A
rainha Elizabeth II ficou furiosa
com a decisão de Harry e Meghan de deixar o Reino Unido e,
sem embargo, como o apresenta claramente a questão a jornalista negra inglesa Afua Hirsch, se a imprensa britânica
prestasse mais atenção à comunidade negra
do Reino Unido, talvez achasse o
anúncio menos surpreendente. Como assinala Hirsch no seu artigo "com um
novo primeiro ministro cujo histórico inclui declarações racistas, algumas das
quais fariam até Donald Trump corar, um projeto como o Brexit, ligado ao nacionalismo nativo e a um desejo de livrar o
Reino Unido dos imigrantes, e um aumento da nostalgia imperial, muitos de nós
(negros britânicos) também estaríamos pensando em mudança."
Para Hirsch, a imprensa britânica
conseguiu seu aparente projeto de perseguir Meghan Markle, a duquesa de Sussex, e expulsá-la do Reino Unido. O
efeito colateral, talvez, seja a perda do príncipe Harry - um membro muito
amado da realeza e parte essencial da marca global da família.
O racismo inglês está muito presente
na perseguição feita a Meghan pela imprensa. Assim, "desde a primeira
manchete, Meghan foi tratada como uma pessoa "diretamente saída de
Compton", cidade da Califórnia com elevado índice de criminalidade e
caracterizada por um "DNA exótico". Nas palavras do artigo, "o
tratamento racista dado a Meghan tem sido impossível de ignorar. A baronesa
Marie Christine von Reibnitz, casada com
o príncipe Michael de Kent, usou um broche racista na companhia de Meghan. Um
apresentador da BBC comparou o bebê
recém-nascido do casal a um chimpanzé."
E mais: "Aqueles que afirmam
que os ataques frequentes contra a duquesa não têm nada a ver com sua cor, têm
dificuldade na hora de explicar as tentativas de vinculá-la a várias formas de
crime com viés racial - terrorismo, ações de gangues, além do fato de ela ter
sido atacada por atos que mereceram elogios quando foram feitos por outros
membros da realeza."
Assim, "o tratamento recebido
por ela provou o que muitos de nós sempre soubemos: não importa que você seja
bonita, com quem você se case, que palácios ocupe, quais instituições de
caridade apoie, se você é fiel, quanto dinheiro você tem ou que realize boas
ações sociais, o racismo sempre lhe seguirá."
"Na rígida sociedade de
classes do Reino Unido, ainda há uma profunda correlação entre privilégio e
cor. As poucas pessoas negras (...) que
alcançam sucesso e prosperidade costumam ouvir que devem ser "gratas"
ou sair do país, caso não gostem daqui."
"O legado da história do
império britânico - uma construção global com base na supremacia branca -, seu
papel pioneiro no comércio de escravos e nas ideologias racistas que o
construíram, além de políticas de recrutamento
de negros no Caribe e na África
para trabalhos mal pagos e discriminação contra eles, está conosco até hoje. O
escândalo que envolveu a deportação de negros britânicos nos últimos anos ainda
reverbera. (...)
" Não é de admirar que o
casal queira sair. Com a declaração codificada de que querem criar seu filho
Archie 'com espaço para se concentrar no próximo capítulo', eles parecem
sugerir que o estão protegendo da irascibilidade à qual foram expostos. A
imprensa britânica, tendo atacado seguidamente o casal, agora reage com choque.
Mas as pistas já existiam há algum tempo para quem quisesse lê-las.
"Primeiro, a decisão de
não dar a Archie um título no nascimento - algo esperado entre os filhos da
realeza, mas que Meghan e Harry evitaram. Depois os rumores de que eles
poderiam se mudar para um país no sul da África. Nos últimos meses, o casal
começou a ignorar os canais oficiais da realeza e a se comunicar diretamente
com a imprensa. (...)
"Eram sinais de que o casal não
acataria os negócios da realeza como de costume, a ponto de, mesmo anunciando a
decisão de deixar as funções da realeza, parece ter tomado de surpresa o
Palácio de Buckingham.
Por sua vez, a autora do
artigo em tela, Afua Hirsch, não está
"nem um pouco surpresa.(...) E, ironicamente, a decisão de Harry e Meghan
de ir embora do Reino Unido pode ter sido o ato mais importante de liderança
real que (a escritora em tela) já viu."
( Fonte: The New York Times
)
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