Chovem
as insinuações, que repontam por toda parte, mas não leio em canto algum, e
muito menos nas colunas dos jornalões que Donald J. Trump caminha com passo estugado por
sinuosa e inclinada vereda que sinaliza para os infelizes que nela avançam quão
próximo está o perigo do impeachment.
São
poucos os temerários que adentram esse
caminho maldito. E no cenário dessa pairante desgraça se vê fervilhar de
advogados e da vasta grei que costuma andar a seu redor.
Não
será por acaso que surgem os procuradores e os conselheiros especiais, se e
quando as circunstâncias favoreçam o seu trabalho, que é feito de paciência,
argúcia e o firme olhar do caçador que a presa não larga, por maior que seja,
pois se trata de gente corajosa, que o perigo não enjeita, quando discerne a
ambígua atração de um passo equivocado, que pode desvelar a oportunidade
inesperada de um exposto flanco.
É faina
aborrecida, que pouco tem a ver com a
violência do matador, ao entrever o terrível desafio de um touro enfurecido
pelas banderilhas. Mais cruentas e temíveis serão as lanças dos picadores, que
arremetem contra a besta cercada, a ponto de levantar a cólera do público, que
anseia por longo e sofrido combate, e não o brutal dessangramento da vítima da
vez.
Nos
tempos modernos, dois presidentes
enfrentaram o desafio do impeachment. Richard Nixon preferiu a renúncia, quando as sortes, na prática, estavam
lançadas, o seu afastamento da presidência já se configu-rava inequívocamente.
Por sua vez, Bill Clinton logrou superar o ataque do impiedoso Ken Starr.
Quanto a Donald Trump, nenhum outro presidente dos tempos modernos parece tão próximo de
cair no infernal mecanismo do impeachment.
Se Bill Clinton foi condenado pela Câmara - onde os republicanos tinham
maioria - logrou escapar pela vitória no Senado.
No
que tange a Trump, já tem nas suas ilhargas um Conselheiro Especial, Robert
Mueller III, que foi designado por alto funcionário republicano do Departamento da Justiça, Rod Rosenstein.
Segundo consta, por ora o escopo precípuo da autoridade é de verificar
se houve obstrução de justiça. Por suas atitudes pouco prudentes, o Presidente
tem constituído um alvo convidativo para os funcionários encarregados de
determinar a eventual existência dessa obstrução. Ele terá solicitado a James
Comey, então diretor do FBI, que terminasse com o processo aberto contra
Michael Flynn, o Assessor de Segurança Nacional, que em pouco tempo terá
cometido uma série de faltas graves nesse sentido: fez discurso no Kremlin pelo
qual foi regiamente pago, sem solicitar autorização do governo americano.
Também representou a Turquia como agente estrangeiro, sem comunicar à
autoridade competente americana.
Donald
Trump, antes de assumir a presidência, para a qual foi eleito com alegada ajuda da Rússia, chefiava uma
milionária organização privada, herdada do pai, e estava habituado a decidir
sem maiores formalidades, sem carecer de consultar a ninguém. Ali mandava ele,
como mandara antes seu pai, e por isso ao ser eleito o 45º presidente, Donald
J. Trump terá pensado que poderia agir como aprendera com seu genitor. Sem adentrar a alegada participação da
Federação Russa na sua eleição - que o
amigo gospodin Vladimir Putin nega
enfaticamente - pode-se até entender essa peculiaridade de Mr
Trump, mas semelha muito dificil engolir, que nenhum assessor o terá avisado de
que, se agisse como no seu terreiro particular, teria problemas sérios...
( Fonte: Evan Osnos, New Yorker: Endgames )
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