Na CDU (União
Cristã Democrata) e no SPD (Partido Social Democrata) - crescem as dúvidas de
que vá persistir a aliança - a chamada grande coalizão - entre os cristãos
democratas e os sociais democratas. Há dois fatores que carecem de exame: a
próxima aposentadoria de Ângela Merkel (e quem irá sucedê-la) e o crescente
desconforto dos sociais democratas em exercerem um papel júnior dentro da
chamada grande coalizão.
Com a partida de
Ângela Merkel e a sua considerável experiência - e o decorrente peso político -
não há mais valores que se avantajem no que concerne ao outro parceiro da
coalizão. Tais lideranças não são feitas por decreto. Uma coisa é ceder, por
consenso, a presidência da aliança entre CDU e SPD, a um valor como a Merkel;
outra será reconhecer a precedência da representante da CDU, enquanto nova,
como se tal exigisse os termos precedentes que eram atribuídos à Merkel.
A SPD está cansada de ser o
parceiro júnior da coalizão. Por isso, a resposta da nova líder da CDU,
Annegret Kramp Karrenbauer - o acordo de coalizão com a SPD deve permanecer
intacto, ou os sociais democratas devem deixar o governo - é um prato que semelha bastante indigesto para
a liderança do SPD - Saskia Esken e Norbert Walter-Borjans.
A posição subalterna do SPD
- que poderia ser aceita pelos líderes anteriores, dada a autoridade política
da Merkel - se torna agora de mais difícil adequação. O próprio partido
social-democrata, ao escolher a dupla de centro-esquerda acima referida,
rejeitou o grupo rival, que incluía o vice-chanceler alemão, Olaf Scholz,
defensor ferrenho de uma coalizão com a
chanceler Ângela Merkel.
A SPD - berço de Willy Brandt e
outros expoentes da política alemã - encontra dificuldades com a nova liderança
da CDU, a par de como partido político afirmar-se na vanguarda, e, por
conseguinte, não ficar a reboque de líderes que não tem a projeção da Merkel e de outros grandes nomes da CDU no
passado.
Nesse contexto, Walter Borjans e
Esken são mais céticos , apesar de não defenderem por ora o rompimento com a
CDU. Eles desejam maior afirmação do respectivo papel na coalizão, e por isso
querem a renegociação de questões como o valor do salário mínimo, proteção
climática e investimentos, ainda que não esteja claro quão profundas sejam as
exigências sociais-democratas.
Assim, o Congresso da
SPD, que começou na sexta-feira, deverá mostrar o que exatamente querem os
sociais democratas para continuar na grande coalizão. E tal ocorre a cerca de
dois anos das próximas eleições na Alemanha. O foco da SPD tem sido a queda nas
pesquisas, que muitos atribuem ao fato de que o partido transcorreu dez dos
últimos catorze anos como um partido júnior na coalizão de governo.
Na hipótese de que os
sociais-democratas venham a decidir pela ruptura da aliança com a CDU, ainda
não está claro como a situação evoluirá.
O bloco de Ângela
Merkel poderia tentar com um governo minoritário, ou então partir para a
eleição antecipada. Com o crescimento da extrema direita e o enfraquecimento do partido aliado - a CSU -
as perspectivas não seriam das mais animadoras, ainda mais quando se tenha
presente a disposição de Angela Merkel de que este será o seu ultimo mandato...
( Fonte : O Estado de S. Paulo )
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