È de notar-se, porém, que a badalada delação do
ex-governador Sérgio Cabral acima referida nunca chegou a convencer a
força-tarefa da Lava Jato. Para os Procuradores da República as supostas
revelações espontâneas de Cabral na verdade eram seletivas, pois escondiam
dados essenciais a respeito da dinâmica
de sua organização criminosa, e pelo conotavam tinham como único escopo
tumultuar o processo legal e abrir caminho para a saída da prisão após três
anos.
Nesse
contexto, o acordo de delação com a P.F. aumentaria as suspeitas da
força-tarefa. Dessarte, para os Procuradores da República que tiveram acesso ao
citado conteúdo, na verdade as supostas revelações acrescentam muito pouco ao
que já é do conhecimento, além de não apresentarem provas de corroboração e
omitirem fatos como a participação da ex-primeira dama Adriana Ancelmo na
organização. Para tornar a fonte da informação menos segura, a força-tarefa se
surpreendeu ao tomar ciência que esse acordo foi firmado com delegados federais
de Brasília, que nunca tiveram participação nas investigações sobre o esquema
Cabral.
Sem
embargo, os doleiros Vinicius Claret, o Juca Bala, e Cláudio Barboza, o Tony,
personagens centrais da investigação por terem ajudado Cabral a esconder US$
100 milhões no Uruguai, por exemplo, não foram sequer procurados pelos delegados do acordo.
Desde que a força-tarefa foi montada no Rio, no primeiro semestre de
2016, nunca houve efetivo entrosamento entre o MPF e a P.F., no que tange às
investigações. A rigor, praticamente toda a apuração foi conduzida pelos
procuradores da Republica, cabendo aos delegados e agentes federais a execução
de medidas cautelares de prisão e de busca e apreensão. Como o acordo revelado
ontem, a dis- tância entre os dois órgãos tende a ampliar-se.
Integrantes da Força-tarefa do MPF pretendem empenhar-se pessoalmente no convencimento do ministro
Edson Fachin, relator do caso no STF a não homologar a delação. Para tanto, já
contam com o apoio do PGR Augusto Aras,
que se convenceu de que a delação é nula. Para isso, os procuradores da República
elencaram lista de perguntas que, ao
longo dos três anos da prisão de Cabral, ficaram até hoje sem resposta.
A par disso, a força-tarefa alertou ainda que mesmo as informações
provenientes da confissão voluntária do ex-governador foram recebidas com
reserva e, por isso, são pouco usadas nos desdobramentos das
investigações. A razão por trás dessa
cautela está no temor que as confissões do ex-governador maculem os inquéritos.
A par disso, a força-tarefa lembrou a Augusto Aras que Cabral nunca devolveu os
valores desviados.
Assim como o ex-presidente da Câmara
dos Deputados Eduardo Cunha, a delação de Cabral esbarra na idéia cristalizada
no MPF de que não é negócio trocar o certo pelo duvidoso. Na visão dos procuradores, a prisão de ambos
representa um triunfo na luta contra a impunidade. Mesmo não sendo homologado
pelo ministro Fachin, o acordo negociado significa agora um risco à estratégia.
Os procuradores temem que o Judiciário passe a enxergar Sérgio Cabral como uma
espécie de réu-colaborador, cessando assim, em tese, as razões da prisão
preventiva.
(
Fonte: O Globo )
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