terça-feira, 30 de junho de 2020

Dois Ministros na Mira


                    
         Para desassossego de alguns ministros, pairam no ar possibilidades de uma mini-reforma ministerial. No sentido de ampliar sua 'agenda positiva' na relação com outros poderes, Bolsonaro vem sendo aconselhado por auxiliares e parlamentares a substituir  os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e também do próprio Itamaraty, Ernesto Araujo.
              Ambos gozam do apreço de Sua Excelência - e de seu núcleo ideológico - mas ambos são considerados problemáticos por integrantes do próprio governo, e vistos como entraves para o avanço de acor-dos comerciais internacionais.
              A condução da política ambiental de Salles é apontada como um empecilho pelo seu radicalismo para acordos comerciais bilaterais e até mesmo para que o País venha a receber investimentos externos (dificuldade concreta nesse sentido é refletida no blog de hoje relativo à Amazônia).  Há de se ter presente que - segundo assinala o Estadão - na semana passada, um grupo formado por quase trinta fundos de investimento com US$ 3,7 trilhões exigiu que o Brasil freie o crescente desmatamento no País.
                 Já o caso de Ernesto Araújo - que, como é do geral conhecimento é alinhado ao guru ideológico Olavo de Carvalho, seria mais delicado. O motivo é a necessidade de alguém mais pragmático à testa do Itamaraty. Nesse contexto, em conversa no fim de semana com  um integrante do STF, um ministro de Jair Bolsonaro disse que o chanceler se inviabilizara na função, não obstante continue a contar com o apoio dos filhos do Presidente. Mutatis mutandis, seria a mesma situação do ex-ministro Abraham Weintraub...
                    Ontem, 29 de junho, em reunião no gabinete da Vice-Presidência, o governo discutiu a estratégia frente às cobranças internacionais. Está prevista, com efeito, para a próxima semana  reunião com integrantes de alguns dos signatários da carta que querem um freio ao desmatamento.  A par do vice Hamilton Mourão, de Ricardo Salles, e de Ernesto Araújo, participaram a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o Presidente da Apex, Sérgio Segovia.
                    Dado o caráter radical do Ministro Salles - o que ficou, de resto, ainda mais público, com as suas recentes observações na reunião ministerial de "passar a boiada" - havia um grupo que defendia que Salles ficasse de fora da conversa com investidores, mas a reunião de ontem definiu que o ministro do Meio Ambiente participará e fará a defesa da agenda de pagamento de serviços ambientais, enquanto que a Mourão caberia explanar sobre o Conselho da Amazônia e as ações de fiscalização. Já a Ministra Tereza  Cristina defenderá  a regularização fundiária e Araújo falará sobre as relações comerciais que dizem respeito ao Mercosul e União Europeia.
                       Sem embargo, as queixas de parlamentares sobre a atuação de Ricardo Salles e Araújo têm chegado ao Vice Mourão.  O deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) da Frente Ambientalista, tem sido um porta-voz dessa insatisfação."Ele (Salles) perdeu credibilidade para estar à frente do Ministério do Meio Ambiente.. Foram vários pedidos de impeachment protocolados, inclusive da sociedade civil.  Já fez o Brasil passar vergonha demais. Está na contramão da História, infelizmente", afirmou ele ao Estadão.
                          Também integrante da bancada ruralista e líder do Solidariedade na Câmara, o deputado Zé Silva (MG) é outro que levou ao governo a preocupação com o atual cenário. "Os sinais dos compradores do agro-brasileiro e do mercado financeiro acendem um sinal amarelo em relação à administração das políticas ambientais  do País", declarou o deputado.
                               Nesse sentido, a Câmara tenta acelerar a votação de projetos ambientais, diante de críticas internacionais sobre a gestão do setor no governo Bolsonaro. A idéia é dar sinais positivos para acalmar investidores estrangeiros, principalmente aqueles do agro-negócio.
                                 Dessarte, em um acordo entre ambientalistas e ruralistas, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pautou para essa semana a votação do Protocolo de Nagoya. "É o mais importante regulamento da Convenção de Biodiversidade. O Brasil ajudou a escrever o documento, assinou mas nunca ratificou.Ficou parado anos a fio", afirmou o deputado Rodrigo Agostinho.
Contrapartida.  A votação é uma das respostas do Parlamento sobre a questão ambiental.A contrapartida seria a substituição de Salles. O ministro é alvo de um pedido de impeachment feito por deputados. Desde sua fala revelada no vídeo da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, em que Salles diz querer  "aproveitar esse período de pandemia para passar a boiada" e simplificar as normas ambientais por decreto, o incômodo com a permanência de Salles no governo, por parte de empresários e da oposição aumentou deveras.
                                     Nesse contexto, o ministro Salles se defende e diz que é "normal" haver críticas a uma postura "mais econômica" sobre o meio ambiente. Segundo ele, a pasta tem "uma visão muito clara de que é preciso dar valor econômico ao ativo florestal brasileiro". "Trazer recursos financeiros para  remunerar a floresta em pé, os serviços ambientais e para ter instrumentos que tragam prosperidade para as  pessoas melhorarem de vida e com isso respeitarem o meio ambiente", afirmou o Ministro Salles.
                                         Para o aludido Ministro, as críticas são algo normal. "Que vai haver pressão política contra a visão do governo, contra essa postura mais econômica de dar destinação sempre vai haver, a política é assim. É normal", disse ele.

( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

Nenhum comentário: