sexta-feira, 19 de junho de 2020

Celso de Mello : ´resistir com armas legítimas'


                              
                             
       É uma pena que o Povo brasileiro vá perder em poucos meses, ex vi da aposentadoria compulsória um dos mais afirmativos, cultos e corajosos  defensores  da Democracia membros do Supremo Tribunal Federal, que é o Ministro Celso de Mello, atualmente o decano.

       Com efeito, nesse presente conturbado pelas atitudes e palavras do Presidente Jair Messias Bolsonaro, o Senhor Decano vem brindar a democracia brasileira com palavras candentes e, sem embargo, cheias de força, seriedade  e propriedade jurídica.  Consoante o Estado de S. Paulo, o Ministro Celso de Mello declarou a dezesseis de junho ser "inconcebível" que ainda haja  resíduo de autoritarismo no Estado brasileiro. Relator do inquérito que investiga se o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir  politicamente na Polícia Federal, Celso afirmou que é preciso resistir "com as armas legítimas da Constituição e das leis do Estado brasileiro". Nesse sentido, o magistrado do Supremo observou, ainda que "sem juízes independentes, jamais haverá cidadãos livres neste país."

          Em alocução endereçada a Bolsonaro, ainda que sem mencioná-lo explicitamente, Celso de Mello criticou  a postura "atrevida" de não se cumprir ordens judiciais. No mês passado, o presidente da República disse que não entregaria  seu celular, mesmo se houvesse decisão da Justiça nesse sentido. O pedido de partidos da Oposição para apreender o aparelho do Presidente, no entanto, acabou arquivado pelo próprio ministro.
             "Esse discurso (de não cumprir decisões judiciais)  não é um discurso próprio  de um estadista comprometido com o respeito à ordem democrática que se submete ao império da Constituição e das leis da República. É essencial relembrar  a cada momento as lições da história, cuja advertência é implacável, como assinalava  o saudoso ministro Aliomar Baleeiro: "Enquanto houver cidadãos dispostos a submeter-se ao arbítrio sempre haverá vocação de ditadores".  É preciso resistir, mas resistir com as armas legítimas da Constituição e das leis do Estado brasileiro e reco-nhecer na independência da Suprema Corte a sentinela das liberdades", disse o Senhor Decano.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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