A polícia estadunidense
- em que os afro-americanos são minoria -
é conhecida por seu viés anti-negro, e aí estão para demonstrá-lo, não
só as manifestações (e as depredações) por causa do infeliz Floyd, mas também a duração e a
violência que constituem a tônica da reação da comunidade afro-americana, sem
esquecer as adesões recebidas por causa da gritante desproporcionalidade do
gesto que se assinala por um cínico ainda que boçal racismo, sem contar o
absurdo da sequência de atos carregada de ódio preconceitual, como se o
policial não só quisesse asfixiar a infeliz
presa, mas também exibi-la como se fora a presa do dia, a quem se acredita
reeditar exibições circenses em que o sadismo parece o tempero da vez.
A atitude do policial se compõe com
a falta de qualquer intervenção de outro policial ou de eventual superior
hierárquico. Ninguém da polícia pensa em pôr fim àquele assassinato pela
tortura, lenta, mas segura, da asfixia.
O preconceito armado - e são
muitas as vítimas daqueles suspeitos flagrantes em que eventual gesto nervoso
de algum afro-americano que faça um movimento fora do sádico ritual, e é por
isso abatido pelo trigger-happy
policial, que se valerá em seguida do argumento da legítima defesa, por mais falsa que seja a cena desse
assassinato racista - explica hoje a forte reação da comunidade afro-americana.
Foi com essa afronta garrafal que o sádico policial orquestrou a sufocação da
infeliz presa. Dessarte, com um jorro
de sádica tortura, e não com uma mera gota se esvaíu a paciência e a tolerância
por anos a fio pelo cerco racista por um grupamento uniformizado. O próprio
perpetrante terá imaginado que tal sufocação sadicamente aplicada poderia
passar em branca nuvem. E a história se repete: o preconceito armado pensa
defender a lei, enquanto humilha cidadãos cuja única culpa é ter a pele escura.
E imaginam, no seu embrutecimento, que esse "desequilíbrio" no
tratamento a cidadãos sobre quem pesa
a condição de afro-americano, como se foram ovelhas em campos dominados por
indivíduos - na verdade, lobos - que dão vazão às próprias fraquezas humilhando
e, neste caso, matando pessoas, pela culpa acrescida de serem negros.
Quando é que eles e seus chefes
vão apreender que a Lei é igual para
todos?
E aos estadunidenses, que
dizem acreditar na Lei, terminemos com o tempo das falsas desculpas - quem não
se lembra acaso do pobre jovem afro-americano que foi abatido pelos tiros de um
vigilante policial, na Flórida que pensou que ele atravessava bairro
de ricos com más intenções. Ou então no infeliz jovem negro, que, nervoso, terá
feito gestos que o zeloso policial branco interpreta como tentativa de reação,
e, portanto, é abatido sem hesitação?
Tanta raiva de gente armada e criminosa
deixa o rastro que ora vemos com o assassinato de Minneapolis. Violência gera
violência, mas o legislador americano não deve administrar o preconceito. Tanto
ódio precisa acabar, mas só há de findar se todos os americanos merecerem o
mesmo tratamento. Quem vive pela arma, deve ter consciência de que o seu porte
lhe é atribuído pelo próprio respeito à Lei. Não é o meio adequado para extravasar rancores e preconceitos.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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