domingo, 17 de maio de 2015

Colcha de Retalhos C 18

                        

                                
Descarrilamento em Filadelfia

 

        Não está ainda esclarecido papel do maquinista no desastre ferroviário de Filadélfia, e, por conseguinte, a sua eventual responsabilidade. Dadas as circunstâncias de que a composição ia em velocidade excessiva, que ele possivelmente falava ao celular, e que ao entrar na curva   o sinistro ocorreu, o condutor do expresso Washington-New York não terá pouco o que explicar às autoridades.

        Foi descoberta a oitava vítima do acidente. Achava-se no interior do vagão da frente – que muito sofreu por causa do choque. Só foi possível detectar e localizar o cadáver através de um cão farejador.

       Ainda não foi determinada a velocidade na hora do desastre, embora a presunção seja de que era excessiva. Há nesse meio de transporte  similar de ‘caixa preta’, o que ajudará a preencher as linhas que faltam para descrever as causas do sinistro.

       Como se verifica acima, há muitas suspeitas em torno do comportamento do maquinista, mas ainda não é possível formar-se um quadro completo, com as baixas e as circunstâncias da ocorrência. Houve sessenta feridos e oito vítimas fatais.

 

Juizo de Boston

 

           O estúpido atentado da maratona de Boston teve encerrado o seu juízo em primeira instância com a condenação à morte de Dzhokhar Tsarnaev, o irmão mais jovem. O mais velho, Tamerlan Tsarnaev,  tinha sido morto pela polícia na perseguição que se seguiu nos dias após o atentado, em 2013, depois de determinada a suspeição dos dois irmãos.

           Sete itens na condenação foram os que fizeram o júri votar pela pena capital. A maior parte diz respeito à elaboração dos artefatos e o desígnio terrorista. Quando analisados nos seus pormenores – as duas panelas de pressão e as inúmeras peças de metal (parafusos, pregos e todo virtual projetil a incrementar a letalidade ou a capacidade de aleijar ou ferir gravemente os espectadores e os participantes da maratona) – não deixa de impressionar a ínsita e gratuita perversidade que a dupla colocou na sua preparação dirigida aos pacíficos assistentes de  tradicional certâmen atlético. Nessa modalidade de terrorismo - aleijar assistentes dessa  maratona – é difícil determinar se choca mais pela estúpida crueldade do plano, ou a raivosa ‘retribuição’ pela hospitalidade recebida.

            Além das mortes provocadas, entre os espectadores houve inúmeros lesionados. Entre esses desafortunados, há gente, inclusive, que perdeu uma das pernas, além de outras lesões desabilitantes.

             A tentativa dos advogados de defesa de passar  a maior parte da culpa para o carrancudo Tamerlan, como o principal autor (intelectual e material) do infame delito, não logrou êxito. Não impressionou aos jurados a aparente simpatia do caçula, o seu caráter mais gregário, e sobretudo não se convenceram com a eventual ascendência de Tamerlan sobre o  irmão mais jovem, a ponto de que todas as medidas (em geral cruéis) em arquitetar o atentado fossem da suposta única responsabilidade de Tamerlan Tsarnaev.

            Sendo a competência do crime do foro  federal, os advogados de Dzhokhar Tsarnaev tem ainda muitos recursos disponíveis para questionar o veredito do júri. Mesmo se todas as ações cabíveis forem feitas e denegadas, há a probabilidade de que in extremis Dzhokhar   logre escapar da pena máxima. A alternativa será a prisão perpétua.

 

Eliminado Líder do Exército Islâmico

 

             Na terra de ninguém  em que foi transformada boa parte do interior da Síria, depois que o Presidente Obama preferiu não armar, como lhe foi recomendado, pelo seu quarteto de segurança do primeiro mandato (entre os quais estava Hillary Clinton, como Secretária do Departamento de Estado), circunstância essa que já foi amplamente discutida (e verberada) por este blog, agora as agências de notícia informam que comando dos EUA, em operação especial, logrou matar um dos líderes do chamado Estado Islâmico (ISIS), de nome Abu Sayyaf.

             O Estado Islâmico, cujo recrutamento de jovens em países europeus tem suscitado muita preocupação, soube aproveitar-se da destruição e do relativo vazio de poder em extensa área que abrange boa parcela de antiga terras do interior sírio, assim como da relativa fraqueza da parte ocidental do Iraque e de parte da área ocupada pelos curdos.

            O ISIS cuja capacidade de atrair a parcela de jovens e menos jovens que formam o chamado proletariado interno em países europeus ocidentais (como o Reino Unido, a França e a Alemanha) não é mais subestimada, constitui a face agressiva atual do islamismo sunita, estando na linha descendente da antiga al Qaida.

            Depois do desaparecimento de Osama bin-Laden, formou-se de versões radicais islamitas (opostas aos xiitas do Irã e adjacências) a al-Nusra e outras formações sunitas radicais no grande espaço guerreiro  que é hoje o interior da Síria. Tal se deve não só ao malogro da Aliança a que foi outorgado o apoio da Liga Árabe, mas também à suposta necessidade de aglutinar as formações sunitas empenhadas na interminável guerra civil síria.

            Ao perder-se, pela negativa de Barack Obama, a oportunidade de armar a Aliança de uma Síria Livre,  com o apoio da Liga Árabe (notadamente dos Estados do Golfo sunitas), Bashar al-Assad pôde recompor parcelas de seu ameaçado Estado (com o apoio dos ‘amigos’ V. Putin, do Supremo Líder Ali Khamenei (Irã) e de seu cliente, a milícia Hezbollah, no Líbano).

            Na campanha síria, no entanto, em vasto território não dominado por Damasco, se aglutinou e se reforça um novo poder – o chamado Califado islâmico – que se tem aproveitado bastante do espaço aberto e enfraquecido do interior sírio, assim como do ocidente do Iraque.

            O E.I. tem a força que lhe é consentida pela debilidade do exército iraquiano, dos poucos armamentos de que dispõe a milícia peshmerga no embrião de Curdistão no extremo ocidente do Iraque, assim como pelas terras devolutas no interior da Síria.

            Como o Ocidente apenas se vale de incursões aéreas contra núcleos do ISIS, é deveras relativa a sua capacidade de conter e debelar os centros conquistados pelo dito Califado.

           As agências de notícia têm ultimamente ressaltado o bestial vandalismo do ISIS, que parece agora especializar-se na destruição do patrimônio das antigas civilizações localizadas na área da bacia do Tigris e do Eufrates. Isso se deve ao vácuo de poder dos países circunstantes – notadamente  o Iraque  - que parece não ter condições de impedir ações vandálicas do E.I. que assim adquire os seus momentos na mídia à custa de patrimônio inestimável.

           A ânsia promotiva e a audácia do ISIS se reflete, de resto, na  realizado há pouco – noticiada pelo blog – ação terrorista no sul dos Estados Unidos.

           A permanência (por ora, itinerante) do Estado Islâmico decorre de certa negligência do Ocidente.    É de perguntar-se por quanto tempo as principais potências assistirão às custosas e deploráveis ações de propaganda às avessas de  um auto-denominado Estado Islâmico, destruindo o que falta de sítios marcados pela Unesco como patrimônio da Humanidade. A boçalidade desse movimento assumiu agora outra forma, que o distingue do antigo vandalismo do crepúsculo do Império Romano. O atual supera o anterior, pois busca não a destruição pura e simples, mas aquela localizada, que se destina a apagar  ruínas e  monumentos que a UNESCO – que não tem condições de preservá-las materialmente – pode apenas sinalizar a importância histórica e artística.

 

( Fontes: Folha de S. Paulo, O  Globo )     

Nenhum comentário: