Depois dos enormes
aumentos territoriais conseguidos militarmente pelo Exército Islâmico, a partir
de 2014, o E.I. tem ultimamente sofrido
pesadas perdas. Para que se tenha ideia do tamanho da queda, neste ano de 2014, o grupo controlava ativos
de US$ 2 trilhões e tinha renda
anual de US$ 2,9 bilhões. Parte desse dinheiro vinha de impostos sobre a
população de seus territórios. Tais tributos incidiam sobre transportes, merces
e salá-rios. Exemplos disso eram a cobrança de US$ 800 por caminhão que en-trasse
no Iraque, vindo da Jordânia e da Síria, uma taxa de 5% coletada para a
seguridade social e salário, e US$ 200
cobrados de motoristas no norte iraquiano.
A par
disso, para permitir o saque a sítios arqueológicos, os terroristas levavam 50%
em Raqqa e 20% em Alepo. Para que se
tenha ideia, da dispersão da memória arqueológica da região, só o contrabando
de artefatos históricos de áreas controladas pelo grupo na Síria rendeu US$ cem
milhões nos últimos dois anos. Esse
total terá sido muito maior nos anos anteriores, quando o domínio do E.I. sobre
o território dessa área era muito maior.
Em
consequência da reação estadunidense e do apoio de outros países na área,
milícias apoiadas pelos Estados Unidos no Iraque e na Síria lograram ontem
duas relevantes vitórias contra o E.I., nas cidades de Mossul e Raqqa. Nesse
mesmo período, o Exército Islâmico já perdeu 60% do seu território e 80% de sua
receita, nos últimos dois anos.
Recordam-se da foto no balcão da mesquita em que o líder do E.I., Abu
Bakr al-Baghdaadi proclamou seu fugaz "califado", em julho de 2014?
Pois soldados iraquianos retomaram a mesquita Al-Nuri, de onde o líder do
Exército Islâmico proclamara seu "califado", em julho de 2014.
Por
outro lado, se a capital religiosa do EI
foi reconquistada no Iraque a sua capital administrativa Raqqa, na Síria, está
atualmente cercada por milícias curdas apoiadas pelos Estados Unidos.
O
desmoronamento do E.I. se deve notadamente a perdas financeiras e
territoriais. Dessarte, entre o segundo
trimestre de 2015 e o segundo tri-mestre de 2017, a receita obtida pelo Estado
Islâmico com tributos arrecadados em locais sob seu domínio e com o contrabando
do petróleo e antiguidades caíram em 80% - de US$ 81 milhões para US$ 16
milhões. Só a renda mensal da venda de petróleo do EI teve um corte de 88%. Por
sua vez, os ganhos com impostos e contrabando de antiguidades recuaram 79%
Como é óbvio, são as "perdas
territoriais o princípal fator por trás do colapso financeiro do
E.I.". A assertiva é de Ludovico
Carlino, analista da IHS Markit. Nessa linha, "perder o controle de
Mossul, uma cidade populosa, e de áreas petrolíferas em Raqqa e Homs(na Síria)
teve impacto crucial nisso."
Foi essencial para a preponderância
e, por fim, a eventual derrota do E.I. o apoio dado pelo Ocidente, notadamente
os Estados Unidos, através de intervenções aéreas e de comandos militares.
Dentre as forças locais, os aguerridos curdos tem dado boa parte da infantaria
para levar a cabo desmantelamento das forças do E.I.
Sob o viés da arqueologia, a
preponderância do E.I. terá sido ruinosa para área tão rica em tesouros e
construções arqueológicas. Infelizmente, não foi das menores a incidência
criminosa do E.I. sob o patrimônio da área, com a consequente perda de inúmeros
tesouros de valor inestimável. Também o
centro de Palmira terá sido muito afetado tanto pelo vandalismo do E.I., quanto
pelo saqueamento irresponsável de tesouros da Humanidade.Infelizmente,
inexiste, em termos práticos, na UNESCO nada que se possa comparar ao mecanismo
do tombamento. É lógico que os vândalos
do E.I. e os seus mentores, muito ávidos para o ganho, não se deteriam diante
de disposições desse gênero. Contudo, um levantamento topográfico e fotográfico
realizado de forma abrangente e conscienciosa tenderia a contribuir para u'a
maior preservação desses tesouros da Humanidade. Todos nós temos presente a
boçal destruição dos monumentais Grandes Budas do Afeganistão.
O mal produzido pelo E.I., ainda
que vestido de um caráter de extrema intolerância religiosa, na verdade se
devia sobretudo à cínica postura mercantilista. A ganância dos filisteus e seu consequente
desapreço pela arte nas suas diversas formas não é uma atitude que seja
unicamente própria desses grupos dominados pelo fanatismo e a referida intolerância..
(
Fonte: O
Estado de S. Paulo )
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