Por demasiado tempo, a O E A se abstém
de rotular o regime venezuelano de ditadura. Enquanto isso, as forças militares que o
Governo Maduro emprega para combater os protestos e as manifestações populares
utilizam armas mortíferas.
Demonstrar contra o regime Maduro constitui,
no entendimento das forças militares que o apóiam, um ato perigoso e passível de
pena de morte.
Não será David Jose Vallenilla, de 22
anos, o primeiro manifestante a cair fulminado pelas balas assassinas das
tropas repressoras. O pai de Vallenilla, que foi chefe do motorista de ônibus
Nicolás Maduro, assim se dirigiu ao atual presidente: "Nicolás, você conheceu
meu filho, quando ele era criança."
Desde muito a Venezuela deixou de ser
uma democracia. E, no entanto, continua a ser tratada como tal, no seio da
Organização dos Estados Americanos.
Não será pela hipocrisia que a OEA preserva a democracia em país onde o
direito de demonstrar oposição a um regime sanguinário é passível de pena de
morte, administrada de modo fulminante por uma guarda pretoriana, para quem
todo manifestante representa grave perigo para a ordem estabelecida, e por isso
deve morrer?
A OEA poderia, decerto, utilizar o
avestruz como símbolo de sua postura de fingir que a Venezuela de Maduro
continua a ser democracia. O próprio presidente, horas antes da invasão do apartamento
no bairro de Altamira, gritou pela televisão, que haveria uma operação em um
"local clandestino" onde estariam ocorrendo encontros
"subversivos".
Em entrevista à imprensa a corajosa
líder opositora Maria Corina Machado - que disse ter sido agredida na invasão -
qualificou a operação de "um
sequestro de cidadãos em sua própria residência, atitude própria de uma
ditadura." E continuou ela: "por volta das vinte horas, ficamos
sabendo que havia uma operação de busca em uma residência em Altamira. Descobrimos
que se tratava da casa de Aristides Moreno, onde vários membros de diferentes
partidos da Unidade (oposição) haviam
feito algumas reuniões nos últimos dias
para coordenar as ações em favor da democracia".
Continuando em seu relato, Maria Corina
reportou que foi com um grupo de opositores ao local. "Ficamos diante de
uma barreira de funcionários do Sebin (serviço secreto), que eram mais de
cinquenta com vários veículos. Ao nos aproximarmos, pudemos ver que estavam
levando detidos o sr. Aristides Moreno e Roberto Picón, o diretor técnico da
MUD".
Até ontem à noite, o paradeiro dos
dois era desconhecido.
Desde o início de abril, protestos vem
ocorrendo diuturnamente em diversas cidades da Venezuela. Dentro da legalidade ditatorial, entrou em
ação o Judiciário - que é ligado ao chavismo - e reduziu (sic) a competência da
Assembleia Nacional, por essa haver passado ao controle da Oposição.
No relato de Maria Corina, se vê o
caráter ditatorial dos órgãos instrumentalizados pelo regime de Maduro. Assim,
para Corina "os líderes dos partidos democráticos estão exercendo o
direito à reunião, que é um direito constitucional e um direito humano (sic). Na Venezuela - sempre de acordo
com Maria Corina - as garantias não foram suspensas, portanto temos pleno
direito a nos reunir como dirigentes de diferentes partidos políticos.
É de assinalar-se o tom defensivo
adotado pela deputada Maria Corina. Não há, contrario sensu, indicação mais
forte da índole autoritária e golpista do governo Maduro, e também da relativa fraqueza da oposição.
Por outro lado, o Sebin (serviço secreto do
governo Maduro) prendeu em bairro próximo quinze jovens que organizavam
protestos contra o regime para a manhã
do dia seguinte. Três desses jovens
foram detidos na invasão de apartamento no bairro de Los Palos e mais outros
doze em uma praça próxima, onde
armazenavam alimentos e remédios (material decerto subversivo na Venezuela da
escassez da atualidade), os quais seriam distribuídos nos protestos do dia
seguinte.
Enquanto a OEA continuar na sua
política de maneirosos protestos, fingindo que a Venezuela de Maduro não é ditadura, nem some com opositores, como é o caso de Leopoldo López, torturado e
detido em uma cadeia de criminosos comuns, o combate a esse narco-regime será
fraco e em nada tenderá a criar condições para que o processo do recall seja ativado - de forma a pôr fim
a essa ditadura criminosa e corrupta.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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