Os derrotados terão algum dia razão?
Quando leio na imprensa americana - e no próprio New York Times - série de motivos para reconhecer que os democratas
não têm razão e que devem, por conseguinte, conformar-se com a ordem das
coisas, peço vênia para mudar um tanto a interrogação e perguntar quando algum
dia os derrotados terão razão em algo?
Com a devida vênia, não posso senão
lembrar-me do chefe gaulês Breno que ao vencer aos romanos - quando Roma ainda
era uma pequena cidade - lançou a própria espada na balança que pesava o botim
exigido dos perdedores, com a expressão:
"Vae victis!" (ai dos
vencidos!).
Em vão, o lado perdedor tentará
reclamar da sorte. A derrota, seja pelas armas, seja pelos votos, não se
discute. Apenas se busca entendê-la.
Nessa eleição extra, que saíu com
resultado apertado (diferença de cerca 1,5%) havia primeiro a característica
republicana da circunscrição (há mais de quarenta anos ali não vence um democrata...).
Em segundo lugar, entre Nancy Pelosi
- a lider democrata de bancada que é minoritária na Câmara de Representantes
por conta do gerrymander praticado em
boa parte das circunscrições dessa Câmara baixa - e Donald Trump, qualquer
pessoa de bom senso ficará com a representante democrata.
Em terceiro lugar, mais dia ou menos
dia, a Administração Trump deve ir à breca.
As próximas investigações - quanto
à alegada colusão entre o candidato republicano e a influência russa - deverão
determinar o grau dessa interferência. A candidata democrata - que venceu na
votação popular (que infelizmente não conta nada nos States) - foi prejudicada e feio, pela interferência do chefe do
FBI (com as suas prá lá de estranhas advertências quanto ao tal de canal
privado do computador de Hillary justamente durante esse voto antecipado), mas,
infelizmente, é tarde para chorar sobre o leite derramado (apesar de terem
exagerado na dose).
Sem embargo, pode ser que as
investigações sobre Trump esclareçam mais sobre a tal influência russa (leia-se
Putin).
Não vejo, no entanto, nada para
chorar nessa eleição extraordinária na Georgia. Será apenas mais uma etapa nesta
caminhada.
Deixemos à Administração Trump
o espaço necessário para piorar ainda mais os seus índices de aprovação.
Sozinho, Donald Trump pode
comprovar-se como o melhor cabo eleitoral do Partido Democrata.
( Fonte: The New York Times
)
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