domingo, 12 de janeiro de 2020

Racismo: a causa da decisão de Meghan ?


                       

        A rainha Elizabeth II ficou furiosa com a decisão de Harry e Meghan de deixar o Reino Unido e, sem embargo, como o apresenta claramente a questão a jornalista negra inglesa Afua Hirsch, se a imprensa britânica prestasse mais atenção à comunidade negra  do Reino Unido, talvez achasse  o anúncio menos surpreendente. Como assinala Hirsch no seu artigo "com um novo primeiro ministro cujo histórico inclui declarações racistas, algumas das quais fariam até Donald Trump corar, um projeto como o Brexit, ligado ao nacionalismo nativo e a um desejo de livrar o Reino Unido dos imigrantes, e um aumento da nostalgia imperial, muitos de nós (negros britânicos) também estaríamos pensando em mudança."

        Para Hirsch, a imprensa britânica conseguiu seu aparente projeto de perseguir Meghan Markle, a duquesa de Sussex, e expulsá-la do Reino Unido. O efeito colateral, talvez, seja a perda do príncipe Harry - um membro muito amado da realeza e parte essencial da marca global da família.

          O racismo inglês está muito presente na perseguição feita a Meghan pela imprensa. Assim, "desde a primeira manchete, Meghan foi tratada como uma pessoa "diretamente saída de Compton", cidade da Califórnia com elevado índice de criminalidade e caracterizada por um "DNA exótico". Nas palavras do artigo, "o tratamento racista dado a Meghan tem sido impossível de ignorar. A baronesa Marie  Christine von Reibnitz, casada com o príncipe Michael de Kent, usou um broche racista na companhia de Meghan. Um apresentador da BBC  comparou o bebê recém-nascido do casal a um chimpanzé."

            E mais: "Aqueles que afirmam que os ataques frequentes contra a duquesa não têm nada a ver com sua cor, têm dificuldade na hora de explicar as tentativas de vinculá-la a várias formas de crime com viés racial - terrorismo, ações de gangues, além do fato de ela ter sido atacada por atos que mereceram elogios quando foram feitos por outros membros da realeza."
             Assim, "o tratamento recebido por ela provou o que muitos de nós sempre soubemos: não importa que você seja bonita, com quem você se case, que palácios ocupe, quais instituições de caridade apoie, se você é fiel, quanto dinheiro você tem ou que realize boas ações sociais, o racismo sempre lhe seguirá."

               "Na rígida sociedade de classes do Reino Unido, ainda há uma profunda correlação entre privilégio e cor. As poucas pessoas negras (...)  que alcançam sucesso e prosperidade costumam ouvir que devem ser "gratas" ou sair do país, caso não gostem daqui."
                 "O legado da história do império britânico - uma construção global com base na supremacia branca -, seu papel pioneiro no comércio de escravos e nas ideologias racistas que o construíram, além de políticas de recrutamento  de negros no Caribe e  na África para trabalhos mal pagos e discriminação contra eles, está conosco até hoje. O escândalo que envolveu a deportação de negros britânicos nos últimos anos ainda reverbera. (...)
                " Não é de admirar que o casal queira sair. Com a declaração codificada de que querem criar seu filho Archie 'com espaço para se concentrar no próximo capítulo', eles parecem sugerir que o estão protegendo da irascibilidade à qual foram expostos. A imprensa britânica, tendo atacado seguidamente o casal, agora reage com choque. Mas as pistas já existiam há algum tempo para quem quisesse lê-las.
  
                "Primeiro, a decisão de não dar a Archie um título no nascimento - algo esperado entre os filhos da realeza, mas que Meghan e Harry evitaram. Depois os rumores de que eles poderiam se mudar para um país no sul da África. Nos últimos meses, o casal começou a ignorar os canais oficiais da realeza e a se comunicar diretamente com a imprensa. (...) 
                   "Eram sinais de que o casal não acataria os negócios da realeza como de costume, a ponto de, mesmo anunciando a decisão de deixar as funções da realeza, parece ter tomado de surpresa o Palácio de Buckingham.

                   Por sua vez, a autora do artigo em tela, Afua Hirsch, não está "nem um pouco surpresa.(...) E, ironicamente, a decisão de Harry e Meghan de ir embora do Reino Unido pode ter sido o ato mais importante de liderança real que (a escritora em tela) já viu."

( Fonte: The New York Times )

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