terça-feira, 13 de junho de 2017

Da barração de Nenê

                                             
                                      

       Não é fenômeno incomum que técnico de futebol pretenda 'afirmar-se' pela barração do principal craque do time, cuja 'direção técnica' porventura haja assumido.  
        Não é primeira vez que se me depara este estranho fenômeno. Recordo-me, no passado, de postura nesse sentido de Wanderley Luxemburgo. Agora, a estranha prática é aplicada pelo técnico Milton Mendes, e como o Vasco, no presente,  é quase um deserto em termos de grandes jogadores, a vítima da vez é o craque Nenê.
       Já me inquieta que o responsável pela escalação da equipe recorra a esse tipo de tática. Freud, por certo, a explicaria, pois ela traz como traço gritante a insegurança do técnico, que dá a impressão de ver-se incomodado pela unanimidade tanto da torcida, quanto dos próprios companheiros, no que tange à capacidade técnica e de liderança de Nenê.
         Talvez Pelé, a seu tempo, nunca tenha padecido tal ignomínia, mas o técnico - qualquer que ele seja - assina  atestado de insegurança, com firma reconhecida, ao barrar dessa forma o único craque da equipe. Decerto, há dois outros jogadores no CRVG - o goleiro uruguaio e a recente 'aquisição' de Luís Fabiano - que são de ótimo nível naquele quase deserto de bons jogadores, uma decorrência da estranha política de Eurico Rezende de, ao invés de fortalecer, debilitar o esquadrão cruzmaltino pela continuada venda de bons elementos.
         Colocar a Nenê como se estivesse a disputar uma vaga na equipe vascaína - logo ele, um solitário grande jogador naquele deserto de craques -  pode parecer humilhação forçada por um dirigente técnico que de muito semelha carecer valer-se dessa vazia autoridade para afirmar-se na direção e formação da equipe.
         Essa postura que tem um traço claro e distinto, só pensa repontar quando é o diretor-técnico aquele em se acha aguda necessidade de mostrar a própria capacidade.
         Barrar Nenê da equipe é mais um traço de incapacidade da respectiva direção técnica. Não é pela injustiça - e pela consequente acintosa estupidez - que os quadros do CRVG serão reforçados. Afrontar a torcida - que não é burra e quer o melhor para o seu time - não é  boa tática, se alguém deseja firmar-se em São Januário ou alhures.
         Ele mesmo, se tiver presente o que sucedera a Wanderley Luxemburgo no passado,  ganharia juízo, pois não será por barrar o maior craque da equipe - qualquer que ela seja - que o técnico da vez logrará manter-se na respectiva direção.
          Vedetismo se deve utilizar em doses moderadas e, de preferência, deixá-lo aos craques da equipe (se ela os tem no plural).


( Fonte: O Globo )

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