quinta-feira, 8 de junho de 2017

O Depoimento de Comey

                              

       Hoje, oito de junho, o ex-diretor do FBI, James B. Comey, cujo nome goza de alto nível de conhecimento público nos Estados Unidos, em grande parte por seu polêmico papel  no caso do exame pelo Federal Bureau of Investigations da Secretária Hillary Clinton no que concerne ao seu uso, enquanto Secretária de Estado, de terminal privado de computador para ocupar-se dos assuntos oficiais relativos às suas respectivas funções, enquanto ocupante da chefia do Departamento de Estado.
        Se James Comey já tinha renome pela coragem funcional demonstrada na defesa da democracia, na presidência de George W Bush, foi tendo presente essa integridade no exercício das respectivas atribuições que o presidente Barack Obama o convidara para ser Diretor do FBI, a despeito de estar registrado como republicano.

       Não me estenderei acerca de sua atitude, não só quanto ao exame dos papéis da Secretária Hillary, em que a sua atuação não correspondeu à sua fama pregressa, que motivara o convite do democrata Obama ao republicano Comey, mas ao papel equívoco do seu exame da matéria do dito servidor privado da Secretaria Hillary, em que não atentara,  tanto para a necessária discrição na matéria,  quanto - e sobretudo - nas dúbias referências, no período eleitoral do voto antecipado, em que pecou por falta de discernimento (além de não atender às prudentes e sábias injunções  do Departamento de Justiça, a que estava subordinado),  com o que causaria grande prejuízo à votação da democrata, antes havida como grande favorita.
          Ao assumir a presidência,  Donald Trump, além de confirmá-lo no cargo, tratou de chamá-lo à Casa Branca, onde o teria constrangido com pedido que o Primeiro Mandatário não é suposto fazer: encareceu no sentido de que encerrasse o processo contra o ex-secretário de Segurança Nacional, o general Michael Flynn.

          Outras solicitações do gênero se terão sucedido, a que o chefe do FBI se via constrangido a recusar. Em consequência, o presidente acabou por demitir Comey. Irritado pela maneira com que fora tratado, e cioso de que tinha um nome a defender, o ex-diretor do FBI (nomeado por democrata, mas demitido por um republicano) resolveu reagir dentro de maneira consueta com as usanças de Washington: trazer o diferendo a público, de preferência em sessão do comitê no Congresso. 
            Dada a própria fama, a que a sua desastrada intervenção no caso de Hillary Clinton terá dado uma diferente conotação, não foi surpresa  que a atenção do povo americano - a sessão da Comissão do Senado foi televisada - lhe concedera o galardão em geral atribuído às celebridades.
             Trump pensa que a presidência da república lhe oferece oportunidades similares àquelas de que desfrutava enquanto herdeiro do próprio pai na chefia absoluta das organizações Trump. Começou talvez hoje - e ministrado pelo seu ex-subordinado James B. Comey - o curso de aprendizado de o que pode e o que não pode fazer o presidente da república na democracia americana.

             Interessante artigo, publicado na revista The New Yorker, de autoria de Evan Osnos[1], se ocupa de o que pode ocorrer com o 45º presidente, dados o seu temperamento e ignorância das praxes do governo americano. Além de exonerar com uma canetada o seu chefe (por ele convidado) do poderoso FBI, não terá tido presente que os seus antecessores na presidência  nunca evidenciaram - e por manifestas razões - a tendência de demitir sem mais nem menos um chefe do Federal Bureau of Investigations, de que o nume tutelar é John Edgar Hoover, que, além de fundador do FBI, morreu no cargo.

                Trump, consoante referiu Comey, procurava saber  de detalhes dos processos de investigação do FBI, que são confidenciais. Segundo a prática americana, essa confidencialidade se estende ao próprio presidente. Quando Trump o recebia na Casa Branca, ele parecia confundir Comey como se fora mero empregado seu, e não responsável por muitos segredos oficiais. Eis relação de trabalho que não tinha possibilidade de prosperar: Trump pensava que podia tratar o diretor do FBI como se fora um empregado seu; por sua vez, dentro do modelo hooveriano, Comey cuidava de preservar o próprio serviço, bastante cioso dos respectivos segredos a preservar.
                   Ao alijar mais este auxiliar, o presidente criou outra sólida inimizade, que sendo conhecida figura em Washington e, depois das confusões aprontadas a Hillary, poderá doravante colocar mais pedras no caminho presidencial.
                    Por outro lado, causaram espécie as perguntas colocadas pelo Senador John McCain, que, apesar de sua formulação um tanto confusa, transmitiram alguma hostilidade à testemunha. Será que agora McCain, depois de sofrer tratamento grosseiro desde a campanha pelo então candidato Trump, pensa arvorar-se em defensor dos privilégios do presidente Trump?    
                      De qualquer forma, é muito provável que James Comey se associe, ainda que informalmente, ao Assessor Especial Robert Mueller, para cuidar das estranhas relações com a Rússia, e de sua eventual influência na eleição presidencial.

(fontes:  the new yorker, may 8, 2017, The Washington post)



[1] "A Cena Política - Jogos Terminais - O que seria necessário para por fim à Presidência Trump ?", de  Evan Osnos, The New Yorker.

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