A situação da Covid-19,
que não pára de crescer, me faz recordar a velha frase do general de Gaulle sobre a nossa Terra, na qual dizia
que "o Brasil não é um país
sério".
O então presidente da França nos
acoimava pela conduta do governo brasileiro de então, e por isso, nos tempos da
chamada guerra da lagosta, o velho general nos imputava por
alegada falta de seriedade.
Essa pecha teima em não sair de
nossas costas, e agora eu me pergunto, se não seria o caso de os governos estadual
e municipal - não falo do federal, cuja atuação estava indo muito bem no tempo
do Ministro
Mandetta, mas que foi estranhamente destituído pelo Presidente Bolsonaro, de uma tal
maneira, que a razão com o tempo cresce de que a sua brusca exoneração se deve
à circunstância de que Mandetta se comportava de modo exemplar, e por isso
tinha o total apoio da população
Cresce,
portanto, a impressão de que o Presidente que se pauta pela falta de
coordenação a nível federal ficara irritado com o êxito do ministro Mandetta na
Saúde, e por isso, tratou de irresponsavelmente livrar-se de um ministro
popular junto ao Povo e que se afirmava nesse campo, gozando do inteiro apoio
da população.
O resultado que ora temos - depois da passagem apagada do ministro Teich
na Saúde - é ter o ministério entregue a pessoal que não é do ramo, e, por
conseguinte, faltam as diretivas federais para somar-se ao trabalho dos
governadores.
Ontem, como o meu leitor
terá presente, dei espaço no blog aos
epidemiologistas e demais entendidos nesse ramo, em que a presença de firme
orientação federal é um grito que não sai da garganta, porque falta a
indispensável coordenação federal - que só o Poder Executivo pode imprimir - para
que os diversos esforços estaduais sejam complementados. Não é à toa que o
Brasil é um país continente. Passou o tempo das capitanias hereditárias e agora
se afigura a hora de enfrentar mais esse descomunal desafio, que não pode tão
só ser deixado à conta de governadores estaduais e prefeitos de grandes
cidades.
Não é que esse esforço
não seja meritório, como ele o é, de fato. Mas no gigante Brasil não faz o menor sentido que o transformemos em um Adamastor de colchas de retalhos e
prescindamos no bom combate ao aporte de uma visão geral que, ao invés de
enfraquecer, contribui para lançar as grandes linhas dessa porfia em que a Covid-19 - que não conhece divisas
estaduais nem municipais - tem de ser combatida
em todos os fronts, não faltando ao
federal a indispensável visão de conjunto.
É bem verdade que, desde a exoneração de Mandetta, falta a
coordenação federal, que
tenta substituí-la por uma grande
incógnita. Por razões que a razão desconhece, uma vez posto na rua, Mandetta -
e, valha-me Deus, por bons serviços - o antigo desconforto que Sua Excelência o
Presidente faz sentir a todos no que tange à ausência de uma presença da
governança federal forte e determinada no esforço de coordenação dessa batalha
que grassa pelo país afora.
Por bizarro que
pareça, a única iniciativa que tem a ver com o foro presidencial foi aquela de
investir contra a Globo e o
apresentador W. Bonner, ao arrogar-se o Chefe da Nação a colocação das
informações gerais do interesse do Brasileiro a estranhas instâncias, que
levaram a imprensa, em um movimento uníssono, a somar forças e a cuidar
conjuntamente da coleta indispensável dos dados sobre tal flagelo.
A reação escancara
duas coisas: a relevância da Covid-19 e os perigos da ignorância ou menosprezo
da informação. É lamentável que mais uma vez o Presidente Bolsonaro mostre que
não está entendendo a natureza desse toynbeeano[1]
desafio ao Brasil e a seu Povo, e tal disparidade em termos de compreensão não
poderia ter ficado mais visível do que
na reação da imprensa, através de seus principais órgãos, e, porque não dizer,
na revolta das entidades republicanas, em que se pudesse confundir o direito à
Informação como se fora questão de somenos.
A instância
federal e a consequente coordenação permitiu que a pandemia viesse a ter um
reforço inesperado, que resultou da
irresponsável flexibilização. Referia-me há pouco à presença, através de
reportagem do Estado de S. Paulo, de professores catedráticos e de
especialistas na matéria, que confrontam as medidas de várias administrações,
em numerosos estados - puxando a fila São Paulo e Rio de Janeiro - que
favorecem a citada flexibilização, que vai contra o parecer comum de diversos
especialistas na matéria, com que abrem as comportas para o acúmulo de pessoas
nas lojas, nos transportes e nos shoppings,
como se ficassem impacientes os gestores da coisa pública municipal e estadual,
com medidas demasiado severas, que buscam - a exemplo de todos os países que
venceram tal magno desafio - conter o afluxo do público, mantê-lo o mais
possível em casa, para assim cortar as
possibilidades de contágio, em grandes conglomerados, nos ônibus lotados, nos shoppings que regurgitam de gente, e por
aí afora.
Lembrar-se-á o leitor amigo da
referência no começo do blog, em que
é voz corrente - para evitar os desastres da Lombardia na Itália, e também o da
Espanha - que carece de manter a
população fora dos grandes ajuntamentos, que caracterizam shoppings, conduções
públicas, metrôs e partidas de football...
As autoridades
responsáveis nesses dois países - Itália e Espanha - pagaram alto preço, ao
terem permitido por carência de conhecimento que o amontoado de gente em tais
locais contribuísse para o silêncio que vem com a presença de Thanatos (morte). Todos os especialistas
na reportagem do Estadão lamentam
essa flexibilização, que na pressa produz
grandes viveiros para o coronavirus, nessas multidões que são arautos malditos
de enormes surtos de mortandade, que tem de ser acoimada de estúpida porque
afoita e dispensável.
Em certas horas
os líderes políticos devem agir com responsabilidade e respeito aos ditames de
uma ciência ainda nova, mas que já mostra perigos e certezas. Se for evitada a
estouvada flexibilização, e se se
cuida de manter a gente em casa, a terrivel doença não poderá espraiar-se na
trêfega vontade de sair à rua, de ir ao shopping,
de meter-se em ônibus lotados. É saber
chão que os ajuntamentos de povo são uma maldita benesse para a covid-19. Países sensatos com bons governantes podem
rejubilar-se a seu tempo com medidas severas de contenção de grandes
aglomerações. É conhecimento comezinho, que parece incomodar a muitos
políticos, que se sentem impelidos a abrir as comportas desse particular
inferno que é aquele próprio do coronavírus.
A prudência - que se
vê até nos animais - deveria ser exercida pelos nossos líderes tanto os
municipais, quanto os federais. O Povo
pode resmungar agora, mas agradecerá mais tarde. O inferno ainda está por perto. Não se afobem
em abrir tais cancelas, que são ainda as da morte. Pacientemos um pouco.
Crescerá o nosso conceito em termos de juízo, e creio que muitos, com a gente
do ramo - e não os picaretas de atividades congêneres - acabarão por agradecer-lhes não só por
passarmos a boa imagem do juízo diante da adversidade, senão por principiar a
reação brasileira contra aqueles que - como o general Charles de Gaulle -
nos julgam pouco sérios, sôfregos, sem querer saber de ordem e cuidado, porque
tais atributos podem significar uma senhora diferença entre a vida e a morte.
(
Fontes: Estado de S. Paulo, O Globo, Folha de S. Paulo )
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