segunda-feira, 1 de junho de 2020

O viés racista da repressão policial estadunidense


                              

        A polícia estadunidense - em que os afro-americanos são minoria -  é conhecida por seu viés anti-negro, e aí estão para demonstrá-lo, não só as manifestações (e as depredações) por causa do infeliz Floyd, mas também a duração e a violência que constituem a tônica da reação da comunidade afro-americana, sem esquecer as adesões recebidas por causa da gritante desproporcionalidade do gesto que se assinala por um cínico ainda que boçal racismo, sem contar o absurdo da sequência de atos   carregada de ódio preconceitual, como se o policial não só quisesse  asfixiar a infeliz presa, mas também exibi-la como se fora a presa do dia, a quem se acredita reeditar exibições circenses em que o sadismo parece o tempero da vez.
           A atitude do policial se compõe com a falta de qualquer intervenção de outro policial ou de eventual superior hierárquico. Ninguém da polícia pensa em pôr fim àquele assassinato pela tortura, lenta, mas segura, da asfixia.

             O preconceito armado - e são muitas as vítimas daqueles suspeitos flagrantes em que eventual gesto nervoso de algum afro-americano que faça um movimento fora do sádico ritual, e é por isso abatido pelo trigger-happy policial, que se valerá em seguida do argumento da legítima defesa, por mais falsa que seja a cena desse assassinato racista - explica hoje a forte reação da comunidade afro-americana. Foi com essa afronta garrafal que o sádico policial orquestrou a sufocação da infeliz presa. Dessarte, com um jorro de sádica tortura, e não com uma mera gota se esvaíu a paciência e a tolerância por anos a fio pelo cerco racista por um grupamento uniformizado. O próprio perpetrante terá imaginado que tal sufocação sadicamente aplicada poderia passar em branca nuvem. E a história se repete: o preconceito armado pensa defender a lei, enquanto humilha cidadãos cuja única culpa é ter a pele escura. E imaginam, no seu embrutecimento, que esse "desequilíbrio" no tratamento a cidadãos sobre quem pesa a condição de afro-americano, como se foram ovelhas em campos dominados por indivíduos - na verdade, lobos - que dão vazão às próprias fraquezas humilhando e, neste caso, matando pessoas, pela culpa acrescida de serem negros.

                Quando é que eles e seus chefes vão apreender que a Lei  é igual para todos?

               E aos estadunidenses, que dizem acreditar na Lei, terminemos com o tempo das falsas desculpas - quem não se lembra acaso do pobre jovem afro-americano que foi abatido pelos tiros de um vigilante policial, na Flórida que  pensou que ele atravessava   bairro de ricos com más intenções. Ou então no infeliz jovem negro, que, nervoso, terá feito gestos que o zeloso policial branco interpreta como tentativa de reação, e, portanto, é abatido sem hesitação?

                     Tanta raiva de gente armada e criminosa deixa o rastro que ora vemos com o assassinato de Minneapolis. Violência gera violência, mas o legislador americano não deve administrar o preconceito. Tanto ódio precisa acabar, mas só há de findar se todos os americanos merecerem o mesmo tratamento. Quem vive pela arma, deve ter consciência de que o seu porte lhe é atribuído pelo próprio respeito à Lei.   Não é o meio adequado para extravasar rancores e preconceitos. 

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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