sexta-feira, 16 de junho de 2017

O destino de Trump

                               

      Chovem as insinuações, que repontam por toda parte, mas não leio em canto algum, e muito menos nas colunas dos jornalões que Donald  J. Trump caminha com passo estugado por sinuosa e inclinada vereda que sinaliza para os infelizes que nela avançam quão próximo está o perigo do impeachment.
       São poucos os temerários  que adentram esse caminho maldito. E no cenário dessa pairante desgraça se vê fervilhar de advogados e da vasta grei que costuma andar a seu redor.      
       Não será por acaso que surgem os procuradores e os conselheiros especiais, se e quando as circunstâncias favoreçam o seu trabalho, que é feito de paciência, argúcia e o firme olhar do caçador que a presa não larga, por maior que seja, pois se trata de gente corajosa, que o perigo não enjeita, quando discerne a ambígua atração de um passo equivocado, que pode desvelar a oportunidade inesperada de um exposto flanco.
       É faina aborrecida,  que pouco tem a ver com a violência do matador, ao entrever o terrível desafio de um touro enfurecido pelas banderilhas. Mais cruentas e temíveis serão as lanças dos picadores, que arremetem contra a besta cercada, a ponto de levantar a cólera do público, que anseia por longo e sofrido combate, e não o brutal dessangramento da vítima da vez.
        Nos tempos modernos,  dois presidentes enfrentaram o desafio do impeachment. Richard Nixon preferiu a renúncia,  quando as sortes, na prática, estavam lançadas, o seu afastamento da presidência já se configu-rava inequívocamente. Por sua vez, Bill Clinton logrou superar o ataque do impiedoso Ken Starr.
         Quanto a Donald Trump, nenhum outro presidente  dos tempos modernos parece tão próximo de cair no infernal mecanismo do impeachment.  Se Bill Clinton foi condenado pela Câmara - onde os republicanos tinham maioria - logrou escapar pela vitória no Senado.
         No que tange a Trump, já tem nas suas ilhargas um Conselheiro Especial, Robert Mueller III, que foi designado por alto funcionário republicano  do Departamento da Justiça, Rod Rosenstein.
         Segundo consta, por ora o escopo precípuo da autoridade é de verificar se houve obstrução de justiça. Por suas atitudes pouco prudentes, o Presidente tem constituído um alvo convidativo para os funcionários encarregados de determinar a eventual existência dessa obstrução. Ele terá solicitado a James Comey, então diretor do FBI, que terminasse com o processo aberto contra Michael Flynn, o Assessor de Segurança Nacional, que em pouco tempo terá cometido uma série de faltas graves nesse sentido: fez discurso no Kremlin pelo qual foi regiamente pago, sem solicitar autorização do governo americano. Também representou a Turquia como agente estrangeiro, sem comunicar à autoridade competente americana.
          Donald Trump, antes de assumir a presidência, para a qual foi eleito  com alegada ajuda da Rússia, chefiava uma milionária organização privada, herdada do pai, e estava habituado a decidir sem maiores formalidades, sem carecer de consultar a ninguém. Ali mandava ele, como mandara antes seu pai, e por isso ao ser eleito o 45º presidente, Donald J. Trump terá pensado que poderia agir como aprendera com seu genitor.  Sem adentrar a alegada participação da Federação Russa na sua eleição  - que o amigo gospodin Vladimir Putin nega enfaticamente  -  pode-se até entender essa peculiaridade de Mr Trump, mas semelha muito dificil engolir, que nenhum assessor o terá avisado de que, se agisse como no seu terreiro particular, teria problemas sérios...


( Fonte: Evan Osnos, New Yorker: Endgames  )       

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