Hoje,
oito de junho, o ex-diretor do FBI, James B. Comey, cujo nome goza de alto
nível de conhecimento público nos Estados Unidos, em grande parte por seu
polêmico papel no caso do exame pelo Federal Bureau of Investigations da Secretária Hillary Clinton no que concerne ao seu
uso, enquanto Secretária de Estado, de terminal privado de computador para
ocupar-se dos assuntos oficiais relativos às suas respectivas funções,
enquanto ocupante da chefia do Departamento de Estado.
Se
James Comey já tinha renome pela coragem funcional demonstrada na defesa da
democracia, na presidência de George W Bush, foi tendo presente essa
integridade no exercício das respectivas atribuições que o presidente Barack
Obama o convidara para ser Diretor do FBI, a despeito de estar registrado como
republicano.
Não me
estenderei acerca de sua atitude, não só quanto ao exame dos papéis da
Secretária Hillary, em que a sua atuação não correspondeu à sua fama pregressa,
que motivara o convite do democrata Obama ao republicano Comey, mas ao papel
equívoco do seu exame da matéria do dito servidor privado da Secretaria
Hillary, em que não atentara, tanto para
a necessária discrição na matéria,
quanto - e sobretudo - nas dúbias referências, no período eleitoral do
voto antecipado, em que pecou por falta de discernimento (além de não atender
às prudentes e sábias injunções do
Departamento de Justiça, a que estava subordinado), com o que causaria grande prejuízo à votação
da democrata, antes havida como grande favorita.
Ao
assumir a presidência, Donald Trump,
além de confirmá-lo no cargo, tratou de chamá-lo à Casa Branca, onde o teria
constrangido com pedido que o Primeiro Mandatário não é suposto fazer:
encareceu no sentido de que encerrasse o processo contra o ex-secretário de
Segurança Nacional, o general Michael Flynn.
Outras
solicitações do gênero se terão sucedido, a que o chefe do FBI se via
constrangido a recusar. Em consequência, o presidente acabou por demitir Comey.
Irritado pela maneira com que fora tratado, e cioso de que tinha um nome a
defender, o ex-diretor do FBI (nomeado por democrata, mas demitido por um
republicano) resolveu reagir dentro de maneira consueta com as usanças de
Washington: trazer o diferendo a público, de preferência em sessão do comitê no
Congresso.
Dada a própria fama, a que a sua desastrada intervenção no caso de
Hillary Clinton terá dado uma diferente conotação, não foi surpresa que a atenção do povo americano - a sessão da
Comissão do Senado foi televisada - lhe concedera o galardão em geral
atribuído às celebridades.
Trump pensa que a presidência da república lhe oferece oportunidades
similares àquelas de que desfrutava enquanto herdeiro do próprio pai na chefia
absoluta das organizações Trump. Começou talvez hoje - e ministrado pelo seu
ex-subordinado James B. Comey - o curso de aprendizado de o que pode e o que
não pode fazer o presidente da
república na democracia americana.
Interessante artigo, publicado na revista The New Yorker, de autoria de Evan Osnos[1],
se ocupa de o que pode ocorrer com o 45º presidente, dados o seu temperamento e
ignorância das praxes do governo americano. Além de exonerar com uma canetada o
seu chefe (por ele convidado) do poderoso FBI, não terá tido presente que os
seus antecessores na presidência nunca
evidenciaram - e por manifestas razões - a tendência de demitir sem mais nem
menos um chefe do Federal Bureau of Investigations, de que o nume tutelar é John Edgar Hoover, que, além de fundador
do FBI, morreu no cargo.
Trump, consoante referiu Comey, procurava saber de detalhes dos processos de investigação do
FBI, que são confidenciais. Segundo a
prática americana, essa confidencialidade se estende ao próprio presidente.
Quando Trump o recebia na Casa Branca, ele parecia confundir Comey como se fora mero empregado seu, e não responsável por muitos segredos oficiais. Eis relação de
trabalho que não tinha possibilidade de prosperar: Trump pensava que podia
tratar o diretor do FBI como se fora um empregado seu; por sua vez, dentro do
modelo hooveriano, Comey cuidava de
preservar o próprio serviço, bastante cioso dos respectivos segredos a
preservar.
Ao alijar mais este auxiliar, o presidente criou outra sólida inimizade,
que sendo conhecida figura em Washington e, depois das confusões aprontadas a
Hillary, poderá doravante colocar mais pedras no caminho presidencial.
Por outro lado, causaram espécie as perguntas colocadas pelo Senador John
McCain, que, apesar de sua formulação um tanto confusa, transmitiram alguma
hostilidade à testemunha. Será que agora McCain, depois de sofrer tratamento
grosseiro desde a campanha pelo então candidato Trump, pensa arvorar-se em defensor
dos privilégios do presidente Trump?
De qualquer forma, é muito provável que James Comey se associe, ainda
que informalmente, ao Assessor Especial Robert Mueller, para cuidar das
estranhas relações com a Rússia, e de sua eventual influência na eleição
presidencial.
(fontes: the new yorker, may 8, 2017, The Washington post)
[1]
"A Cena Política - Jogos Terminais - O que seria necessário para por fim à
Presidência Trump ?", de Evan
Osnos, The New Yorker.
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