Que
o Brasil lidere em registros de novas infecções desde o fim do mês passado, se
é retrato cruel do fracasso dos governos de nossa terra em lidar de uma maneira
eficaz com a pandemia do coronavirus,
começando obvia- mente com o negacionismo do presidente Bolsonaro, mas
atingindo também diversas administrações estaduais, a começar por São Paulo,
com o decepcionante desempenho do governador Dória.
Nesta semana, um juiz interveio para obrigar o
Presidente a usar a máscara, quando estiver em reuniões públicas. Esse
negacionismo de Bolsonaro à Covid-19 no Brasil, nos está saindo muito caro. As
instâncias inventam várias designações para sinalizar - ou melhor escamotear -
a reação básica do Presidente no que tange à incidência dessa praga que ele já
chamou de "gripezinha",
enquanto se referiu igualmente ao contristador número de óbitos com um sonoro e
agressivo "e daí?" Se nos confinarmos ao domínio da lógica
presidencial, em que aquele a quem chamam de Chefe da Nação, salta aos olhos
que ele não pode dar de ombros com a suposta agressividade do "e
daí?", e dessarte tentar passar a sua inação como se fora algo aceitável e
até compreensível.
É
difícil tentar entender esse animus
presidencial, com que ele procura designar uma absoluta falta de resposta ao
desafio colocado pela epidemia, como se fora coisa que não o concerne. Bolsonaro
foi eleito não para presidir paradas ou coisas do gênero. Ele não pode, por
conseguinte, dizer se trata de um desafio que não lhe diz respeito, porque como
Chefe da Nação a sua incumbência principal é a de encontrar soluções válidas
para esse magno problema, na verdade um desastre que coloca o Brasil nesta
triste dianteira da mortandade. Em outras palavras, ele não pode como Pilatos
mandar vir essa metafísica bacia e esbravejar que é um problema médico. Eleito Presidente
da República, a sua missão precípua é a de lidar com e enfrentar os desastres
que desafiam ao Povo brasileiro.
Essa triste, na verdade vergonhosa, liderança do Brasil no registro de
novas infecções desde o fim de maio aponta para o fracasso das medidas tomadas
até agora, assim como nos impõem números vergonhosos, em que essa ausência de
liderança é exposta sem ambages e sem rodeios de cortesão. Como avestruzes,
não podemos enfiar a cabeça na areia e fazer de conta que o problema não nos
diz respeito.
Repito, não é só para presidir a paradas e bater continência, que o
senhor foi eleito em segundo turno presidente do Brasil. Se o senhor está agora
colhendo os frutos de não haver fechado as
fronteiras do Brasil como fez seu
colega argentino, no que tange ao seu respectivo país, peço-lhe o favor de
verificar junto aos seus assessores em que lugar aparecem os nossos vizinhos em
termos de mortos pela Covid-19 .
Será
que valeu a pena nada fazer e ainda por cima livrar-se de Mandetta, como
ministro da Saúde, apesar de todo o apoio que lograra suscitar na opinião
pública?
Presidente,
peço-lhe mui respeitosamente que enfrente esta situação em que se acha seu
Povo, que não faz por merecer continuar a ocupar essa triste liderança, feita
de promessas de mortes a que se sucedem as factualmente verdadeiras: dessarte, Presidente, para recordar-lhe, já
temos 52.771 óbitos de brasileiros,
enquanto os contagiados são um milhão e cento e cinquenta e um mil, e
quatrocentos e setenta e nove nossos
compatriotas, sem falar da nossa sinistra liderança de 31.171 em novos casos,em
que estamos à frente de todos, inclusive
dos Estados Unidos da América.
Nunca é tarde, Presidente, se o interesse da Nação brasileira está em
jogo, de reconsiderar tal situação e enfrentá-la, com coragem e disposição,
pois o Senhor está diante de um grande e inegável desafio, que por referir-se ao nosso Povo
sofrido, deve ser arrostado com a disposição de seu alto cargo, que implica também
na grande responsabilidade que lhe foi
concedida pela maioria do Povo brasileiro.
(
Fonte: O Globo e Folha de S. Paulo )
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