quarta-feira, 24 de junho de 2020

O quê fazer, Presidente, diante de tal desafio ?


                 
     Que o Brasil lidere em registros de novas infecções desde o fim do mês passado, se é retrato cruel do fracasso dos governos de nossa terra em lidar de uma maneira eficaz com a pandemia do coronavirus, começando obvia- mente com o negacionismo do presidente Bolsonaro, mas atingindo também diversas administrações estaduais, a começar por São Paulo, com o decepcionante desempenho do governador Dória.

       Nesta semana, um juiz interveio para obrigar o Presidente a usar a máscara, quando estiver em reuniões públicas. Esse negacionismo de Bolsonaro à Covid-19 no Brasil, nos está saindo muito caro. As instâncias inventam várias designações para sinalizar - ou melhor escamotear - a reação básica do Presidente no que tange à incidência dessa praga que ele já chamou de "gripezinha", enquanto se referiu igualmente ao contristador número de óbitos com um sonoro e agressivo "e daí?" Se nos confinarmos ao domínio da lógica presidencial, em que aquele a quem chamam de Chefe da Nação, salta aos olhos que ele não pode dar de ombros com a suposta agressividade do "e daí?", e dessarte tentar passar a sua inação como se fora algo aceitável e até compreensível.

         É difícil tentar entender esse animus presidencial, com que ele procura designar uma absoluta falta de resposta ao desafio colocado pela epidemia, como se fora coisa que não o concerne. Bolsonaro foi eleito não para presidir paradas ou coisas do gênero. Ele não pode, por conseguinte, dizer se trata de um desafio que não lhe diz respeito, porque como Chefe da Nação a sua incumbência principal é a de encontrar soluções válidas para esse magno problema, na verdade um desastre que coloca o Brasil nesta triste dianteira da mortandade. Em outras palavras, ele não pode como Pilatos mandar vir essa metafísica bacia e esbravejar que é um problema médico. Eleito Presidente da República, a sua missão precípua é a de lidar com e enfrentar os desastres que  desafiam ao Povo brasileiro.
  
         Essa triste, na verdade vergonhosa, liderança do Brasil no registro de novas infecções desde o fim de maio aponta para o fracasso das medidas tomadas até agora, assim como nos impõem números vergonhosos, em que essa ausência de liderança é exposta sem ambages e sem rodeios de cortesão. Como avestruzes, não podemos enfiar a cabeça na areia e fazer de conta que o problema não nos diz respeito.

             Repito, não é só para presidir a paradas e bater continência, que o senhor foi eleito em segundo turno presidente do Brasil. Se o senhor está agora colhendo os frutos de não haver fechado as fronteiras do Brasil como fez seu colega argentino, no que tange ao seu respectivo país, peço-lhe o favor de verificar junto aos seus assessores em que lugar aparecem os nossos vizinhos em termos de mortos pela Covid-19 .

             Será que valeu a pena nada fazer e ainda por cima livrar-se de Mandetta, como ministro da Saúde, apesar de todo o apoio que lograra suscitar na opinião pública?
             Presidente, peço-lhe mui respeitosamente que enfrente esta situação em que se acha seu Povo, que não faz por merecer continuar a ocupar essa triste liderança, feita de promessas de mortes a que se sucedem as factualmente verdadeiras:  dessarte, Presidente, para recordar-lhe, já temos 52.771 óbitos de brasileiros, enquanto os contagiados são um milhão e cento e cinquenta e um mil, e quatrocentos e setenta e nove nossos compatriotas, sem falar da nossa sinistra liderança de 31.171 em novos casos,em que estamos  à frente de todos, inclusive dos Estados Unidos da América.      

              Nunca é tarde, Presidente, se o interesse da Nação brasileira está em jogo, de reconsiderar tal situação e enfrentá-la, com coragem e disposição, pois o Senhor está diante de um grande e inegável  desafio, que por referir-se ao nosso Povo sofrido, deve ser arrostado com a disposição de seu alto cargo, que implica também na grande responsabilidade  que lhe foi concedida pela maioria do Povo brasileiro.

( Fonte: O Globo e Folha de S. Paulo )

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