Robert S. Mueller, o
conselheiro especial, encarregado de examinar a alegada interferência russa na
eleição de 2016, solicitou, segundo informa o New York Times, entrevistar-se com três altos funcionários, com
responsabilidade presente ou no passado recente, no campo da inteligência.
Nesse sentido, Mueller deseja inquirir tanto Dan Coats, o presente diretor
nacional de inteligência; o Almirante Michael S. Rogers, chefe da Agência de
Segurança Nacional; e Richard Ledgett, o ex-vice diretor da Agência de
Segurança Nacional (NSA).
Nenhum dos altos funcionários acima
citados tiveram a ver com a campanha de Donald Trump. Sem embargo, notícias de
imprensa recentes levantam a possibilidade de que o Presidente haja solicitado
a ajuda desses três altos funcionários com vistas a convencer James
B.Comey, então diretor do FBI, a pôr fim a investigação sobre Michael
T. Flynn, ex-assessor de segurança nacional de Trump. Nesse contexto,
tanto Coats, quanto o Almirante Rogers não quiseram responder sobre essa
matéria no Congresso. É possível, portanto, que, por ser matéria confidencial,
as duas autoridades tenham julgado que a sessão do Congresso, por ser
ostensiva, não seria o foro adequado para a questão.
O escritório de Mr Mueller solicitou da
NSA que lhe disponibilizasse os eventuais documentos ou notas concernentes às
interações da Agência com a Presidência da República, enquanto às partes da
investigação sobre a Rússia, consoante informou à imprensa um funcionário da
inteligência.
Era segredo de Polichinelo que a designação de
Mr Mueller no mês passado teria muito a ver com as ações de Trump.
Nesse sentido, o presidente se mostrou disposto a ser entrevistado pelos
agentes de Mr. Mueller. Nesse contexto, James Comey disse estar certo de que o
Conselheiro especial investigaria da possibilidade de obstrução.
Então, terá até passado na cabeça de
Trump a possibilidade de demitir Mr. Mueller. A custo, os seus auxiliares o
convenceram de não levar avante essa idéia. Se o presidente está sob
investigação por obstrução de justiça, é óbvio que esta ação presidencial seria
desastrosa para ele, pois poderia ser interpretada até como admissão de culpa.
Não se pode excluir que o fato de o
FBI estar coletando informações sobre a possibilidade de um crime, não
significaria necessariamente que os promotores estejam reunindo matéria para estruturar
uma acusação formal contra o presidente. Ainda consoante essa versão, na fase
inicial das investigações a missão dos agentes do FBI é a de coletar todos os
fatos pertinentes. Uma vez feita a juntada, tais fatos serão apresentados aos
promotores, que decidem se existe ou não caso a ser apresentado na Justiça.
As solicitações de Mr Mueller se inserem entre as primeiras medidas
conhecidas desde que lhe foi cometida a citada investigação em maio. Soube-se
então que o diretor do FBI, James Comey, escrevera memorandum em que relatou
como o Presidente lhe solicitara deter a investigação acerca da exoneração do
seu assessor de Segurança Nacional, Mr Flynn.
Uma fonte da Casa Branca
informou que todas as questões
concernentes a essa matéria foram repassadas para o advogado especialmente
contratado pelo Presidente para tratar do assunto, Marc E. Kasowitz. A esse
propósito, uma fonte desse escritório disse: "O vazamento pelo FBI de
informação concernente ao Presidente é ultrajante, inexculpável e ilegal".
O
exame das ações de Mr Trump pode ser atribuído às consequências imprevistas que
começaram quando o presidente, frustrado pela nuvem de investigações sobre a
alegada colusão com a Rússia, demitiu Comey no mês passado. Para a rede da NBC,
Trump disse: "Quando me decidi, disse para mim mesmo - 'Você sabe, esta
coisa de Rússia com Trump é uma estória inventada'. Posso até espichar a investigação, mas eu
tenho que fazer a coisa certa para o Povo Americano. Ele (Comey) é o homem errado para essa posição."
É comum nesses casos que a
autoridade tente recorrer à justificativa de que se trata de informação
privilegiada, a que normalmente o chefe do governo tem o direito de preservar
como questão afeta à própria privacidade.
No entanto, a prática jurídica tem
demonstrado que as Cortes não aceitam tal blindagem, como já se viu em inúmeras
questões judiciais, como v.g. nos processos contra o Presidente Richard Nixon.
Dentre as questões que incumbem ao
Conselheiro Especial, além do exame da eventual intromissão da Rússia na
eleição de 2016, estão igualmente incluídos o caso de Mr. Flynn, ex-assessor de
Segurança Nacional, que desinformou as autoridades americanas sobre os seus
laços com o governo russo. Além disso, Flynn terá de explicar a circunstância de
haver trabalhado como agente estrangeiro da Turquia, de agosto a novembro de
2016, sem disso informar o Governo Americano. Caíu igualmente no cesto de
tarefas do Conselheiro Especial o antigo
chefe de campanha de Trump, Paul
Manafort. Por fim, foi cometida ao
Conselheiro Especial Robert S. Mueller III a tarefa de investigar obstrução de
justiça no que concerne ao próprio Presidente dos Estados Unidos.
( Fonte: The New York Times )
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