domingo, 7 de junho de 2020

O Presidente Bolsonaro e a questão dos dados da Covid-19


      
         Diante da situação referida no blog de ontem - basicamente a negação de passar em tempo oportuno à TV-Globo, no seu Jornal Nacional, a transmissão sobre a situação da Covid-19 no Brasil: assim, o número total atualizado de mortos até a data, bem como o número de mortos nas últimas 24 horas, agora sucede o seguinte:

             Ao invés de atender ao que semelha ser o interesse público, disponibilizando tais números aos telespectadores, o Presidente Bolsonaro determina ao oficial militar que ora ocupa a chefia do ministério da Saúde que retarde a divulgação para depois das 22 horas.

               Na compreensível confusão que se sucedeu, não tardou muito para que logo se difundisse  que o interesse do presidente seria o de negar ao telejornal da Globo a pronta difusão de dados que interessam ao Povo brasileiro, i.e. a notícia através do Jornal Nacional sobre a situação da Covid 19, como referido no primeiro parágrafo do blog.

                 Em meio à verdadeira cortina de fumaça - que vinca esse aspecto  da determinação presidencial - o escopo seria negar à Globo o ensejo de prestar tal serviço público aos telespectadores,  que compreensivelmente desejam saber da situação do drama da Covid-19,  no que tange às mortes da pandemia, tal drama nos concerne a todos os brasileiros. 

                  Na verdade, Sua Excelência não deveria perder uma ótima ocasião de limitar-se a acompanhar, como o restante do Povo brasileiro, a evolução deste drama, e que - em prática se desenvolve desde o surgimento das macabras consequências da pandemia de forma adequada, em respeito ao direito à informação que nos assiste a todos os brasileiros diante desse cruel desafio ao nosso corpo médico e a todos os compatriotas que compreensivelmente se interessem a tal descomunal desafio  e por conseguinte a seus dirigentes, prefeitos, governadores, e, com a devida vênia, a Sua Excelência o Senhor Presidente, que não poderia eximir-se, SMJ, em termos da informação ao Povo brasileiro em todos os procedimentos conducentes a que a Nossa Gente venha a ser informada da real situação que atravessamos. 

                     Diante desse toynbeano[i] desafio, defrontado com as múltiplas sugestões sobre o quê fazer para a expedita solução dessa dificuldade, surgindo toda sorte de indicação - inclusive a do Tribunal de Contas da União - quer-me parecer mais fundado, na minha experiência já concluída com cerca de dez lustros a serviço do Itamaraty, que seria o caso de confiar ao nosso Supremo Tribunal Federal o encargo de fazer ver a Sua Excelência o Senhor Presidente Jair Bolsonaro o quanto seria de interesse da Nação brasileira  que tal discussão em que não vejo porquê continuá-la, venha a ser, com a devida vênia presidencial atalhada, eis que existe diante de nós um interesse que sobreleva a todos: que se solicite, sem mais delongas, que esse problema seja de pronto afastado, e restabelecido, sem mais inúteis delongas o que antes se fazia: a transmissão de interesse público da Nação brasileira através da Rede Globo, devida e oportunamente informada pelos serviços do Ministério da Saúde, no formato anterior, que tão bem preenchia ao manifesto desejo de todos aqueles a quem concerne a situação de nossa luta contra a Cofid-19.

              Nesse sentido, a Justiça - através de sua mais alta representação - e a Presidência da República, na pessoa do Presidente de todos os brasileiros  dariam cumprimento ao dever da informação ao nosso Povo, que se realizaria de acordo com as condições anteriormente prevalentes, haja vista o manifesto interesse nacional em que o Brasil e a sua gente tenham pronto conhecimento da forma em que se realiza esse magno desafio que é enfrentado pelo esforço e a luta de nosso corpo médico e dos serviços de saúde, de modo a que ele  possa ser vencido de forma a que nos honre a todos nós brasileiros.

               Respeitosamente,

         Mauro Mendes de Azeredo, embaixador aposentado (2007). Prêmio Rio Branco, Medalha de Vermeil, Primeiro Lugar, CPCD-Instituto Rio Branco (1959). São cinquenta anos de carreira, que aí estão os anuários do Itamaraty para demonstrá-lo.             


[i] Arnold Toynbee, autor do clássico A Study of History (Londres, novembro de 1961), em doze volumes, em que o filósofo-historiador inglês disserta sobre os vários desafios que foram arrostados pelas muitas civilizações da História do planeta Terra, marcados pelos sucessos e fracassos determinados pelos meios e modos com que os diversos povos enfrentaram os desafios que confrontaram as respectivas civilizações.

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