sábado, 28 de dezembro de 2019

O falso Dilema Amazônico


                           
        O editorial de hoje do Estado de S. Paulo toca em uma distinção importante a ser feita e que se reporta a editoriais ditos de fim de ano, do New York Times  e do Financial Times, grandes e importantes jornais de Nova York e de Londres.

          Segundo o jornal paulista, as matérias em tela ilustram dois fenômenos opostos que não se excluem, ao contrário se retroalimentam."Por um lado, a imprudência (sic) do presidente Jair Bolsonaro em relação às preocupações ambientais que, oscilando entre a indiferença e a hostilidade, está não só estimulando infrações, como arruinando a imagem do País junto à opinião pública internacional. Por outro lado, a extrema suscetibilidade desta opinião."

           Dado esse contexto, o editorial do Estadão sinaliza tópicos que me parecem de grande relevância, e que, por conseguinte, carecem da atenção de todos os brasileiros (meu o grifo): " comparativamente, o País tem índices respeitáveis de proteção ambiental. Na Amazônia, a lei determina que 80% das propriedades devem ser preservadas. Além disso, as terras indígenas e unidades de conservação correspondem a 24,2% do território nacional. Tudo somado, mais de 66% do território é de vegetação nativa. A lavoura ocupa 7,6% das terras brasileiras. No Reino Unido, por exemplo, são 63,9% e na Alemanha, 56,9%. Ainda assim, o Brasil é o segundo maior exportador agro-pecuário do mundo, em vias de se tornar o maior. Nas últimas duas décadas, a área plantada cresceu apenas 30%, mas a produção de grãos dobrou.
              "Conquistas como estas, que colocam o Brasil na vanguarda ambiental e agrícola, têm sido obnubiladas, contudo, por um excesso de insensibilidade - por parte do governo brasileiro - aliado a um excesso de sensibilidade - por parte da opinião pública internacional.
                "O retrocesso na preservação da floresta em 2019 é irrefutável.  O desmatamento aumentou quase 30%, e justamente nas áreas federais protegidas cresceu, entre agosto de 2018 e julho de 2019, 84%. Enquanto isso, entre janeiro e setembro, as autuações por crimes florestais caíram, em comparação com o mesmo período de 2018, 40%. Mas, por mais preocupantes e reprováveis que sejam esses números para o governo, é preciso considerar que, historicamente, o País vem reduzindo consistentemente o desmatamento. Entre 2002 e 2004, por exemplo, a média anual de área desmatada foi de 24,6 mil km2. Desde 2009, contudo, a média está na casa de 6,4 mil km2."

                   A seguir, o editorial, perseguindo na sua linha de pretensa equipolência, ora se aventura em outras áreas: "O desmatamento da Amazônia é grave e deve ser combatido com rigor. Mas se é insensatez ser cético em relação às mudanças climáticas, é ainda mais não ser cético  em relação ao seu uso demagógico. A preservação da Amazônia é um capital importante. Quando,por exemplo, o presidente francês Emmanuel Macron se vale de uma imagem sentimental como "nossa casa em chamas" para insinuar uma intervenção internacional ou o bloqueio do livre comércio, ele não só capitaliza votos com os jovens ambientalistas à esquerda, mas com os velhos agro-industriais à direita.
                   "Vale lembrar que 80% do bioma amazônico no Brasil está preservado. Além disso, por mais dolorosas que sejam as imagens das queimadas e por maior que seja o seu efeito sobre o regime das chuvas, em termos de impacto ambiental não há comparação com as toneladas de gases tóxicos  lançados na atmosfera pelos maiores poluidores do mundo: China, Estados Unidos, India e Rússia. Apesar disso, é o Brasil que, em 2019, fica com a fama de facínora ambiental planetário, sendo ameaçado de boicote por governos e empresas.
                   "Nada disso escusa a falta de políticas ambientais de Bolsonaro. Em certa medida, ainda mais reprovável é a sua logorreia anti-ambientalista - contra ONGs, popstars, chefes de estado, bispos católicos -, justamente porque inflama artificialmente, a troco de nada, a opinião internacional, cobrindo com espessas nuvens as virtudes ambientais  do País, e ameaçando o seu dínamo econômico: a agropecuária."

(Fonte: O Estado de S. Paulo)

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