terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Democracia em Vertigem


                               
         Há uma notícia que, como brasileiro, me parece importante. Não desconheço que a resenha de tal realização muito depende, no seu viés, da orientação e, sobretudo, da experiência profissional de quem a escreve.
            Dentro desse quadro de atividade profissional, Merval Pereira, imerso na sua realidade político-partidária, orienta a própria resenha de "Democracia em vertigem", o documentário de Petra Costa, incluído entre os finalistas do Oscar de melhor documentário, como um possível vencedor  do Oscar em fevereiro.

            Merval Pereira talvez devesse basear o seu prognóstico da eventual premiação na qualidade do documentário, qualidade essa que está decerto estreitamente conexa à sua relevância ou não para a criação de um julgamento favorável para a preservação da hiléia amazônica, na definição de seu primeiro grande explorador, o cientista alemão barão  Alexander von Humboldt (1769-1859). A relevância da Amazônia para o Brasil e o mundo já surge para quem porventura não a conheça e tende a ser muito maior do que eventuais considerações políticas colaterais. Ela é demasiado grande a ponto de prescindir de eventuais conexões. Com efeito, no meu entender, o seu peso é tal que afasta questiúnculas políticas.
              Data venia, não me parece relevante, por isso, considerar os traços incidentais bosquejados por Merval Pereira.

               O valor filmográfico da obra de Petra Costa, enquanto  documentário e, por conseguinte, deve ser avaliado como contribuição tanto artística quanto política, e por isso, ao ultrapassar os parâmetros relativos à sua intrínseca qualidade, já foi  incluído entre as demais produções que concorrem para a premiação. Mas pesa e muito a sua realização enquanto oportunidade factual - e quem poderá negá-la diante das ameaças políticas que hoje rondam essa grande realidade hidrográfica, botânica e humana, que a faz única no quadro de seu multifacetado valor, diante da maravilhosa herança até hoje preservada   - sobretudo se levarmos em conta a sua importância não só para as populações indígenas  ameaçadas, senão para os próprios amazônidas.

                No momento presente, diante das notórias ameaças que sobre esta magnífica região pairam, não tem sido das menores a atenção da Humanidade para o enorme  desafio uma região que tem merecido seminários, estudos e o Sínodo da Amazônia, convocado, com a sua habitual determinação, por Sua Santidade o Papa Francisco.

                  Por isso, a eventual premiação do documentário de Petra Costa não seria tão só um galardão do Brasil, pois ela representaria o reconhecimento ainda maior deste grande desafio que a gente brasileira deve não só afrontar, mas também realizar na sua plenitude. Não seria decerto pequeno orgulho preservar e defender este inegável patrimônio da Humanidade, em um mundo que vê desaparecerem na América do Norte e Central, assim como em Africa, Ásia, Europa e Oceânia, as grandes florestas de antanho que a dita civilização e suas conexas consequências terão transformado, seja em aridez anônima, seja nas consequências inelutáveis dos resultantes desafios hidrográficos.  

( Fonte: O Globo,  A vertigem da política, artigo de Merval Pereira).

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