Talvez seja
otimismo de minha parte considerar revolucionário o atual movimento de resistência da população
venezuelana em geral, e notadamente dos jovens e das forças democráticas e dada a gravidade da situação política,
econômica, e social, em qualificá-lo com as maiúsculas letras que honram poucos
movimentos políticos na história da América Latina. Nesse sentido, a Revolução não é golpe, nem armação de palácio.
Ela costuma surgir das funduras de desesperada situação, em que líderes
corrompidos pensam rebaixar a sociedade às próprias ignomínias e funduras.
Mas o que ora vemos, em forma de dedicação a um ideal maior, e de luta por superar o contraposto deserto de homens e de idéias que pensa
jogar na própria baixeza e ignomínia, se invocarmos
a união e a coragem em busca de sair do atoleiro e das areias movediças
da corrupção, se acreditar nesse movimento de esperança e redenção, não é acaso Revolução, o que é? A Venezuela tem sofrido demasiado enquanto
permanece nas mãos da deformada casta neochavista. Nunca um governo se mostrou a
um tempo ávido em locupletar-se com a riqueza do Estado venezuelano, de que se
tem apoderado de forma cúpida e desavergonhada, enquanto uma parte do grêmio neochavista descambou para a ditadura no estilo caribenho. Nicolas Maduro e sua
clique criminosa se apoderaram do Estado, depois que o Coronel Hugo Chávez, já
moribundo e com as faculdades mentais alteradas, passa o controle da Venezuela
para a igrejinha chefiada por Maduro, em termos de questões estatais, e ajudado
por Diosdado Cabello, para o tráfico das subvenções alternativas.
Nunca tantos viram um país, com tal
pletora de recursos naturais, a começar pelo ouro negro, a um tempo defraudado,
e noutro mal administrado por uma clique que mais pensa no enriquecimento
pessoal - e que se vale da Nação e da Sociedade, que desfalcam e empobrecem -
do que em quaisquer propósitos de contribuir para o desenvolvimento e o
progresso do Povo Venezuelano.
Ao apropriarem-se dos ideais de Simon
Bolívar, o fazem como os vermes que invadem as grandes árvores para
consumir-lhes a seiva. Desde muito, o Povo da Venezuela já compreendeu que
chamar os serviços de segurança do Estado de bolivarianos constitui na verdade um ultraje e um deboche à própria personificada idéia
do Libertador das Américas.
Chávez respeitava o voto popular, e
adotava um comportamento de destemor consequente. Por tremer diante da vontade do Povo Venezuelano,
Nicolás Maduro fará toda e qualquer baixeza contra o ideal democrático, como já
o sinalizou por demasiadas vezes: usou
de todos os pretextos para evitar o recall,
instituto democrático que Hugo Chávez enfrentou e venceu com a coerência que
era própria de sua liderança.
Por sua vez, talvez afetado pela
enfermidade, Chávez não terá podido aquilatar o erro que cometia contra o Povo
venezuelano ao entregar o poder presidencial a alguém de que as circunstâncias
não tardariam a mostrar a própria incapacidade para o bem.
A respectiva inépcia é tal que torna
qualquer discurso acerca de sua obra pleonástico na medida em que desceu
tão fundo no próprio fracasso que é quase desnecessário descrever-lhe os
imensos desserviços que tem prestado à Nação venezuelana.
A paciência do Povo Venezuelano será
tal que todas as suas maquinações continuarão, diante da desgraça geral do
Estado e da Nação deste país tão rico por natureza, mas hoje empobrecido pela
cúpida incapacidade e pletórica falta de patriotismo da gente que cerca o
caudilho, fautor e feitor de desgraças e misérias, que a despeito de tudo e da geral oposição da quase totalidade da Sociedade venezuelana, continua a
aferrar-se ao mando, fazendo crer aos que o cercam que a desgraça venezuelana e
o opróbrio do presente regime constituem meras intrigas da Oposição, que busca
diminuir enquanto mais ela cresça, como se possível fora que o fuzil sirva de
apoio para quem persegue o Povo e arruína a Sociedade Venezuelana ?
(
Fontes: Folha de S. Paulo; O
Globo )
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