sábado, 27 de junho de 2020

Democracia: Instituições não substituem Povo



           
      Yascha Mounk, em seu artigo lança a tese de que o Brasil já é uma democracia sob supervisão militar. Renato Janine Ribeiro concorda com o título.

         Sem embargo, há esclarecimentos muito importantes a serem feitos. De início, a convocação de inúmeros militares de alto escalão pelo Presidente Bolsonaro faz parte da tática do próprio de voltar ao seio das Forças Armadas. de que, por atos de indisciplina, fora afastado. É um processo complexo que tem levado a estranhas nomeações, como a de um general para a Casa Civil, coisa que sequer o governo Medici ousara no auge da ditadura militar. A falta de ressonância - ou de reação das instâncias próprias - constitui um elemento que é típico da cultura brasileira, e é fenômeno da complacência diante de uma novel Administração.
             Há aqui barreiras que não são assim tão diáfanas. Porque as instâncias competentes não foram acionadas, quando se estava em transe de desrespeitar, se não a letra, pelo menos o espírito civilista da Constituição de 1988?   
               Apesar da argumentação do artigo de Renato Janine Ribeiro, a minha modesta resposta se pauta pelo princípio talvez acenado sob as intempéries políticas de que a democracia é o pior de todos os regimes, uma vez excluídos todos os demais. Pois para uma geração que viveu boa parte de seus melhores dias sob tenebrosas ditaduras, não há comparação possível entre a democracia e os supostos regimes autoritários, muitos deles caricaturados sob movimentos que se afiguram saudosos de AI-5 e de coisas similares, quando sequer têm noção de o que é viver sob uma ditadura militar plena.
                    Nem tudo  o que diz  The Economist se deve escrever e copiar.  Para semanário que dá opinião sobre tudo, uma espécie de Time magazine europeu, carecemos de muito cuidado se nos aventarmos a proclamar como perto de sagradas as suas eventuais opiniões.  

                   A militarização do regime - que, ao que parece, cai à maravilha para o fraco presidente Bolsonaro - não devemos tomá-la como permanente  pedra no caminho. Com a eleição de um presidente que não dependa de tais apoios, a democracia tenderá a reclamar o lugar que lhe é de direito, pois tal proteção ora outorgada às fracas instâncias da Administração Bolsonaro, fadada a viver sob o temor de eventuais impeachments, se há de evaporar como as névoas da manhã quando tomarmos de volta o caminho da autêntica democracia, dentro do espírito da Constituição de Ulysses Guimarães.

( Referências: Carlos Drummond de Andrade, Ulysses Guimarães )

(Fonte: Folha, "sem convicção, democracia continuará ferida")

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