Não é fenômeno incomum
que técnico de futebol pretenda 'afirmar-se' pela barração do principal craque
do time, cuja 'direção técnica' porventura haja assumido.
Não é primeira vez que se me depara este
estranho fenômeno. Recordo-me, no passado, de postura nesse sentido de
Wanderley Luxemburgo. Agora, a estranha prática é aplicada pelo técnico Milton
Mendes, e como o Vasco, no presente, é
quase um deserto em termos de grandes jogadores, a vítima da vez é o craque Nenê.
Já me inquieta que o responsável pela
escalação da equipe recorra a esse tipo de tática. Freud, por certo, a
explicaria, pois ela traz como traço gritante a insegurança do técnico, que dá
a impressão de ver-se incomodado pela unanimidade tanto da torcida, quanto dos
próprios companheiros, no que tange à capacidade técnica e de liderança de Nenê.
Talvez Pelé, a seu tempo, nunca tenha
padecido tal ignomínia, mas o técnico - qualquer que ele seja - assina atestado de insegurança, com firma reconhecida, ao barrar dessa forma o único
craque da equipe. Decerto, há dois outros jogadores no CRVG - o goleiro uruguaio
e a recente 'aquisição' de Luís Fabiano - que são de ótimo nível naquele quase
deserto de bons jogadores, uma decorrência da estranha política de Eurico
Rezende de, ao invés de fortalecer, debilitar o esquadrão cruzmaltino pela
continuada venda de bons elementos.
Colocar a Nenê como se estivesse a
disputar uma vaga na equipe vascaína - logo ele, um solitário grande jogador
naquele deserto de craques - pode
parecer humilhação forçada por um dirigente técnico que de muito semelha
carecer valer-se dessa vazia autoridade para afirmar-se na direção e formação
da equipe.
Essa postura que tem um traço claro e
distinto, só pensa repontar quando é o diretor-técnico aquele em se acha aguda
necessidade de mostrar a própria capacidade.
Barrar Nenê da equipe é mais um traço
de incapacidade da respectiva direção técnica. Não é pela injustiça - e pela consequente
acintosa estupidez - que os quadros do CRVG serão reforçados. Afrontar a torcida
- que não é burra e quer o melhor para o seu time - não é boa tática, se
alguém deseja firmar-se em São Januário ou alhures.
Ele mesmo, se tiver presente o que
sucedera a Wanderley Luxemburgo no passado,
ganharia juízo, pois não será por barrar o maior craque da equipe -
qualquer que ela seja - que o técnico da vez logrará manter-se na respectiva
direção.
Vedetismo se deve utilizar em doses
moderadas e, de preferência, deixá-lo aos craques da equipe (se ela os tem no
plural).
(
Fonte: O Globo )
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