1992. As condições, no entanto, mudaram bastante. A sua sinuosa, mas contínua, agressão à Ucrânia faz parte desta sede de recuperar o fastígio anterior.

        Não será pela fraqueza e a tentativa de composição com o Senhor do Kremlin que se conseguirá aplacar-lhe a ânsia de transformar a Rússia de hoje, justamente apodada por Obama de poder regional para uma eventual potência mundial (e atente o leitor que não agrego super à potência).

        Ao lado do Império dos tzares (hoje, a despeito dos esforços de gospodin Putin, com reduções substanciais), a oriente surge o velho Império do Meio. Não é por acaso que Xi Jinping é o mais importante conviva do feriado do Dia da Vitória.  A RPC é hoje tão ou mais ditatorial do que a Rússia, e dispõe de PIB que se aproxima do da atual superpotência. Aí está o poder que se contraporá ao americano no curso deste século XXI. Para o bem da Humanidade, importa que esse prélio seja pacífico e se limite à economia, à ciência e tecnologia, e às letras.

        Seria de todo interesse para Beijing que a China se tornasse mais aberta e democrática, como a deseja o prêmio Nobel Liu Xiaobo, que hoje está trancafiado em masmorra interiorana. O poder chinês nada ganha com o aferrolhar por Xi Jinping das poucas liberdades que lá persistem. No início do século passado, a Imperatriz Ci Xi acabara de instituir a democracia coroada. Não foi por culpa sua, e sim das Parcas, que o respectivo projeto não vingou.

          Por isso, é importante que a democracia volte para a China. Quanto à Rússia, a cleptocracia de Putin – tão bem analisada por Karen Dawisha – não é decerto a chave do futuro.

          O regime democrático – e não o autoritarismo vigente em Moscou, que, ao parecer, precisa de guerras e anexações de terras alheias para projetar-se – seria também com um bom governante oportuna benesse para esse grande país.

 

O  Porsche para a Socialite

 

            Continua a repercussão do empréstimo-amigo, concedido pelo então Presidente do Banco do Brasil e hoje, por determinação de D. Dilma, presidente da Petróleo Brasileiro S.A., Aldemir Bendine, à sua cara amiga, a socialite Val Marchiori.

            Por sua ordem, e driblando regras internas do B.B., concedeu-se R$ 2,79 milhões à Torke Empreendimentos, empresa registrada em São Paulo por Marchiori.

            Aprovado o limite de crédito de R$ 3 milhões, com recursos do BNDES, subsidiados pelo governo a juros de 4% a.a., foi dada a luz verde para a aquisição de cinco caminhões, em abril de 2013. Liberado o dinheiro pelo B.B. em agosto, o valor da aquisição ficou abaixo do limite, em R$ 2,79 milhões. 

            Com a sobra restante do limite de crédito, Val Marchiori pediu para ampliar  e usar o valor restante do limite de crédito (cerca de R$ 200 mil) para a compra de carro de passeio (um Porsche branco).

            A solicitação foi feita, apesar de o BB não costumar autorizar o uso de “sobras” de limite de crédito para finalidades distintas do objeto de financiamento. Mas não foi o que ocorreu.

             Val conseguiu o financiamento desejado. O banco, no entanto, disse que o financiamento não empregou recursos do BNDES.

             Como assinala a Folha, Aldemir Bendine e Val Marchiori são amigos. Assinala-se que a socialite se hospedou no mesmo hotel utilizado pelo presidente do BB, durante duas missões oficiais desse Banco, uma na Argentina e outra no Copacabana Palace, no Rio.  Bendine observa que a estada nos mesmos hotéis, e nas mesmas datas, foram tão somente coincidências.

              Não obstante, segundo se noticia, a operação é alvo de inquérito da Polícia Federal, aberto a pedido do Ministério Público Federal em São Paulo.          

 

Luiz Fachin, a indicação de Dilma     

 

               A tarda indicação por Dilma Rousseff para o Supremo do advogado Luiz Fachin continua a levantar indagações, que pela consistência reclamam a atenção da cidadania.

               Ao invés da linha dos nomes propostos por Lula, que seguia as oportunas sugestões do recentemente falecido e ex-Ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos,  a abalada Presidenta resolveu apresentar um nome polêmico para substituir o Ministro Joaquim Barbosa, e depois de oito meses, a ponto de provocar a cólera do Ministro Celso de Mello, decano dos membros do STF.

                Apesar de colher o apoio de dois senadores tucanos do Paraná, Luiz Fachin está longe de ser uma indicação tranquila. Já não surpreende muito essa assistência, pois foi um deles que aprovou no passado a discutível  indicação feita por Lula da Silva de Dias Toffoli, que, além de haver sido auxiliar de José Dirceu na Casa Civil, tinha sido reprovado em dois exames para juiz simples.

                 Pesam contra o senhor Fachin várias questões. No passado, em intervenção gravada, ele pediu votos para a candidata de algibeira de Lula, Dilma Rousseff.  Seria também próximo do MST.

                 Há outros possíveis impedimentos, que revestem gravidade, e que  foram levantados pela reportagem de capa da revista VEJA, que ora está nas bancas:

(a)  A Comissão de Constituição e Justiça do Senado deu parecer sobre a ilegalidade cometida por Fachin, que, quando no cargo de Procurador do Estado do Paraná, continuou exercendo a advocacia privada;

(b) Fachin é favorável à poligamia. Tal pode ser interpretado como desafio à legalidade da família monogâmica, modo de união da imensa maioria dos casais brasileiros?

(c)  Fachin tem amiúde demonstrado o seu desprezo pelo preceito constitucional que garante a propriedade privada no Brasil. Cabe perguntar se ele se sente apto a interpretar e, assim, ajudar a transformar a Constituição?;

(d)  Se chegar ao STF, Fachin continuará advogando pela desapropriação de terras produtivas para fins de reforma agrária, com o confisco de propriedades sem indenização?

        O Senado que julga as propostas do Presidente para novos ministros do Supremo tem um histórico desapontador, em matéria de negações de novos membros. Só há uma exceção, que foi para derrubar proposta de Floriano Peixoto, que indicara um médico para o Supremo da época. Esta foi a única negativa, em mais de cem anos.  

        Creio que chegou a oportunidade de quebrar essa tradição de governismo agudo.

 

( Fontes: New York Times;  CNN; Karen Dawisha, Putin´s Kleptocracy; Jung Chang – Imperatriz Viúva Ci Xi; Folha de S. Paulo; O Globo; VEJA)

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