O
esvaziamento das funções da Casa Civil e a demissão de servidores da Pasta, anunciadas ontem, 30 de janeiro, pelo
Presidente Jair Bolsonaro,foram interpretados por integrantes desse governo
como o "fim da linha" para o Ministro Onyx Lorenzoni.
Com
efeito, o comportamento do Ministro tem
incomodado não só o presidente, mas seus
colegas da Esplanada, que o acusam de praticar a "velha política", ao
usá-los para atender demandas do baixo clero do Congresso, a par de haver
indicado para integrar o governo que viraram dor de cabeça para o seu chefe,
como o ministro da Educação, Abraham Weintraub.
Bolsonaro decidira ontem tirar da competência de Onyx o Programa de
Parcerias de Investimentos (PPI), que
cuida das privatizações de estatais e
concessões, uma das vitrines do Governo. O programa tinha migrado para o
guarda-chuva da Casa Civil em julho de
2019, como uma espécie de "prêmio de consolação" após Onyx perder a
articulação política do Planalto. Agora, o PPI foi transferido para o Ministério da Economia, comandado por
Paulo Guedes.
Sem o PPI e sem a articulação política, Bolsonaro deixa, na prática, a
Casa Civil totalmente esvaziada. Sem embargo, a situação se agravou após o vai
e vem envolvendo o agora ex-secretário
executivo dessa pasta, Vicente Santini, braço-direito de Onyx. Na verdade, ele já fora demitido publicamente
pelo Presidente na terça-feira, após ter utilizado um avião da Força Aérea
Brasileira (FAB), para ir à Europa e à Ásia. Na quarta-feira Santini foi
readmitido em outra função, para voltar ontem a ser exonerado.
A
segunda demissão de Santini foi decidida após Bolsonaro receber a informação
de que o assessor de Onyx usou o nome do ministro Paulo Guedes para justificar
sua polêmica ida a Davos em um avião oficial, o que veio a custar aos cofres
públicos pelo menos R$ 740 mil. Ao checar a história, o presidente descobriu
que fora enganado.
Para Bolsonaro, Santini dissera
que foi ao Fórum Econômico Mundial, em Davos para ajudar na defesa do
PPI. Para Guedes, o assessor afirmou que
viajara a mando do presidente. Ao saber das versões, Bolsonaro teria ficado
possesso: "Mentiroso!" O
que nenhum interlocutor do presidente
explica é por que, mesmo assim, Santini foi recontratado na quarta-feira. A
nova demissão ocorreu após críticas que Bolsonaro recebeu nas redes sociais.
Quanto à Casa Civil, Onyx a recebeu por ter sido um dos primeiros
apoiadores de Bolsonaro, no período pré-eleitoral. Por isso, ele foi feito responsável para
coordenar a transição do governo no fim de 2018. Nesse contexto, a Casa Civil passou a
acumular a articulação política e a Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), por
onde passam as principais decisões do governo.
Na metade de 2019, Bolsonaro tirou a
articulação de Onyx e a passou para a Secretaria de Governo, de Luiz Eduardo
Ramos. Já a SAJ foi transferida para a Secretaria-Geral da Presidência, com
Jorge Oliveira. Considerado um prêmio de consolação, Onyx ganhou o PPI, que
agora foi para a Economia. A secretária especial do PPI, Martha Seillier,
também estaria na corda bamba. Ela, no entanto, conta com o apoio do ministro
da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, para manter-se por ora no cargo.
Coordenação. Mas os fócos de desgaste não param por
aí. Onyx tem recebido também críticas
nos bastidores por não coordenar a atuação de todas as Pastas da Esplanada, o
que também seria em princípio de sua competência. Sinal de que o presidente não
está satisfeito com esse trabalho foi a circunstância de haver passado a
coordenação do Conselho da Amazônia, o que foi anunciado no início deste mês de
janeiro, para o vice-presidente Hamilton
Mourão.
Sem embargo, apesar de
o esvaziamento da Casa Civil e de seu Chefe seja a situação mais grave, as
mudanças na Casa Civil anunciadas ontem,
trinta de janeiro, por Bolsonaro, são vistas como no contexto de uma possível
mini-reforma ministerial.
Dado o esvaziamento de
sua pasta, Onyx decidiu antecipar o retorno ao Brasil e teria, nesse sentido, a
expectativa de reunir-se ainda hoje, 31
de janeiro, com o Presidente. Oficialmente, o ministro só retomaria o trabalho
nesta segunda-feira, três de fevereiro, após duas semanas nos Estados Unidos.
Mas, por enquanto, não há nada certo...
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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