sexta-feira, 1 de maio de 2015

Dilma: fecha-se o cerco?

                                            

           Dilma Rousseff, que hoje não dará as caras, nem na tevê, quebra ritual da Presidência da República desde Getúlio Vargas (que fazia o discurso de primeiro de maio no Estádio de São Januário, então o maior no Rio de Janeiro). Ao invés de aparecer em cadeia, temendo o panelaço, ela usará a internet, em três vídeos, de que a peça de destaque será o aumento do salário mínimo.

          Ao resolver não enfrentar a reação da cidadania, sem querer Dilma sublinha uma até hoje ignorada timidez, eis que no primeiro mandato a presidenta usara e abusara da faculdade de convocar rede televisiva (e radiofônica) para os respectivos pronunciamentos.

          Esse abuso – que alguns de seus antecessores não haviam  imitado – não deveria caracterizar as intervenções presidenciais. Quando o primeiro Magistrado da República vem a público comunicar algo  aos concidadãos, deveria fazê-lo em poucas datas, como a de hoje (dia do trabalho), a da República  e a do Natal. Poderia ter, assim, quota de cinco alocuções (essas três e mais duas, se houver necessidade), mas nunca o túrgido número de seus discursos anteriores,  que empregava muita vez com visível abuso e mal disfarçado escopo político-partidário.

         Aliás, isso de autoridade convocar rede nacional é um traço terceiro-mundista de que o Brasil faria bem em desfazer-se.  Nesse contexto, antes de passar a coisas de maior monta, a propaganda política pelos 32 partidos (e continuam crescendo!) é desrespeito à inteligência e ao  merecido lazer  da cidadania. É mais do que tempo de dar um basta a essas aparições de partidos corruptos, insignificantes ou até de legendas de aluguer, que, no cúmulo da ousadia, se colocam no horário hiper nobre do público, como se as palavras vazias e as  bobajadas desta gente devesse pautar-se pelo máximo incômodo a quem tem mais o que fazer. Falando em terceiro-mundo, eis que ele aparece com fantasia completa, ainda por cima graças à mal avisada sentença do Supremo não consentindo sequer o limite do bom-senso à explosão de legendas que ora nos toca suportar. O Supremo,ao enveredar pela supressão de qualquer limite aos partidos, esqueceu-se da máxima aristotélica do bom senso, que nos recomenda o emprego do meio termo. Os ministros deveriam ter olhado para o número de partidos que contam em grandes democracias ou então se perguntar se a cláusula de barreira na Alemanha (5%) a torna suspeita de lesa-democracia...

           Que o leitor me perdoe haver fugido por instantes da camisa-de-força do tema único.

            Enquanto o PSDB – como lhe é consueto – se debate na discussão interna se caberia ou não recorrer ao impeachment, tentemos acompanhar como vão as coisas em Pindorama. A CPI da Câmara já parece haver perdido a paciência com a Petrobrás. Não é que desde fevereiro último ela busca em vão acesso às atas das reuniões do Conselho de Administração da estatal, de 2003 a 2012 (ou em outras palavras, com a entronização do PT na República, a base das discussões e decisões na Petróleo Brasileiro S.A.). No entanto, se  deseja conhecer da motivação de tais decisões, é bom saber desde logo que as gravações das reuniões feitas no período sob investigação foram destruídas. Hoje a Petrobras afirma que isso é praxe.

             Como as aludidas atas só contêm decisões e não as razões que as motivaram – sem falar sequer de eventuais argumentos contrários – pode tirar o cavalinho da chuva quem pensa aí topar com motivações dos grandes da Petrobrás, como uma senhora que foi por largo período Presidente do Conselho de Administração...

             De qualquer forma, se a Petrobrás persistir no seu corpo mole, já nesta segunda-feira a CPI pedirá a competente busca e apreensão pela Polícia Federal na sede da Estatal.

             É compreensível, portanto, que haja quem sinta cheiro de Watergate nessa pressurosa eliminação de gravações de reuniões.

             Como os rios que correm para o mar, se acumulam as suspeitas contra o Partido dos Trabalhadores e de sua candidata no que tange ao último pleito.

              Assim, como se assinala em O Globo, na  Justiça Eleitoral, devido à revelação “de fatos gravíssimos” relativos às contas da campanha presidencial de 2014, o Ministro Gilmar Mendes, do TSE, “prorrogou por um ano a decisão que obriga que os arquivos eletrônicos  da prestação de contas da presidente e do comitê financeiro do PT em 2014 fiquem disponíveis no site do tribunal”.

              Por outro lado, segundo a mesma fonte “o Tribunal de Contas da União enviou  para o Ministério Público as conclusões de uma auditoria sobre as chamadas ‘pedaladas fiscais’, para ver se estão caracterizados crimes, que podem definir o crime de responsabilidade da  presidente Dilma, do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega ou de dirigentes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica.”

              Deve assinalar-se que o PT é acusado de usar gráficas para lavar dinheiro, tanto nas contas anuais, quanto nas da eleição de 2014. Assim, a Gráfica Atitude, cujo endereço é o mesmo do Sindicato de Metalúrgicos do ABC, teria sido usada em operações de lavagem de R$ 2,4 milhões. Note-se, a propósito, que parte da propina paga para Renato Duque, então diretor de Serviços da Petrobrás, foi direcionada por empresas do grupo Setal Óleo e Gás, controlado por Augusto Mendonça, para essa Editora Gráfica Atitude  Ltda., a pedido de João Vaccari Neto, então como se sabe Tesoureiro do PT.

               Outro dado de sumo interesse, no que concerne à campanha de Dilma Rousseff, no passado ano de 2014 “outra gráfica, a VTPB, teria recebido R$ 22,9 milhões da campanha de Dilma Rousseff para impressão de folhetos.” No entanto, há um pormenor de sumo interesse: “no seu endereço não há gráfica nenhuma. A explicação oficial é que ela servia de distribuidora dos serviços para outras gráficas, que imprimiriam os pedidos do partido, o que está gerando suspeita, de lavagem de dinheiro.

                Nesse contexto, o TSE condenou também o PT a multa de R$ 4,9 milhões por irregularidades nas contas do partido em 2009.  

                                                                                              (a continuar)

 

( Fontes: O Globo, coluna de Merval Pereira )

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