domingo, 18 de junho de 2017

O enigma Trump

                                              

       A Administração Trump, ao acercar-se de seus primeiros seis meses, continua a ser pródiga mais em notícias negativas, do que em visão  otimista  e criativa para o futuro.  
       Tudo que começa mal, poderá aspirar a ter um porvir melhor?
       Ao tomar posse do governo americano em vinte de janeiro de 2017, dentre as suas primeiras iniciativas estavam as medidas para barrar a entrada no país de estrangeiros oriundos de diversos países árabes.
        A reação da Justiça estadunidense, no entanto, deu a esse país uma outra resposta, mais consentânea com Povo e  democracia americana.

        Embora Trump a tenha demitido, Sally Yates, na sua qualidade de Attorney General interina, o enfrentou, e agindo dessarte mostrou a própria grandeza dos Estados Unidos. Por julgar inconstitucional a determinação do novo presidente nos famigerados decretos-executivos, ela não hesitara em confrontar o Poder presidencial. Pouco depois de sua pronta exoneração, ela comparece ao Senado americano, para ser interrogada pelo Subcomitê judiciário. Diante dela surge o Senador Ted Cruz, republicano do Texas, que a interroga: "está acaso familiarizada com a oitava USC, seção 1182 ?" A democrata Sally responde: " Assim de pronto, não."  Continua então Cruz: "É a autoridade estatutária compulsória para o decreto presidencial que a senhora se recusou a implementar, e que causou a sua destituição. Eis aí - certamente é relevante e não uma terrível e obscura determinação." Nesse sentido, Cruz leu uma parte da lei que investia o Presidente com a autoridade de "suspender a entrada de todos os estrangeiros ou de qualquer classe de alienígena  como imigrantes", e pensando ter dado o toque final no assunto, sorri satisfeito. No entanto, a testemunha declarou: "Sim! agora me recordo desse texto." E para surpresa do Senador Cruz, ajuntou: "Mas também  conheço  uma determinação suplementar da Lei do INA - da Imigração e Nacionalidade  'que também afirma   que ninguém pode ser discriminado contra na emissão do visto por causa de raça, nacionalidade ou lugar de nascimento', que eu acredito foi promulgada depois da legislação que o senhor acaba de citar." A par disso, a senhora Yates acrescentou que, além do texto da legislação, ela tinha que julgar se a ordem executiva de Trump violava a Constituição.   
           O video-clip da admirável resposta da Senhora Yates se tornou uma sensação na internet, pelo que representa da democracia americana. Escusado acrescentar que não mais foi visto, nem ouvido, na próxima ronda de perguntas o Senador pelo Texas, o republicano Ted Cruz.

           Além de abusar do aspecto negativo, a Administração Trump dá a impressão de ser vetusta, antiga. Pois não completou ainda seis meses de governo, e já tem nas suas ilhargas um Conselheiro especial, encarregado de julgar se houve interferência russa na sua eleição.
            A par disso, a sua maioria (republicana) já teria preparado em segredo, sem debate público ou qualquer outra medida, uma nova versão do ACA, vale dizer o chamado Obamacare, que vai ser apenas simulacro de legislação a ver com a saúde do povo americano, pois se tratará apenas da maneira mais expedita e rápida de pôr fim à principal iniciativa para à saúde do povo, com os enormes ganhos agora dos hospitais e planos sanitários, obviamente inacessíveis para as classes de menor renda.
             O viés negativo da Administração Trump se vê igualmente no ataque burocrático às relações com Cuba. Sem nada criar, o governo Trump avulta como respeitável destruidor das conquistas da Administração de Barack Obama.
             Já se verificara essa lamentável postura do governo Trump, com a preferência pelo repressivo burro, como foi a suposta reforma migratória do 45º presidente.
             Esqueceu-me a principal qualidade dessa triste figura que foi surpreendentemente eleita. E é a única que pode acenar com a esperança de que a superpotência se veja livre dessa estranha personalidade. Por seu temperamento e pelas mancheias de erros que comete, Donald John Trump pode ser que venha a contribuir para abreviar o próprio mandato, pelas suas canhestras iniciativas e declarações que têm feito proliferar o número de pessoas especializadas em julgar-lhe a atuação e respectiva conformidade com as leis e Constituição americana.
               Nos bodes expiatórios desta medíocre Administração, que enganar soube a tantos - como a promessa de acabar com o cinturão da ferrugem (promessa de reviver as empresas  e reempregar-lhe os operários que acreditaram nas suas palavras  de novas oportunidades para os desempregados pelo progresso ) -  só restará a palavra de cautela futura contra os demagogos desse gênero.

                Por fim, se as inúmeras investigações que a trajetória do 45º presidente terá afinal provocado, com o caveat[1] de que será substituído pelo  republicano Mike Pence, ex-governador de Indiana, que tem as qualidades habituais aos vice-presidentes, só restaria ao Povo americano chulear para que o retrospecto do vice habitual não se repita e se tenha pela frente presidente melhor do que o atual titular.


( Fontes: imprensa estadunidense, CNN )               



[1] Caveat é palavra latina, do verbo caveo. Se não me engano há em Pompeia um ladrilho com o desenho de um cachorrinho e a frase, a título humorístico, cave canem (cuidado com o cão). As línguas são tão vivas que até se alimentam de textos em latim...

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