A interferência da
Turquia na guerra civil da Libia tem aumentado a tensão no Mediterrâneo
oriental. Ontem, o presidente Recep Tayyip Erdogan prometeu enviar
ajuda militar ao governo líbio que resiste em Trípoli ao avanço de forças
rebeldes islâmicas apoiadas pela Rússia.
Com a morte do ex-ditador Muammar
Kadafi, em 2011, acirrou-se a luta na Líbia pelo que restava do antigo estado
líbico.Em Trípoli, está o Governo de União Nacional. Liderado pelo primeiro
ministro Fayez Sarraj, o GNA tem o apoio das Nações Unidas, Estados Unidos,
União Europeia e da maior parte da comunidade internacional, incluindo a
Turquia.
Do lado oposto, ocupando a maior
parte do território líbico e, sobretudo, os principais campos de petróleo, está
o Exército de Libertação Nacional (LNA), comandado pelo general Khalifa Haftar,
que tem o apoio da Rússia e de alguns países árabes, como o Egito e os
Emirados.
Como se assinala, no entanto, a
tensão na Líbia tem relação com a exploração de gás natural nas águas do
Mediterrâneo Oriental. Nesse sentido, o governo Erdogan publicou, na marra, mapa que amplia seu espaço
marítimo e sua zona econômica exclusiva, ignorando direitos de Chipre, Israel e
Grécia.
Parte do "novo mar territorial
turco" foi negociado em acordo fechado com o governo do GNA, em Trípoli,em novembro. Com parte desse cambalacho internacional, o
"tratado" foi levado a quinze do corrente para o Parlamento
turco, para ai supostamente ser
"analisado".
Essa diplomacia "agressiva" - to say the least - da Turquia
ressuscitou, por assim dizer, a velha rivalidade com a Grécia. No dia seis, o
governo helênico expulsou o embaixador turco e afirmou que o acordo assinado
com o GNA é uma "flagrante violação do direito internacional". Nesse
sentido, o chanceler grego, Nikos Dendias declarou que "o acordo foi
negociado de má-fé".
Escusado referir que por serem
ambos membros da OTAN, Grécia e Turquia colocam mais uma crise para a Organização,
e um sério desafio a ser tratado com presteza.
Em outro episódio de
desregramento e de falta de respeito com as normas do Direito internacional, a
marinha turca interceptou e expulsou um navio israelense nas águas
cipriotas.
A embarcação em causa, da Instituição de pesquisa oceanográfica e
limnológica de Israel, realizava pesquisas na região, em conjunto com
autoridades cipriotas.
Pelo visto, o fato de não haver uma autoridade maior que
se alevante para coibir esses arremedos imperialistas de um país que parece
prevalecer-se da falta de uma autoridade maior naquelas bandas - no caso a própria
OTAN, respaldada por algum representante de Estado que ora não tivesse de lutar pela
própria sobrevivência política, tem
criado oportunidades para esses shows de
independência da marinha de Erdogan.
A própria declaração do
presidente turco Erdogan, é confirmação dessa sua estranha ousadia com prazo
certo de assunção: "Outros atores internacionais não podem realizar
operações de exploração nessas áreas, sem o consentimento da Turquia. Chipre, Egito, Grécia e Israel não podem
estabelecer uma linha de transmissão de gás sem antes obter a permissão da
Turquia (sic)", afirmou o Presidente Erdogan. Só basta um olé! para pontuar melhor essa
patética cena de assunção de um poder de arbítrio, que se afigura, no caso e
dadas as circunstâncias, no mínimo deveras discutível.
( Fonte: O Estado de S. Paulo)
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