sexta-feira, 9 de junho de 2017

Onde está Theresa May?

                              
      Tudo fica mais claro depois de uma eleição. Sobretudo esta última no Reino Unido. Líderes não surgem da noite para o dia. Para os fracos, a fortuna costuma ser má conselheira. Qual nave em denso nevoeiro, se na torre de comando está pessoa de pouca experiência, ou - o que é pior - animada por estranhas convicções, que mais se baseiam na própria estreiteza de vistas, o provável resultado da briosa mediocridade, será o previsível malogro, que visita os líderes pequenos que, incensados pelos áulicos, se crêem grandes.
       Precipitada nas decisões, pensando afirmar-se com ousados projetos, que confundem a convicção do jogador com a do político tarimbado pela longa experiência e a lição dos próprios maiores, Theresa May terá confundido as fáceis, ilusórias palavras dos próprios cortesãos com o risco enganoso de promessas a poucos destinadas.
        Julgaste acaso sábio fazer economia com pesados cortes na segurança, logo em teu país, que dormiu por demasiado tempo sem o necessário controle de tuas fronteiras? É o bom senso que deve presidir em tuas cancelas, e não a atual cruel mesquinharia dos senhores dos portões na Europa central.
         A sorte costuma retirar com a mão esquerda o que concede com a direita. Ao assumir a liderança, que exemplo tinhas a imitar? A mediocridade é  terreno sáfaro, e se a sorte não terá sido madrasta para quem te abriu os domínios do poder, não terás levado na devida conta que poderia ser um presente de grego. O trágico no líder está em pensar que um grande desafio será  sua própria medida.
          A ignorância que é o elixir das malogradas ousadias, somente agora  principia a desenhar-se diante de ti. A solidão costuma ser companheira do poder, enquanto a voz dos áulicos ela é doce enquanto dura. Nada mais imediato e determinante para que a verdade afinal surja, sem os atavios da noite, do que a brutalidade dos fatos, e à sua volta cresce o silêncio do malogro, ou a zoeira confusa das tentativas desesperadas, de ressuscitar a esperança, a que alimenta o bom senso e a prudência.
          A voz dos cortesãos sói prometer mágicas proezas, mas nada como o dia seguinte, em que tudo fica mais nítido e claro, desafortunadamente porém, o relógio do tempo já avançou, e a tua força de ontem, e a algaravia dos áulicos, a um tempo cessa e se cala.
          Costuma ser breve e mesmo fugaz a atitude daqueles a quem faltaram seja o exemplo de seus maiores - nesses dias só encontráveis na leitura dos livros e dos cartapácios - seja a elementar prudência de quem teme as dádivas da deusa Fortuna, eis que podem ser ilusórias como nesgas de céu azul que mal dissimulam a tempestade.
          Ao ignorar ou esquecer - o que é ainda pior - o exemplo de seus maiores, o líder fraco torna fraca a sua gente, como diz o grande poeta do pequeno Portugal.
           A boa Sorte é um destino caprichoso, que apenas se entrevê em raras vezes.
           Para Theresa May chegou a hora da verdade. O seu passado recente, e a hübris que a acometeu, talvez a longa noitada dos votos e dos êxitos que não se confirmam, lhe terá trazido a oportunidade de reinventar-se e de adaptar-se à realidade.
           A medida agora é outra. Esta festa acabou, mas aquela que temias, ressurge com força. Se olhares à volta, verás que não tens outra pessoa a enfrentar do que a ti mesmo. Se caíres na real, poderás acalentar a esperança. Senão terás a mesma sorte dos demagogos deste e de verões passados, como o Ukip e fantasmas similares.
           Boa sorte.


( Fontes: Carlos Drummond de Andrade, Luíz de Camões, Vinicius de Moraes , Winston Churchill)

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