Yascha Mounk, em seu
artigo lança a tese de que o Brasil já é uma democracia sob supervisão militar.
Renato Janine Ribeiro concorda com o título.
Sem embargo, há esclarecimentos muito
importantes a serem feitos. De início, a convocação de inúmeros militares de
alto escalão pelo Presidente Bolsonaro faz parte da tática do próprio de voltar
ao seio das Forças Armadas. de que, por atos de indisciplina, fora afastado. É
um processo complexo que tem levado a estranhas nomeações, como a de um general
para a Casa Civil, coisa que sequer o governo Medici ousara no auge da ditadura
militar. A falta de ressonância - ou de reação das instâncias próprias -
constitui um elemento que é típico da cultura brasileira, e é fenômeno da
complacência diante de uma novel Administração.
Há aqui barreiras que não são
assim tão diáfanas. Porque as instâncias competentes não foram acionadas,
quando se estava em transe de desrespeitar, se não a letra, pelo menos o
espírito civilista da Constituição de 1988?
Apesar da argumentação do artigo de Renato Janine Ribeiro, a minha
modesta resposta se pauta pelo princípio talvez acenado sob as intempéries
políticas de que a democracia é o pior de todos os regimes, uma vez excluídos todos os demais. Pois
para uma geração que viveu boa parte de seus melhores dias sob tenebrosas
ditaduras, não há comparação possível entre a democracia e os supostos regimes
autoritários, muitos deles caricaturados sob movimentos que se afiguram
saudosos de AI-5 e de coisas
similares, quando sequer têm noção de o que é viver sob uma ditadura militar
plena.
Nem tudo o que diz The
Economist se deve escrever e copiar.
Para semanário que dá opinião sobre tudo, uma espécie de Time magazine
europeu, carecemos de muito cuidado se nos aventarmos a proclamar como
perto de sagradas as suas eventuais opiniões.
A militarização do regime - que, ao que parece, cai à maravilha para o
fraco presidente Bolsonaro - não devemos tomá-la como permanente pedra no caminho. Com a eleição de um
presidente que não dependa de tais apoios, a democracia tenderá a reclamar o
lugar que lhe é de direito, pois tal proteção ora outorgada às fracas
instâncias da Administração Bolsonaro, fadada a viver sob o temor de eventuais impeachments, se há de evaporar como as
névoas da manhã quando tomarmos de volta o caminho da autêntica democracia,
dentro do espírito da Constituição de Ulysses Guimarães.
(Fonte: Folha, "sem convicção, democracia continuará ferida")
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