quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Editora apaga postagem pró- Hong Kong


                       
       Os protestos de Hong Kong, que os leitores têm podido acompanhar através da cobertura do blog, chegaram aos quadrinhos, conforme assinala reportagem da Folha, da quarta-feira, quatro de dezembro.
          A polêmica levantada se inspira na arte promocional do livro "Dark Knight Returns: The Golden Child", que reúne traços de um desenhista brasileiro, em que se mostra versão alternativa  de Batman prestes a arremessar um coquetel Molotov. Ao fundo, está escrito "the future is young".
           Nas redes sociais os comentários foram naturalmente relacionados com a realidades desses protestos e manifestações : assim, o coquetel molotov é a arma empregada pelos manifestantes; o traje preto com detalhes em amarelo da Batwoman seria uma alusão  às roupas dos ativistas da antiga colônia britânica;e o subtítulo da publicação - a criança dourada - uma alusão ao simbólico amarelo.
           Mas não ficam nisso apenas as conexões com o levante naquela cidade. Assim,a frase "the future is young" aponta ao principal slogan, escandeado pelos jovens manifestantes nas tortuosas ruas da velha Hong Kong: "libertem Hong Kong, a revolução do nosso tempo".
            A arte é do desenhista gaúcho Rafael Grampá: Você cria ficções baseadas na realidade, e depois a realidade se apropria do que você criou, é um vai e volta", disse o artista para a Folha, na primeira entrevista depois da repercussão. A esse respeito,ele nega ter pensado na questão política de Hong Kong em seu trabalho, que também aparece numa das capas da publicação.
             A postagem, que havia sido realizada no Instagram e no Twitter da DC Comics - ambas plataformas censuradas na China, mas liberadas em \Hong Kong - recebeu verdadeira enxurrada de comentários polarizados. Essa postagem foi deletada minutos depois, sem que a editora houvesse dado uma motivação oficial.
               Como a memória da internet e dos prints seria para alguns eterna, a arte viralizou. Veículos locais, como o jornal South China Morning Post, e internacionais, como Variety e The Guardian, a repercutiram.  Também o celebrado chinês Ai Weiwei, que se tem marcado por sua oposição a características do governo comunista chinês, também postou sobre o assunto.
                Igualmente, novas atualizações no perfil da editora são inundadas por comentários em referência à imagem deletada. E apesar de ser um grande lançamento no calendário da DC Comics, não há qualquer indício sobre a sua publicação nas redes sociais da editora, e isto há pelo menos um mês.
                 Na verdade, a polêmica se espalhou muito além dos circunscritos limites das chamadas redes sociais.Muros de  Hong Kong foram pichados com a icônica frase "the future is young", segundo o demonstram fotos do veículo independente pró-democracia  Hong Kong free press.
                  Desenhado por Grampá (autor de "Mesmo Delivery") e escrito por Frank Miller (Sin City, "300" entre outros) o livro de 48 páginas é uma continuação de "Cavaleiro das Trevas", um dos maiores clássicos dos anos oitenta.Com Batman, Miller foi um dos grandes responsáveis por abrir o quadrinho comercial americano a expressões autorais e adultas


                    Por sua vez, Batman é protagonista de outra HQ clássica da época."A Piada Mortal", de Alan Moore. E é do autor inglês "V de Vingança" que popularizou a máscara do soldado inglês Guy Fawkes (1570-1606), símbolo de manifestações em todo o mundo desde a adaptação cinematográfica, dirigida por James McTeigue, em 2005.
                     "A adoção da arte como um símbolo de protestos em Hong Kong mostra como as pessoas são carentes de símbolos", diz Grampá. "A imagem não foi criada para ser relacionada com a revolução, é uma interpretação deles."
                       Em realidade, ele afirma ter feito a arte em 2018 e que não estava pensando na situação conflituosa da China e Hong Kong. Sem publicar quadrinhos há seis anos, o artista diz ter passado o ano focado na criação de quadrinhos, sem acompanhar a convulsão política na região.
                        Segundo o quadrinista, o post da DC Comics teve um corte mal feito e seria deletado de qualquer maneira por aquele erro. A arte ocultou o nome dos autores e o título da obra, deixando a frase "the future is young" em ainda maior evidência. "Parecia uma declaração", diz Grampá, que afirma apoiar os manifestantes. Depois de toda a repercussão, ele postou a mesma versão apagada pela editora em seu Twitter.  A controvérsia é mais um desdobramento dos protestos que tomam as ruas da ex-colônia inglesa há meio ano.
                          Por mais que as reivindicações tenham apelo a valores globais, a calculadora fala mais alto. Os 1,3 bilhão  de potenciais consumidores chineses fazem as empresas ocidentais capitularem diante das vontades do Partido Comunista.
                           Apple e Google censuraram aplicativos que facilitavam a organização de protestos antigoverno. A produtora de games Activision Blizzard puniu um competidor do game "Hearthstone" que proferiu frases favoráveis a Hong Kong durante a transmissão de uma de suas competições.
                             Em reação a esse estado de coisas, o movimento pró-democracia adotou a personagem chinesa Mei, do jogo "Overwatch" da Blizzard, como outro símbolo.
                           A China é um mercado importante da Warner Bros., proprietária da DC. "Aquaman" dirigido por James Wan, foi o primeiro filme interconectado da DC (o chamado "universo expandido") a ter bilheteria de US$ 1 bilhão. Um quarto desse faturamento veio das salas de cinema chinesas.

(Transcrito da reportagem de João Varella, publicada pelo Folha de S. Paulo, com pequenas alterações) oHoH H           H

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