Malgrado as
afirmações de Dilma Rousseff que, na
prática, afastavam a possibilidade de investigações públicas na área do esporte,
sob o pretexto de que o Estado não teria competência para julgar a corrupção no
setor privado, parece que a súbita mudança de ventos terá mudado a opinião
desse mesmo Estado...
Sob o
impulso do Federal Bureau of Investigation a Polícia Federal – que é
autônoma – abriu inquérito para investigar corrupção em competições organizadas
pela CBF e pela FIFA no Brasil. De acordo com o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo há indícios de que
os crimes investigados pelo FBI nos Estados Unidos foram cometidos também neste
país.
O Estado
brasileiro sempre foi complacente com a CBF, mesmo nos anos de Ricardo Teixeira. O Brasil e seu povo
acompanham com grande paixão e interesse o futebol, e não tem negado apoio à
dita CBF, apesar dos escândalos que
a tem assolado ao longo dos anos.
Quem
comparece com aportes tão substanciais, não pode esconder-se atrás do biombo que não é lícito intervir em assuntos
privados. O futebol faz muito deixou de
ser questão particular, e sempre pareceu demasiado cômodo que os estádios
fossem construídos sob especificações da FIFA, e que a esse mesmo Estado não
fosse lícito vigiar de perto o modus
faciendi, que seria assunto defeso para as autoridades governamentais.
Vejo com
preocupação o recurso excessivo às CPIs, e por isso a iniciativa de Romário deva ser saudada com
cautela. Nos últimos tempos tem havido cínica instrumentalização das Comissões parlamentares de inquérito. A última
CPI sobre a Petrobrás dominada pelo PT é exemplo desse cinismo, que segue o
modelo das Comissões de Inquérito do defunto Orestes Quércia, que sempre acabavam em pizza.
No
entanto, dado o conhecimento e a experiência no assunto do Senador Romário,
deve-se dar a essa tentativa o benefício da dúvida.
Por outro
lado, nessa questão da corrupção no futebol – não revelada, malgrado o conhecimento generalizado dos negócios
escusos dos cartolas, mas agora exposta
graças ao FBI, com os corruptos detidos e, possivelmente, a caminho da
terra de Tio Sam. A perspectiva mudou bastante, espalhando o terror nesse mundo
de negociatas, deixado há demasiado tempo livre de qualquer fiscalização para
valer do Estado.
Será
nesse contexto que o imprevisto retorno
às pressas ao Brasil do atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, abandonando Zurique para onde fora a fim de
participar e votar na eleição de hoje do presidente da FIFA, provoca muita
estranheza. Por que o Senhor Del Nero resolve renunciar ao motivo de sua viagem
– que era o de participar do evento da FIFA ?
Segundo
informa a Folha, em primeira página, “ há indícios na investigação do Departamento
de Justiça dos Estados Unidos que podem
relacioná-lo a esquema de propina. (...) Documento
indica que Marin dividiu com Del Nero e Ricardo Teixeira, também ex-presidente da CBF, R$ 2 milhões para
fechar a venda de direitos sobre a Copa
do Brasil para duas empresas de marketing.”
Inquirida pelo Jornal, a Fifa declarou que “Del Nero não explicou os
motivos de ter deixado o Congresso. Ele votaria hoje (29) na eleição presidencial da entidade.” Segundo
o diretor financeiro da CBF, Rogério
Caboclo, não houve “fuga” de Del Nero. Consoante a CBF, o seu presidente “é
uma pessoa inquieta e quer estar no Brasil, próximo da sua diretoria, neste
momento.”
Apesar da reação da UEFA, capitaneada por Michel Platini, a eleição
para o eventual quinto mandato de Sepp Blatter não será postergada, como o
escândalo revelado pelo FBI recomendaria. Nesse contexto, apesar de existirem
outros candidatos, a vitória do continuísmo de Blatter semelha provável. A
despeito das suspeitas sobre o atual
presidente e a clara conveniência de que se suspenda o processo eleitoral –
como se posiciona a UEFA – Joseph Blatter pretende ir em frente, e continuar na
presidência, contra vento e maré.
( Fontes: Folha de S. Paulo, site de O Globo )
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