As
grandes epidemias mundiais, elas costumam aparecer de repente. Estranhas na
festa de nossas existências, chegam sem sequer avisar, e
silenciosamente invadem o espaço de gentes conhecida e desconhecida, como se
caminhassem com aqueles chinelos de feltro que calçavam os nossos parentes mais
velhos.
Surgem no horizonte, carregadas amiúde pelas manchetes agourentas
dos jornais. Nos falam dos casos suspeitos, que como ladrões se intrometem na
programação de gente conhecida ou desconhecida, e quer-se queira, quer não, elas
modificam tanto a existência das moças - em geral bonitas - quanto a das
criancinhas que trazem consigo, e que surgem nas primeiras páginas dos jornalões.
São tempos diferentes, e as respostas a tal inaudito desafio costumam
diferir em quase tudo que imaginar-se possa, a par do incômodo e da inquietude
que sóem carregar esses tempos incômo-dos que nos visitam com as de repente
malquistas facilidades de um mundo global e não mais separado pelas enormes
distâncias oceânicas, com que nossos antepassados pareciam dar-se muito bem, a
ponto de sequer incomodar-se com desgraças, que lhes chegassem aos ouvidos
muito depois de acontecidas, como se fossem coisa de outros mundos, e, nesse
contexto, de beata indiferença nele julgada e bem depressa esquecida.
A China, em passado assim não tão afastado, parecia quedar-se em outro
mundo, e, como nos provérbios, ela costumava chegar com a relevância do
passado, formada de eventos tão distantes quanto fora do alcance das terrenas
inquietudes.
Há de compreender-se, portanto, os turrões e os casmurros que davam de
ombros para essas estórias - seriam autênticos contos da China - que por vezes
lhes vinham aos ouvidos, envolvidos nos pacotes e nas bagagens que chegam
marcadas pelos selos do atraso, e que
falavam de misérias passadas, que o vento já levara, a exemplo das estórias de
Margaret Mitchell.
(
Fontes: O Estado de S. Paulo, Folha de
S. Paulo e O Globo. )
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