Há
uma notícia que, como brasileiro, me parece importante. Não desconheço que a
resenha de tal realização muito depende, no seu viés, da orientação e,
sobretudo, da experiência profissional de quem a escreve.
Dentro
desse quadro de atividade profissional, Merval Pereira, imerso na sua realidade
político-partidária, orienta a própria resenha de "Democracia em
vertigem", o documentário de Petra
Costa, incluído entre os finalistas do Oscar
de melhor documentário, como um possível vencedor do Oscar em fevereiro.
Merval Pereira talvez devesse basear o seu prognóstico da eventual
premiação na qualidade do documentário, qualidade essa que está decerto
estreitamente conexa à sua relevância ou não para a criação de um julgamento
favorável para a preservação da hiléia
amazônica, na definição de seu primeiro grande explorador, o cientista alemão
barão Alexander von Humboldt
(1769-1859). A relevância da Amazônia para o Brasil e o mundo já surge para
quem porventura não a conheça e tende a ser muito maior do que eventuais
considerações políticas colaterais. Ela é demasiado grande a ponto de
prescindir de eventuais conexões. Com efeito, no meu entender, o seu peso é tal
que afasta questiúnculas políticas.
Data venia, não me parece relevante, por
isso, considerar os traços incidentais bosquejados por Merval Pereira.
O
valor filmográfico da obra de Petra Costa, enquanto documentário e, por conseguinte, deve ser
avaliado como contribuição tanto artística quanto política, e por isso, ao ultrapassar
os parâmetros relativos à sua intrínseca qualidade, já foi incluído entre as demais produções que
concorrem para a premiação. Mas pesa e muito a sua realização enquanto oportunidade
factual - e quem poderá negá-la diante das ameaças políticas que hoje rondam
essa grande realidade hidrográfica, botânica e humana, que a faz única no
quadro de seu multifacetado valor, diante da maravilhosa herança até hoje preservada
-
sobretudo se levarmos em conta a sua importância não só para as populações
indígenas ameaçadas, senão para os
próprios amazônidas.
No momento presente, diante das notórias ameaças que sobre esta
magnífica região pairam, não tem sido das menores a atenção da Humanidade para o
enorme desafio uma região que tem
merecido seminários, estudos e o Sínodo da Amazônia, convocado, com a sua
habitual determinação, por Sua Santidade o Papa
Francisco.
Por isso, a eventual premiação do documentário de Petra Costa não seria
tão só um galardão do Brasil, pois ela representaria o reconhecimento ainda
maior deste grande desafio que a gente brasileira deve não só afrontar, mas
também realizar na sua plenitude. Não seria decerto pequeno orgulho preservar e
defender este inegável patrimônio da Humanidade, em um mundo que vê
desaparecerem na América do Norte e Central, assim como em Africa, Ásia, Europa
e Oceânia, as grandes florestas de antanho que a dita civilização e suas
conexas consequências terão transformado, seja em aridez anônima, seja nas
consequências inelutáveis dos resultantes desafios hidrográficos.
(
Fonte: O Globo, A vertigem da política, artigo
de Merval Pereira).
Nenhum comentário:
Postar um comentário